Medicamento para EM promissor como nova terapia para Alzheimer
Um estudo inovador realizado por investigadores da Universidade de Kentucky permitiu descobrir que o ponesimod, um medicamento já aprovado pela FDA para o tratamento da esclerose múltipla (EM), tem potencial para o tratamento da doença de Alzheimer – uma patologia neurológica progressiva e irreversível, que afeta a função cognitiva, a memória e o comportamento.
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Durante a investigação, publicada na revista científica eBioMedicine, os especialistas estudaram o ponesimod, comercializado sob o nome Ponvory, para o tratamento de formas recorrentes de EM, tendo concluído que pode reduzir uma das características da doença de Alzheimer: a neuroinflamação.
Segundo Erhard Bieberich, da Faculdade de Medicina do Reino Unido, o medicamento reduz a inflamação no cérebro, visando um receptor específico no sistema imunológico para ajudar a regular a resposta do corpo e evitar que ataque o sistema nervoso central. Este receptor é ativado por um lípido denominado esfingosina-1-fosfato, cuja função é estudada pelo laboratório Bieberich.
Este estudo foi o primeiro a mostrar que o ponesimod é eficaz num modelo de rato para a doença de Alzheimer. E uma vez que o medicamento já está a ser utilizado clinicamente para o tratamento da EM recidivante, está imediatamente disponível para ser utilizado também no tratamento da doença de Alzheimer.
Os investigadores do Reino Unido concentraram-se num tipo específico de célula encontrada no sistema nervoso central, denominada microglia. As células têm diversas funções no nosso corpo, incluindo a regulação de respostas inflamatórias no sistema nervoso central – o cérebro e a medula espinhal.
A microglia disfuncional está ligada a doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer porque essas células ajudam a eliminar a acumulação de depósitos anormais de proteínas no cérebro – uma característica distinta da doença. Essas acumulações interrompem a comunicação entre as células nervosas do cérebro e eventualmente morrem. A eliminação dessas proteínas é um alvo importante na terapia da doença de Alzheimer.
Durante a investigação, os especialistas reprogramaram a microglia em células protetoras de neurónios que limpam proteínas tóxicas no cérebro, reduzem a patologia neuroinflamatória do Alzheimer e melhoram a memória no modelo de ratinho.
Como parte do projeto, foram estudados ratinhos com estirpes genéticas específicas que expressam as principais características da doença de Alzheimer nos seus cérebros. Metade dos ratinhos foi tratada com ponesimod, tendo-lhes sido medida a atividade celular específica no cérebro. Foi ainda testada a memória espacial dos animais através de um teste de comportamento em labirinto.
Os testes revelaram que o ponesimod resgata a atenção e a memória de trabalho em ratinhos com doença de Alzheimer avançada.
Os especialistas também obtiveram amostras de cérebros humanos para estudar. Os dados recolhidos nesses testes foram consistentes e indicaram igualmente que o ponesimod pode ser usado como terapia para a doença de Alzheimer.
Para Bieberich este estudo revela fortes evidências experimentais de que o ponesimod pode ser um medicamento terapêutico, que não só reduz a neuroinflamação, mas também aumenta a depuração de proteínas neurotóxicas no cérebro nos estágios médio e tardio da doença de Alzheimer.