Quando se toma medicamentos psicotrópicos, como antidepressivos, com o tempo, o cérebro e o corpo adaptam-se à substância. Esse processo de adaptação costuma ser chamado de dependência física, que leva à tolerância (diminuição dos efeitos com o tempo) e à abstinência quando se interrompe a toma.

A maioria dos antidepressivos modernos inunda o cérebro com níveis anormalmente altos de serotonina – uma substância química cerebral que ocorre naturalmente e que transmite mensagens entre as células nervosas. A serotonina está envolvida em muitos processos corporais, incluindo aprendizagem, memória, sono e função sexual.
Apenas após algumas semanas a tomar antidepressivos, os nossos receptores de serotonina tornam-se menos sensíveis, o que significa que provavelmente se necessita de mais serotonina para obter os mesmos efeitos.

Assim, quando a dose da substância é reduzida ou interrompida, o cérebro e o corpo “perdem” a substância, e é isso que provoca os sintomas de abstinência. A abstinência também pode ocorrer com outras substâncias psicotrópicas, como benzodiazepínicos (para o tratamento de insónias e convulsões), nicotina e cafeína.

Como os antidepressivos afetam vários sistemas de órgãos, os possíveis sintomas de abstinência podem ser tanto emocionais como físicos.
Os emocionais incluem humor deprimido, ansiedade, ataques de pânico, irritabilidade, raiva, crises de choro e pensamentos suicidas. Isso pode ocorrer mesmo em pessoas que nunca experimentaram esses sintomas antes – por exemplo, com antidepressivos prescritos para tratar condições que não estão relacionadas com problemas de saúde mental, como a menopausa.

Os sintomas de abstinência física podem incluir tonturas, atordoamento, sensação de que as coisas “não são reais” (despersonalização/desrealização), cãibras musculares, dores de cabeça, insónias, dificuldade de concentração, náusea e “zaps” cerebrais (sentir sensações elétricas a disparar pela cabeça). Em casos graves, a abstinência pode causar acatisia, definida como “inquietação”.

Muitas pessoas, incluindo os médicos, acreditam que os sintomas de abstinência duram apenas o tempo que a substância demora a deixar o sistema, o que acontece normalmente em dias ou semanas.

No entanto, como os sintomas são causados por uma diferença entre a quantidade de substância à qual o cérebro se habituou e a quantidade no sistema, podem durar o tempo que for necessário para o cérebro se reacostumar a níveis mais baixos dessa substância – possivelmente até que a sensibilidade dos receptores de serotonina se recupere.

As alterações cerebrais em resposta aos antidepressivos podem persistir durante anos. Estudos clínicos mostraram ainda que os sintomas de abstinência de antidepressivos podem durar semanas, meses e, em algumas pessoas, anos. Um estudo recente mostrou que em pacientes que pararam de tomar antidepressivos após dois anos de uso, os sintomas de abstinência duraram em média nove meses.