É possível prevenir a DT2 em jovens sem usar medicação
A dúvida quanto ao efeito causal da atividade física e dos comportamentos sedentários no desenvolvimento da diabetes tipo 2 (DT2) em crianças mantém-se. Mas um estudo levado a cabo por uma investigadora da Universidade de Montreal, no Canadá, permitiu concluir que dez minutos de atividade física por dia ou menos tempo em frente a um ecrã é o suficiente para atrasar o aparecimento da doença e retardar o seu desenvolvimento na juventude.
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Segundo a Dra. Mélanie Henderson, da Universidade de Montreal, as taxas de obesidade estão a aumentar entre os canadenses com menos de 19 anos e já atingem níveis alarmantes. Prevê-se que o número de crianças com DT2 quadruplique no Canadá nas próximas décadas, pelo que este estudo veio dar esperança ao quantificar como a atividade física e os comportamentos sedentários afetam os principais indicadores da diabetes.
Durante o estudo, publicado na revista Lancet Child Adolescent Health, verificou-se que com apenas 10 minutos de atividade física moderada a vigorosa por dia, já se observa uma diminuição nos riscos associados ao desenvolvimento de DT2 em crianças em risco.
Para a Dra. Henderson, reduzir o tempo sedentário em uma hora por dia oferece benefícios semelhantes. O tempo em frente ao ecrã, seja a televisão, nos jogos de vídeo ou nas redes sociais, é particularmente prejudicial, mas também é mais fácil de evitar do que o tempo sedentário passado nos transportes, por exemplo. Nem todos os hábitos sedentários têm o mesmo impacto na saúde cardiometabólica, refere.
A verdade é que mudar os hábitos de vida de uma pessoa pode ser complicado. O corpo possui mecanismos integrados para manter o peso mais elevado, tornando muito difícil a sua perda, e é por isso que é tão importante agir precocemente nas crianças e adolescentes com historial familiar de obesidade.
Participaram no estudo 630 crianças do Quebec com historial familiar de obesidade (definida como um IMC de 30 kg/m2 ou mais, ou uma circunferência da cintura de mais de 102 cm em homens e 88 cm em mulheres) que foram monitorizadas durante um período de sete anos em três ciclos: idades de 8 a 10 (linha de base), 10 a 12 (primeiro ciclo de acompanhamento) e 15 a 17 anos (segundo ciclo de acompanhamento).
Os investigadores utilizaram vários testes para medir os principais indicadores de diabetes, incluindo sensibilidade à insulina, secreção de insulina e níveis de glicose no sangue. A atividade física e o tempo sedentário total foram medidos através de acelerometria, e o tempo de lazer em frente ao ecrã foi avaliado através de um questionário autorreferido.
O uso de abordagens modernas de inferência causal fortaleceu a evidência de que a atividade física e os comportamentos sedentários são os principais impulsionadores do desenvolvimento de DT2 em crianças e adolescentes em risco, devendo ser considerados como alvos principais da prevenção.
Assim, a especialista realça a necessidade urgente de se desenvolver e implementar políticas de prevenção da obesidade que visam promover a atividade física e reduzir comportamentos sedentários para prevenir a diabetes nas populações vulneráveis.