A biotecnologia – actividade de base científica que integra processos biológicos e de engenharia com a finalidade de produzir bens e serviços com características específicas – no seu sentido mais abrangente, é, actualmente, reconhecida como uma área com grande potencial de crescimento.
Já há muito que deixou de ser uma tecnologia do domíno da ficção científica. Apesar de ser estreitamente associada ao sector farmacêutico – biotecnologia vermelha –, ela tem vindo a tornar-se a tecnologia de base nas mais diversas áreas. Os publicitados glutões do detergente "não são nada mais do que moléculas produzidas por via biotecnológica".
Os estudos biotecnológicos estão a ser estimulados quer nas universidades, quer nos centros de investigação e desenvolvimento (I&D). Estão a surgir cada vez mais centros com actividades directamente ligadas à biotecnologia, e a aposta na formação avançada de recursos humanos é cada vez maior. De salientar que 10 por cento dos doutoramentos realizados em Portugal são em Engenharia Biológica ou Biotecnológica.
O exemplo mais emblemático da aposta biotecnológica foi a criação de um centro de inovação em Biotecnologia, o Biocant Park, em 2006, o primeiro parque biotecnológico português que tem o seu próprio centro de I&D, o Biocant.
O Biocant tem "um quadro próprio de investigadores e está alicerçado na forte tradição científica dos centros de investigação de excelência da Universidade de Coimbra e da Universidade de Aveiro". Recentemente, a sua unidade de bioinformática estabeleceu parceria com o gigante internacional farmacêutico, Astrazeneca, com o objectivo de criar mecanismos computacionais que auxiliem na previsão de fiabilidade da farmacovigilância nas fases precoces do processo de desenvolvimento, possibiltando uma melhor utilização dos dados de toxicidade química e farmacêutica conhecidos.
O parque tecnológico surgiu da colaboração entre a Câmara Municipal de Cantanhede, as Universidades de Aveiro e de Coimbra e outras instituições económicas da região.
Actualmente, são já doze as empresas estabelecidas no parque: a Biognosis, a Biocant Ventures, a Crioestaminal, a Genebox, a Genelab, a Genepredit, a Haloris, a Hematos, a Novexem Portugal, a Vectorpharma, a 4Health e a Bioalvo, todas elas com actividade nas áreas da Bioindústria.
De salientar que, no âmbito da criação deste parque, surguiu outra iniciativa, a Biocant Ventures. Esta empresa, dedicada ao financiamento de projectos em embrião nas Ciências da Vida, tornou-se o primeiro business angel nesta área.
Constituída por uma sociedade entre o Biocant Park e a Beta SCR, com um capital de risco inicial de 500 mil euros, a empresa viabiliza as fases iniciais dos projectos, criando condições para que estes ultrapassem o chamado vale da morte e se transformem em empresas viáveis. Como contrapartida, a Biocant Ventures beneficia das mais-valias resultantes da propriedade intelectual que venha a ser produzida.
Pioneira em Portugal, e de uma importância-chave, esta iniciativa permite aos jovens empreendedores ter um referencial de apoio financeiro nesta área, possibilitando a Portugal alcançar o mesmo nível de desenvolvimento tecnológico dos seus pares europeus.
É importante referir que em algumas áreas biotecnológicas, Portugal está entre os primeiros a nível mundial.
Este merecido lugar no pódio deve-se à aposta que muitas empresas e laboratórios têm vindo a fazer, desde há muito anos, nos centros de I&D.
O laboratório farmacêutico Bial é um exemplo paradigmático deste tipo de investimento.
No mercado desde 1924, a Bial distingue-se no panorama empresarial português pela sua política de investimento na área de I&D. Cerca de 20 por cento da sua facturação anual é canalizada para os seus centros de I&D no Porto e em Bilbau, criados em 1993 e 1997, respectivamente.
O primeiro tem como objectivo desenvolver fármacos para as áreas do sistema nervoso central e cardiovascular. O segundo dedica-se à alergologia.
O laboratório procura centralizar a parte nuclear das suas investigações, contratando a outras instituições portuguesas partes do projecto, uma vez que "elas têm um saber apurado e um alto grau de especialização". Por outro lado, tem estabelecido acordos e contratação de serviços com entidades estrangeiras.
Segundo o presidente da Bial, Luís Portela, a Bial colabora com "empresas estrangeiras conceituadíssimas, que têm estabelecido contratos de parceria com plena satisfação de ambas as partes".
Recentemente, o laboratório assinou um acordo pioneiro para a indústria nacional, que representa o culminar de anos de estudo e investigação desde a sua síntese em 1994: o licenciamento exclusivo da molécula antiepiléptica BIA 2-093 à Sepracor, – uma empresa farmacêutica norte-americana – que irá desenvolvê-la e promover a sua comercialização.
Este acordo, nas palavras de Luís Portela, é "o primeiro resultado concreto das nossas actividades de I&D na área do sistema nervoso central". As contrapartidas financeiras deste licenciamento podem atingir 175 milhões de euros.
Ambas as empresas estimam que, no início de 2010, o fármaco esteja disponível para os pacientes.
Da mesma forma, a Cipan (grupo Atral-Cipan) e a Medinfar, dois outros grandes laboratórios portugueses, investem, desde 1960 e 1970, respectivamente, nos seus centros de investigação em fármacos de base biotecnológica.
