Cancro do pulmão: oito em cada dez casos são diagnosticados em fumadores

Cancro do pulmão: oito em cada dez casos são diagnosticados em fumadores

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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O facto de a maioria dos casos de cancro de pulmão serem diagnosticados tardiamente explica o seu mau prognóstico e as elevadas taxas de mortalidade. No entanto, nas últimas décadas, temos assistido a uma evolução ao nível do seu tratamento.

“Embora no cancro do pulmão precoce as técnicas de diagnóstico e terapêutica cirúrgica se tenham desenvolvido muito, permitindo alargar o número de doentes elegíveis para cirurgia, é ao nível do cancro avançado que se fizeram sentir os desenvolvimentos mais marcantes. Até há pouco tempo, o único tratamento disponível era a quimioterapia. Nos últimos anos, foi possível, num número importante de tumores, identificar mutações/fusões genéticas no ADN dos tumores, driver mutations, que controlam o desenvolvimento desses tumores e bloqueá-las, obtendo excelentes resultados terapêuticos.

Cancro-pulmao-fumadores

Este tipo de mecanismo oncogénico é especialmente frequente em não fumadores. Por outro lado, o desenvolvimento recente da imuno-oncologia tem alterado de forma marcante os resultados terapêuticos do cancro do pulmão. Estes tratamentos atuam ativando o sistema imunitário do doente e, desta forma, o próprio sistema imunitário, uma vez ativado, vai destruir e controlar o tumor. Embora nem todos os doentes beneficiem e mesmo que isso aconteça, não seja para sempre, os resultados são muito melhores que os obtidos com os tratamentos tradicionais”, esclarece Venceslau Hespanhol, pneumologista do Hospital de São João e representante da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.

No que diz respeito à prevenção primária do cancro do pulmão, “o tabaco é, de longe, o fator de risco mais importante no desenvolvimento desta doença, mas no entanto outros fatores como o rádon, as fibras de amianto e poluição ambiental, também podem ter um papel relevante“, afirma o médico pneumologista.

Apesar destes outros fatores, “em 80 por cento dos casos de cancro de pulmão existe uma história de exposição ao tabaco. É fundamental, para a prevenção deste tipo de cancro, a redução do consumo ou da exposição ao tabaco”, reforça Venceslau Hespanhol.

“Quando se fala de consumo de tabaco não se fala apenas de cigarros, mas também das novas formas de consumo como o cigarro eletrónico, o tabaco aquecido e, mais recentemente, o Juul. Estas novas formas de tabaco também são causa de doença e são, muitas vezes, o primeiro passo para o consumo de cigarros convencionais”, acrescenta Cristina Matos, representante da Comissão de Trabalho de Pneumologia Oncológica da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP).

Fumador-juul

Numa altura em que o consumo dos produtos de tabaco voltou a ser atraente para os jovens, levando a um aumento da taxa de novos fumadores, sobretudo na população estudantil, as estratégias de prevenção primária passam também por “campanhas dirigidas sobretudo a estes grupos etários, de forma a evitar o início do consumo e a vontade de experimentar. É igualmente necessária a implementação e desenvolvimento de Consultas de Apoio Intensivo aos Fumadores tanto nos Cuidados Primários de Saúde como nos Hospitais”, complementa Margarida Felizardo, também representante da Comissão de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.

Devido ao diagnóstico geralmente tardio, a implementação de um rastreio eficaz que permita a identificação precoce deste tipo de cancro é algo há muito pretendido.

Venceslau Hespanhol assegura que “o rastreio do cancro do pulmão é uma realidade já em alguns países, como os Estados Unidos. Na Europa, ainda não está implementado de uma maneira abrangente, aguardando-se para breve os resultados de custo-eficiência. Relativamente à eficácia, o valor do rastreio de cancro do pulmão não é atualmente questionável após dois grandes estudos de rastreio - um nos Estados Unidos e outro na Europa - terem demonstrado uma redução muito significativa da mortalidade por este cancro”.

Jovem-fumadora

“Para além do impacto na mortalidade, o rastreio do cancro do pulmão permitiu aprender como lidar com nódulos que acidentalmente se identificam nos pulmões. Podemos concluir que os resultados da aplicação da metodologia de diagnóstico, vigilância e tratamento utilizada no rastreio permitiu aumentar muito as expetativas de cura”, sublinhou o responsável.

Para assinalar o Dia Mundial do Cancro do Pulmão, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia volta a reforçar, através de um pequeno vídeo publicado no Youtube, a mensagem de esperança e a importância da cessação tabágica, tendo em conta que a doença afeta sobretudo os fumadores.

Na sequência destas ações e no âmbito do Dia Mundial do Pulmão, que se celebra a 25 de setembro, a SPP, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa e com a Empresa Portuguesa das Águas Livres, vai realizar um "Sunset sem Tabaco", uma iniciativa que se enquadra na campanha “Lisboa com Bom Ar” que decorrerá na Praça do Município em Lisboa.

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