Esquizofrenia: RM pode prever quem responderá ao tratamento
Para reduzir os atrasos no tratamento eficaz da esquizofrenia são necessários marcadores de resistência à terapia. Um estudo levado a cabo por uma equipa de investigadores da Universidade de Amsterdão, na Holanda, permitiu concluir que exames cerebrais especializados podem prever com precisão se um paciente psicótico desenvolverá esquizofrenia resistente ao tratamento.
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O exame, denominado ressonância magnética sensível à neuromelanina, ou NM-MRI, concentra-se num pigmento cerebral chamado neuromelanina. Este pigmento pode fornecer evidência visual da função saudável da dopamina – uma hormona que faz parte do sistema de recompensa do cérebro.
Muita dopamina pode levar à agressão e ao mau controle dos impulsos associados à psicose.
Segundo os autores do estudo, publicado no The American Journal of Psychiatry, são necessários com urgência marcadores para identificar os indivíduos que não respondem ao tratamento da esquizofrenia num estágio inicial de modo a facilitar o início oportuno da clozapina – o único antipsicótico com eficácia comprovada nos pacientes que não respondem.
Ao contrário dos indivíduos que respondem ao tratamento, aqueles com esquizofrenia resistente ao tratamento não apresentam aumento na função da dopamina. Para os especialistas isso sugere que os níveis de neuromelanina podem ser um marcador precoce da resistência.
O estudo incluiu 62 pacientes com idades compreendidas entre 18 e 35 anos que tiveram o primeiro episódio psicótico. Todos foram diagnosticados no espectro da esquizofrenia. Este grupo de pacientes foi comparado com um grupo controle de 20 voluntários saudáveis.
Todos os participantes passaram por uma entrevista clínica, teste de QI e exame NM-MRI, e aqueles com psicose receberam o tratamento antipsicótico. Aos seis meses, avaliou-se a resposta ao tratamento.
Os pacientes que apresentavam sintomas moderados ou elevados numa das cinco áreas, incluindo delírios, alucinações, posturas e pensamentos incomuns, após duas tentativas de medicamentos antipsicóticos, foram considerados não respondedores.
Foram ainda considerados não respondedores se não obtivessem resposta ou experimentassem efeitos colaterais graves a um medicamento antipsicótico; ou se a medicação foi alterada para clozapina durante o acompanhamento.
Dos 62 pacientes, 47 foram considerados respondedores. Na linha de base da NM-MRI, os 15 não respondedores apresentaram um sinal significativamente mais baixo numa região do cérebro chamada substância negra. É rico em neurónios dopaminérgicos e regula emoções e comportamentos de recompensa, entre outras coisas.
Com base nas evidências da neuromelanina, os investigadores conseguiram prever com até 68% de precisão quais os pacientes que responderiam ao tratamento. Em 28 respondedores e nove não respondedores que realizaram exames de acompanhamento, o sinal de NM-MRI não se alterou ao longo de seis meses.
De acordo com Marieke van der Plijm, líder do estudo, ficou demonstrado o potencial da NM-MRI como um marcador não invasivo para a resistência ao tratamento da esquizofrenia numa fase inicial.
Eventualmente, um modelo de previsão adequado poderia levar à identificação precoce da resistência ao tratamento na esquizofrenia, o que tornaria possível reduzir substancialmente os atrasos no tratamento eficaz e melhorar os resultados dos pacientes.