A Cipan produz, desde cedo, antibióticos por fermentação e semi-síntese e trabalha com diversas universidades portuguesas e estrangeiras quase desde o início da sua actividade. Segundo o presidente do grupo, "o laboratório anda sempre à espreita de progressos". Para ele, "o pessimismo que ensombra a vida dos portugueses é triste, dificulta-lhes a actividade, mas não os desanimou, nem os desanimará".
Em 2005, a Fresenius Kabi, ao adquirir a Labesfal, tornou visível à Europa que o mercado farmacêutico português era uma boa aposta. Apesar de não ter sido revelado o montante do negócio, foi considerado, na época, o maior investimento de sempre no nosso sector farmacêutico. Esta aquisição foi o ponto de viragem da Labesfal no mercado nacional e internacional. As suas vendas atingiram 75 milhões de euros, no ano seguinte à aquisição. Estima-se igualmente que desde 2004 o crescimento da Labesfal na área das exportações foi da ordem dos 235 por cento e que até 2009 exporte 50 por cento da sua produção.
O laboratório alemão tinha por objectivo liderar o mercado nacional de produção de medicamentos injectáveis e optou pela compra da Labesfal porque foi considerada uma das melhores empresas do país, tinha "uma dimensão coerente a nível de funcionários e um conjunto de produtos registados, com interesse, bem como um grupo industrial que dava garantias de crescimento".
Portugal torna-se, assim, num dos pontos avançados, a nível europeu e mundial, no campo das substâncias injectáveis. Hoje em dia, "tudo o que é produzido na área de injectáveis, sobretudo de soros, passa por Portugal". Este crescimento dá-se, sobretudo, porque a capacidade de produção do complexo de Tondela foi aumentada. Está igualmente em fase de conclusão a construção de quarta unidade no complexo. Calcula-se que, até à data, a Fresenius Kabi já tenha investido nesta unidade 21 milhões de euros, excluindo o valor da compra.
Ainda no âmbito dos investimentos tecnológicos em Portugal, em 2009, Braga irá acolher o Laboratório Internacional e Ibérico de Nanotecnologia, uma ciência igualmente em franco crescimento com vectores muito dirigidos à área da saúde. A excelência é o seu objectivo. Por isso procura, actualmente, os melhores cientistas e especialistas de todo o mundo para colaborar no projecto.
Este Laboratório irá desenvolver projectos na área da nanomedicina, do ambiente, do controlo de qualidade alimentar e da nanoelectrónica.
Também a Microsoft vai investir em Portugal na área da biotecnologia. A Microsoft Portugal , em colaboração com a Universidade da Beira Interior, apresentou ao público o Projecto Hipercâmbio – High Performance Computing Applied to Medical Data and Bioinformatics – que irá ser desenvolvido no Laboratório de High Performance Computing, instalado na sede da Microsoft, em Seattle. O objectivo do projecto é tornar mais rigorosa a identificação automática de pacientes com cancro da mama.
A Biogen Idec – uma das maiores empresas mundiais de biotecnologia na área farmacêutica – assinou um acordo de parceria com o Biocant, em Setembro de 2007. O objectivo do projecto é descobrir marcadores moleculares, de modo a aumentar o rigor do diagnóstico e os conhecimentos sobre a esclerose múltipla.
Salienta-se que é a primeira vez que a Biogen assina um contrato deste tipo em Portugal, demonstrando a confiança nas competências e nos recursos instalados do Biocant.
No mês seguinte foi a vez da Bioalvo e da PME protagonizarem um dos mais elevados investimentos privados de sempre – 1,3 milhões de euros – no sector biofarmacêutico. A Bioalvo tem como objectivo o desenvolvimento de novos biofármacos e terapias para doenças neurodegenerativas.
Apesar de se encontrar numa fase de start-up, a empresa detém, actualmente, "programas terapêuticos com abordagens originais e inovadoras" para o tratamento de doenças como a de Alzheimer, a malária cerebral, a sida e a amiloidose, nas quais se incluem a "doença dos pezinhos".
As empresas nacionais sabem que investir nos centros I&D é crucial para o seu avanço (bio)tecnológico. O programa NITEC – Núcleos de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico no Sector Empresarial – foi essencial para essa consciencialização. Criado com o objectivo de fomentar a criação de departamentos de I&D nas empresas, conseguiu, em 2004, que 35 empresas portuguesas assumissem compromissos na ordem dos 16 milhões de euros e, felizmente, os números têm vindo a crescer.
A história provou que este tipo de investimentos dá frutos. Apesar de lentamente, Portugal está a subir nas escadas na inovação. A troca de know-how é a pedra basilar da biotecnologia e, actualmente, o país exporta tecnologia, apresenta projectos de vanguarda e cria condições para os desenvolver, além de estabelecer, igualmente, parcerias com as melhores (bio)empresas da área.
Fomos os primeiros a querer ir mais além quando o mundo conhecido tinha a dimensão de uma casca de noz. Mais de 500 anos depois, Portugal deixou os maus presságios e os velhos do Restelo em terra, e parte novamente, mas agora rumo à era das descobertas biotecnológicas, na nau da nova vaga da economia e do conhecimento.
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