Deferriprona acelera declínio cognitivo em estudo sobre Alzheimer
Um estudo multi-institucional que juntou 26 investigadores liderados pela Universidade de Melbourne descobriu que a deferriprona redutora de ferro acelera o declínio cognitivo em pacientes com doença de Alzheimer precoce. Esta descoberta inesperada mostra que reduzir os níveis de ferro no cérebro com deferriprona é prejudicial para pessoas com Alzheimer.
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Estima-se que, actualmente, existam 20 milhões de pessoas, em todo o mundo, a sofrer de Alzheimer. A cada ano que passa, 4,6 milhões de pessoas são atingidas. LER MAIS
A doença de Alzheimer é um desafio de saúde global significativo, e os benefícios dos tratamentos atuais são apenas modestos. O acúmulo de ferro no cérebro tem sido associado à doença de Alzheimer, o que levou à descoberta de moléculas redutoras de ferro como uma estratégia terapêutica potencial.
A deferriprona, um quelante de ferro oral capaz de atravessar a barreira hematoencefálica, era uma hipótese para retardar a neurodegeneração ao reduzir os níveis de ferro no cérebro.
No estudo, publicado no JAMA Neurology, os especialistas descrevem os resultados do estudo clínico randomizado de fase 2, duplo-cego e controlado por placebo para avaliar os efeitos da deferriprona no declínio cognitivo e nos níveis de ferro no cérebro em pacientes com comprometimento cognitivo leve por amiloide confirmado ou doença de Alzheimer precoce.
Os participantes foram selecionados aleatoriamente numa proporção de 2:1 para receber deferriprona na dose de 15 mg/kg duas vezes por dia, ou um placebo durante 12 meses. O desfecho primário mediu o desempenho cognitivo através de um conjunto de testes neuropsicológicos que incluíam avaliações de memória, função executiva e atenção.
Os desfechos secundários avaliaram as alterações nos níveis de ferro no cérebro através de mapeamento de suscetibilidade quantitativa de ressonância magnética (QSM MRI), alterações no volume cerebral e eventos adversos.
Os resultados revelaram que os participantes que receberam deferriprona experimentaram uma aceleração significativa no declínio cognitivo em comparação ao grupo do placebo. O declínio foi observado principalmente em testes de função executiva.
O tratamento com deferriprona diminuiu com sucesso os níveis de ferro no hipocampo, conforme confirmado pelo QSM MRI. Ao contrário do que se esperava, a redução dos níveis de ferro não afetou a perda de volume do hipocampo e foi associada ao aumento da perda de volume nas regiões frontais do cérebro.
A frequência de neutropenia, caracterizada por baixos níveis de neutrófilos, foi maior no grupo da deferriprona do que em estudos semelhantes, o que levanta preocupações sobre o perfil de segurança do medicamento nesta população de pacientes.
As descobertas desafiam a noção de que a quelação de ferro é benéfica na doença de Alzheimer e sugerem que o ferro pode desempenhar um papel mais complexo na neurodegeneração do que se pensava anteriormente. Entretanto, são necessários mais estudos para entender as implicações da modulação do ferro no Alzheimer e explorar estratégias terapêuticas alternativas.