Bactéria pode diminuir eficácia da imunoterapia
A Helicobacter pylori é uma bactéria que infeta e habita o estômago. É considerada das infeções mais frequentes em todo o mundo e, em Portugal, estima-se que cerca de 60 a 70% da população esteja infetada. A maioria das pessoas não apresenta sintomas, no entanto, uma infeção por H. pilory pode resultar em úlceras gástricas e até cancro do estômago.
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Um novo estudo canadiano descobriu que a soropositividade para a bactéria – o que significa que um exame de sangue confirmou a presença de anticorpos contra uma infeção anterior por H. pylori – pode diminuir a resposta à imunoterapia em pessoas com melanoma metastático, um cancro de pele avançado.
A Dra Marion Tonneau coordenou o estudo sob a orientação do professor de medicina da Universidade de Montreal, o Dr. Bertrand Routy, que analisou como a combinação de imunoterapia com transplante fecal, para modificar os microbiomas intestinais, pode ajudar pacientes com melanoma.
Durante o estudo, publicado na revista OncoImmunology, os investigadores analisaram quase 100 pacientes com melanoma avançado que foram tratados com imunoterapia, concentrando-se no efeito de bilhões de bactérias que habitam o intestino no sistema imunológico.
A equipa descobriu que os pacientes com teste positivo para H. pylori tendiam a responder pior à imunoterapia do que os pacientes negativos e tinham taxas de sobrevida global significativamente mais curtas.
Todos os participantes receberam inibidores do checkpoint imunológico (ICI), uma forma de imunoterapia que está atualmente na vanguarda das terapias de tratamento para pacientes com melanoma. Os ICI são anticorpos monoclonais que estimulam especificamente o sistema imunológico para atingir as células cancerígenas. Nos últimos anos, estes fármacos têm sido cada vez mais utilizados no tratamento de muitas neoplasias em estadios avançados.
O trabalho recente do professor Routy deu origem a que os especialistas levassem em consideração o microbioma na investigação e tratamento do cancro. Vários estudos para melhorar a eficácia dos ICI para modificar a microbiota intestinal – como através do transplante fecal – estão em curso.
A investigação atual tem-se focado maioritariamente na microbiota intestinal, no trato gastrointestinal inferior, incluindo os intestinos, apêndice e reto, no entanto, os investigadores acreditam que as novas descobertas levem os imuno-oncologistas a desenvolver maior interesse pelo trato gastrointestinal superior (boca, faringe, esófago e estômago).
Segundo a Dra. Tonneau, este estudo sugere que a H. pylori, além de afetar o estômago, pode potencialmente afetar a resposta imune sistémica, modificando a polarização dos linfócitos T. Esta é mais uma evidência de que a microbiota desempenha um papel no desenvolvimento dos cancros, e não apenas de cancros intestinais.
O próximo passo é corroborar estas descobertas em estudos prospectivos mais amplos e desenvolver novas estratégias para erradicar a bactéria H. pylori em pacientes submetidos a tratamentos imuno-oncológicos.