Aspirina em baixa dose ligada a maior risco de anemia em idosos
A aspirina é um dos medicamentos mais usados no mundo. Investigadores da Universidade Monash, em Melbourne, realizaram uma análise post-hoc do ensaio controlado randomizado ASPREE (ASPirin in Reducing Events in the Elderly) tendo concluído que a toma da aspirina de baixa dosagem estava associado a um aumento na incidência de anemia e declínio de ferritina em idosos saudáveis.
Só nos Estados Unidos aproximadamente metade dos idosos fazem a toma preventiva da aspirina. Uma das complicações do seu uso é o aumento do risco de hemorragia major, principalmente hemorragia gastrointestinal. Embora o risco de hemorragia evidente devido ao medicamento tenha sido bem caracterizado, poucos estudos analisaram o efeito da aspirina na anemia, particularmente em populações mais velhas.
O estudo, publicado na revista Annals of Internal Medicine, incluiu 19.114 pessoas com 70 anos ou mais que foram selecionadas aleatoriamente para tomar 100 mg de aspirina diariamente ou um placebo. A hemoglobina dos participantes foi medida anualmente e a ferritina, ou níveis de ferro no sangue, foi medida no início do estudo e três anos após a seleção.
Zoe McQuilten, uma das investigadoras envolvidas, revelou que numa média de 4,7 anos, a incidência de anemia foi de 51,2 eventos por 1.000 pessoas-ano no grupo da aspirina, em comparação com 42,9 eventos por 1.000 pessoas-ano no grupo que tomou o placebo.
A probabilidade estimada de ter anemia no prazo de 5 anos foi de 23,5% para aqueles que tomaram a aspirina, em comparação com 20,3% para os que receberam o placebo. Verificou-se ainda uma pequena, mas maior, diminuição na hemoglobina média e um maior declínio nas concentrações de ferritina entre os participantes que tomaram a aspirina.
Sabe-se que a incidência de anemia aumenta com a idade, e estima-se que cerca de 17% dos adultos com 65 anos ou mais sejam anémicos, com maior prevalência entre as pessoas em lares e hospitais.
Investigações anteriores mostraram que a anemia em adultos mais velhos estava associada a maior mortalidade geral, menor qualidade de vida, maior incidência de doenças cardiovasculares, maior risco de quedas e fraturas e internamentos hospitalares mais longos, já os resultados anteriores do estudo ASPREE mostraram associações entre o uso de aspirina de baixa dosagem e aumentos na mortalidade geral e mortes por cancro em idosos.
Para os investigadores, o aumento dos riscos para a saúde e dos custos dos cuidados associados à anemia em adultos mais velhos é mais uma razão para restringir o uso de aspirina de baixa dosagem em pacientes com indicação baseada em evidências, e para monitorizar o desenvolvimento de anemia por deficiência de ferro em pessoas que tomam aspirina regularmente.