Médicos aconselhados a reduzir prescrição de antidepressivos
Um estudo realizado por uma equipa de cientistas do Reino Unido permitiu concluir que os médicos devem passar a prescrever menos antidepressivos e por períodos de tempo mais curtos, tendo em conta as dúvidas sobre a sua eficácia e sobre a dependência.
MENTE E RELACIONAMENTOS
DEPRESSÃO - A GUERRA ENTRE A APATIA E O ÂNIMO
A depressão é uma das mais frequentes doenças psiquiátricas. Pode afectar todas as pessoas em qualquer idade e, se não for tratada, pode, em última análise, levar ao suicídio. LER MAIS
Segundo os cientistas a prescrição de antidepressivos, como os inibidores seletivos de recaptação da serotonina (SSRI) e da recaptação da serotonina e norepinefrina (SNRI) tem aumentado constantemente, no entanto, muitas das provas de eficácia dos antidepressivos em adultos são provenientes de ensaios controlados por placebo que duraram apenas seis a doze semanas.
Os dados apurados entre as crianças e os adolescentes são ainda menos convincentes, contudo, entre 2005 e 2017 o número de antidepressivos prescritos a adolescentes entre os 12 e os 17 anos quase duplicou.
Importa referir também que a maior parte das investigações não incluiu resultados mais relevantes para os doentes, tais como funcionamento social ou a qualidade de vida, tendo-se focado apenas na sintomatologia.
O estudo, publicado na revista científica Drug and Therapeutics Bulletin, permitiu comprovar que os efeitos secundários também são comuns, ou seja, cerca de um em cada cinco doentes que tomam SSRI relatam sonolência, boca seca, suores abundantes ou aumento de peso; pelo menos um em cada quatro relatam dificuldades nas relações sexuais, e cerca de um em cada dez relatam inquietação, espasmos musculares, tremores, náuseas, obstipação, diarreia ou tonturas.
Os cientistas destacaram que a prevalência de efeitos secundários pode ser ainda maior nos doentes que tomam antidepressivos durante mais de três anos, podendo estes afetar o estado emocional e a concentração do doente.
Além disso, os doentes que tentam interromper o tratamento sofrem frequentemente sintomas de abstinência que podem incluir ansiedade, insónias, depressão, agitação e alterações de apetite, que podem interferir com o funcionamento social e a sua vida profissional.
A investigação mostrou que as reduções graduais na dose exigirão o uso de formulações de medicamentos diferentes dos comprimidos normalmente disponíveis para o tratamento da depressão.
Os pacientes que tentem interromper a medicação, particularmente os que tomam antidepressivos há mais tempo, podem precisar de ajuda extra, e atualmente não existem serviços que apoiem a “desprescrição” de antidepressivos.
A verdade é que continua a existir uma incerteza considerável sobre os benefícios do uso de antidepressivos a curto e a longo prazo, particularmente no que diz respeito à falta de uma diferença clinicamente significativa entre o tratamento com um antidepressivo e com um placebo.
Os cientistas afirmam, contudo, que o aumento do conhecimento sobre a dificuldade que alguns pacientes têm em interromper os antidepressivos deve levar a uma prática de prescrição mais cautelosa – com antidepressivos administrados a menos pacientes, e por períodos mais curtos de tempo.