Fenda labial é causada por uma combinação de genes e ambiente
Uma fenda labial ou palatina é produto da combinação de genes e de fatores de risco inflamatórios experimentados durante a gravidez, como tabagismo ou infeções, revelou um novo estudo liderado por investigadores da UCL.
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A fenda labial, com ou sem fissura palatina, é a malformação craniofacial mais comum observada ao nascimento, afetando um em cada 700 nascidos vivos. Pode ter consequências devastadoras para os bebés e para as suas famílias, pois os bebés podem ter dificuldade para se alimentar, falar e ouvir, além de maior risco de infeções do ouvido e problemas dentários.
Já se sabe há algum tempo que existe um componente genético para o lábio leporino e que alguns fatores ambientais, como tabagismo, stress, infeções e desnutrição durante a gravidez também podem aumentar o risco desta malformação.
O estudo, publicado na Nature Communications, revelou pela primeira vez como estes dois fatores atuam juntos e por que são necessários fatores de risco genético e ambiental para que uma criança nasça com fenda labial.
A equipa de investigação, da UCL e da Universidade de São Paulo, estudou famílias que possuiam mutações no gene da e-caderina, que é conhecido por estar implicado no lábio leporino, mas constataram que nem todas as pessoas com a mutação desenvolvem a malformação.
Reproduziram, então, essa mutação em ratinhos e em sapos, o que gerou malformações semelhantes ao lábio leporino nos humanos, mas apenas quando os ratinhos e os sapos portadores da mutação também foram expostos a fatores ambientais causadores de inflamação. Descobriram-se ainda efeitos semelhantes em células-tronco humanas com mutação e inflamação.
A proteína e-caderina desempenha um papel no desenvolvimento fetal, pois as células da crista neural – as células-tronco embrionárias que formam as características faciais – movem-se juntas para formar o rosto. No desenvolvimento normal, as células da crista neural migram juntas em duas metades, envolvendo a cabeça, antes de se unirem para formar o rosto. Isso torna necessário que a e-caderina atue como uma cola entre as células. Se as duas metades das células da crista neural não se unirem totalmente, o bebé nascerá com lábio leporino ou fenda palatina.
A mutação identificada pelos investigadores reduz a produção da proteína e-caderina, pois a metilação do ADN reduz a transcrição, no entanto, os especialistas descobriram que a mutação sozinha não reduz os níveis de e-caderina o suficiente para causar lábio leporino.
Foi apenas quando um feto com a mutação também foi exposto a fatores de risco ambientais que levam à inflamação em todo o corpo (que pode incluir tabagismo, stress, desnutrição ou infeções), que a metilação do ADN aumentou e os níveis de e-caderina ficaram muito baixos para as células da crista neural se unirem para formar completamente o lábio e o palato.
Segundo o Dr. Lucas Alvizi, este estudo foi o primeiro a mostrar detalhadamente como os fatores genéticos e ambientais se combinam para causar um defeito congénito, sendo ao mesmo tempo um exemplo notável de epigenética, pois os fatores ambientais influenciam a expressão de um gene.
Os especialistas esperam que as suas descobertas contribuam para o desenvolvimento de novos tratamentos ou estratégias preventivas para o lábio leporino ou fenda palatina e tornem claros os fatores de risco para ajudar as pessoas a reduzir a probabilidade de os bebés desenvolverem a condição.