Suplementação de ferro não beneficia bebés amamentados
A Associação Americana de Pediatria recomenda suplementos de ferro a todos os bebés saudáveis que sejam amamentados durante mais de quatro meses, enquanto a sua homóloga europeia, a Sociedade de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição, não o recomenda.
Esta divergência nas diretrizes estimulou os investigadores a elaborar um estudo com o objetivo de avaliar se a suplementação diária de ferro, 1 mg/kg, entre 4 e 9 meses em lactentes exclusiva ou predominantemente amamentados melhorava o desenvolvimento psicomotor aos 12 meses.
O estudo, uma colaboração internacional entre a Universidade Médica de Varsóvia e a Universidade de Umeå, foi um ensaio randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, realizado entre dezembro de 2015 e maio de 2020, com acompanhamento até maio de 2023 em ambiente de ambulatório na Polónia e na Suécia.
Foram incluídos bebés únicos saudáveis, nascidos a termo, com peso ao nascer superior a 2.500 g, exclusiva ou predominantemente amamentados (> 50%) e sem anemia (hemoglobina > 10,5 g/dL) aos 4 meses de idade. Os critérios de exclusão incluíram doença grave, anomalia congénita, alergia alimentar e dificuldade de comunicação com os cuidadores.
No total foram recrutadas 220 crianças. Se exclusivamente amamentadas aos quatro meses, foram selecionadas aleatoriamente para receber 1 mg/kg de ferro (pirofosfato férrico micronizado microencapsulado), ou um placebo (maltodextrina) uma vez ao dia dos 4 aos 9 meses de idade. Os participantes foram, então, avaliados por uma psicóloga aos 12, 24 e 36 meses de idade, tenso sido estudadas as habilidades cognitivas, motoras e de linguagem, assim como problemas comportamentais.
A suplementação de ferro (n = 104) em comparação com o placebo (n = 96) não teve efeito no desenvolvimento psicomotor, pontuação cognitiva ou pontuação de linguagem aos 12 meses. Não houve diferenças significativas aos 24 e aos 36 meses. A intervenção não reduziu o risco de deficiência de ferro ou de anemia por deficiência de ferro em 12 meses.
Segundo Ludwig Svensson, não se observaram diferenças significativas no desenvolvimento psicomotor entre crianças que receberam ferro extra e crianças que receberam o placebo. Ou seja, não houve benefício dos suplementos de ferro para o desenvolvimento. Embora mais crianças no grupo placebo tivessem deficiência de ferro, a diferença não foi significativa.
Os resultados do estudo, publicado na revista JAMA Pediatrics, fornecem evidências para áreas onde faltavam ensaios randomizados, e reforçam as diretrizes europeias de não recomendar suplementos de ferro a todos os bebés saudáveis amamentados.