Substância para tratar doenças oculares revela efeitos adversos
Uma equipa de investigadores liderados pelo Hospital Universitário de Zurique identificou casos de inflamação intraocular estéril, incluindo vasculite retiniana grave, associada a injeções da substância faricimab para tratar doenças oculares, como a degeneração macular relacionada à idade e o edema macular diabético.
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O faricimab é um anticorpo monoclonal que tem como alvo fatores de crescimento endotelial vascular e vias de angiopoietina para estabilizar os vasos sanguíneos e reduzir o crescimento anormal. Aprovada pela FDA, a substância é commumente administrada para a degeneração macular relacionada à idade neovascular e para o edema macular diabético. Ensaios clínicos realizados anteriormente demonstraram a sua eficácia e um perfil de segurança aceitável.
Num estudo retrospetivo de série de casos, publicado no JAMA Ophthalmology, os especialistas reviram os registos de sete pacientes encaminhados para o departamento de oftalmologia do Hospital Universitário de Zurique entre junho de 2022 e março de 2024.
Após receberem injeções intravítreas de faricimab 6 mg (0,05 mL de uma solução de 120 mg/mL), doze olhos dos sete pacientes desenvolveram inflamação. Destes casos, dois olhos apresentaram vasculite retiniana, e um deles progrediu para perda irreversível da visão devido à não perfusão capilar macular.
A maioria dos casos envolveu inflamação moderada tratada com corticosteroides sem alterações significativas na visão. Os casos graves resultaram em comprometimento substancial e permanente da visão, levantando preocupações de que eventos adversos raros podem não ter sido identificados em ensaios clínicos que levaram à aprovação do medicamento.
Num caso, uma mulher de 83 anos desenvolveu vasculite oclusiva em ambas as artérias e veias do olho, levando a uma queda na acuidade visual de 20/80 para 20/2000.
Os restantes olhos sofreram uma inflamação moderada do segmento anterior sem alterações substanciais na visão.
O evento de inflamação intraocular ocorreu após uma média de 3,5 (2,0-4,3) injeções de faricimab. O intervalo médio entre a última injeção de faricimab e o diagnóstico de inflamação foi de 28 (24-38) dias. Identificou-se um aumento da pressão intraocular de 30 mm Hg ou mais em 3 olhos.
Esta série de casos destaca a ocorrência de inflamação intraocular rara, mas potencialmente grave, associada à terapia com faricimab. Embora essas descobertas não provem causalidade e possam apenas gerar hipóteses para investigações futuras, os resultados sugerem a importância da vigilância e monitorização contínuas dos pacientes submetidos à terapia com faricimab para identificar e gerir rapidamente potenciais eventos adversos.