Colite ulcerativa: novo medicamento duplica taxas de remissão
Estima-se que em todo o mundo milhões de pessoas vivam com colite ulcerativa, uma condição cuja prevalência tem vindo a aumentar. O facto realça a grande necessidade de tratamentos seguros e eficazes contra esta doença inflamatória do intestino.
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Os pacientes apresentam diarreia sanguinolenta, dor abdominal, anemia e fadiga. Muitos têm uma qualidade de vida prejudicada e os tratamentos atuais nem sempre controlam a doença, o que torna necessário submeterem-se a uma cirurgia (colectomia) com estoma ou de construir uma bolsa. Esta inflamação crónica do cólon está ainda associada a um risco aumentado de cancro.
Um estudo, recentemente publicado no New England Journal of Medicine, descobriu que um novo medicamento é eficaz no tratamento da colite ulcerativa. O ensaio clínico revelou uma duplicação das taxas de remissão, até 50%, em determinados grupos de doentes.
Os investigadores identificaram a interleucina-23 como uma proteína muito importante no desencadeamento e manutenção da inflamação intestinal, tanto na doença de Crohn quanto na colite ulcerativa e na psoríase. Anteriormente, demonstrou-se que o bloqueio da interleucina-23 com anticorpos terapêuticos específicos é altamente eficaz em doentes com psoríase e doença de Crohn. O Mirikizumab é o primeiro desses anticorpos a ser testado para a colite ulcerativa.
Nos últimos anos, uma grande equipa de investigadores de todo o mundo realizou dois ensaios clínicos de Fase 3 para avaliar a segurança e a eficácia do mirikizumab em 1.281 pacientes adultos com colite ulcerosa com inflamação moderada a grave. Para comparação, um “grupo de controle” de pacientes com colite ulcerativa comparável não foi tratado com mirikizumab, mas com um placebo.
No primeiro estudo, LUCENT-1, os participantes receberam 300 mg de mirikizumab ou um placebo (na proporção de 3:1) por infusão a cada quatro semanas durante 12 semanas no total. Se responderam ao mirikizumab nessas 12 semanas (544 de 1.281 pacientes), continuaram no estudo LUCENT-2, onde receberam 200 mg de mirikizumab ou o placebo (na proporção de 2:1) através de uma injeção a cada quatro semanas durante 40 semanas adicionais.
Os especialistas constataram que os pacientes tratados com o mirikizumab tiveram maior probabilidade de atingir a remissão clínica no final do LUCENT-1 e do LUCENT-2 do que os pacientes tratados com o placebo (LUCENT-1 24,2% versus 13,3% e LUCENT-2 49,9% versus 25,1%).
Os pacientes que receberam o mirikizumab apresentaram ainda maior resposta clínica, remissão endoscópica e menor urgência evacuatória. Curiosamente, o tratamento com o mirikizumab pareceu muito seguro. Os eventos adversos não foram mais comuns com o mirikizumab do que com o tratamento com placebo.
Segundo Geert D'Haens, principal autor do estudo, se se combinarem os resultados verifica-se que o mirikizumab é um medicamento eficaz para pacientes com formas moderadamente graves e graves de colite ulcerativa, pelo que os especialistas esperam que esteja disponível como opção de tratamento na Europa ainda este ano.