Vacina contra infeções urinárias pode estar para breve
Uma equipa de engenheiros biomédicos da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, pode estar perto de descobrir uma vacina contra as infeções urinárias. A vacina, em forma de comprimido, dissolve-se rapidamente quando colocada sob a língua.
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As infeções do trato urinário (ITU) ocorrem quando as bactérias, como a Escherichia coli, infetam a uretra, bexiga, ureteres ou rins. São mais comuns em mulheres e se não bem forem tratadas podem gerar outras complicações e acabar por ser fatais.
Estas infeções podem ser resolvidas com antibióticos orais, mas alguns pacientes sofrem de infeções urinárias recorrentes, exigindo o uso prolongado e repetido de antibióticos. Esse uso prolongado afeta negativamente o microbioma do paciente, pois os antibióticos também matam bactérias úteis, criando um ambiente para o desenvolvimento de bactérias resistentes a antibióticos.
Atualmente, muitas estirpes de bactérias que causam ITUs estão cada vez mais resistentes a vários dos antibióticos comumente usados para tratar as infeções.
Para resolver esse problema, a equipa desenvolveu uma vacina que pode ser absorvida sob a língua e que ativa as principais células imunológicas para atacar com precisão as bactérias causadoras de ITU.
Estudos anteriores haviam revelado que as substâncias absorvidas pela membrana mucosa sob a língua poderiam desencadear uma resposta imune, especialmente em membranas mucosas semelhantes em todo o corpo. Isto era importante porque um dos desafios para desenvolver uma vacina para ITUs é o facto de ser necessário desencadear uma resposta imune tanto no sangue quanto no trato urogenital, e as injeções intramusculares geralmente não desencadeiam respostas fortes nessas áreas mucosas.
A forma em comprimidos resolve, aliás, vários problemas, pois não é necessária refrigeração, agulhas ou pessoal treinado para a sua administração. O paciente retira-o do invólucro, coloca debaixo da língua e pode seguir a sua vida.
Passar pela camada de membrana sob a língua é complicado, pois o muco foi feito para impedir que grandes moléculas, vírus e outros materiais penetrem no organismo. No entanto, o laboratório Collier é especializado no desenvolvimento de biomateriais que se auto-organizam em estruturas úteis como nanopartículas, nanofibras e géis, que podem ser personalizados para ativar células-chave do sistema imunológico. E a equipa descobriu que poderia adicionar modificações resistentes ao muco a essas estruturas, permitindo que elas deslizassem facilmente pela camada mucosa.
Foram identificadas certas proteínas que apareciam com frequência na bactéria E. coli uropatogénica, que causa a maioria das ITUs. Isto forneceu um alvo claro para as células imunológicas atacarem.
A equipa teceu as proteínas de E. coli nas suas nanofibras que penetram no muco. Uma vez que essa estrutura é absorvida, as proteínas bacterianas incorporadas ativam as células imunes, dando-lhes instruções específicas para matar as bactérias tanto no sangue quanto no trato urogenital.
No estudo, publicado no jornal Science Advances, apurou-se que a eficácia da vacina na forma de comprimidos era comparável à dos antibióticos, e os especialistas descobriram que as respostas de anticorpos geradas pelos materiais de nanofibra podem ser muito duráveis, durando o tempo de vida de um ratinho, pelo que se espera que a proteção contra ITUs seja igualmente eficaz.
A equipa vai continuar a refinar o seu modelo, pois estão curiosos para saber se a vacina pode ser usada para minimizar, ou mesmo prevenir, a recorrência de ITU. Planeiam ainda explorar modelos de doenças adicionais nas quais o mecanismo de administração da vacina sublingual possa ser especialmente útil. Muitas dessas doenças, incluindo gonorreia e clamídia, também envolvem o trato urogenital e enfrentam problemas de resistência aos antibióticos.
Os investigadores ficaram entusiasmados com os resultados da proteção a longo prazo das ITUs, e estão igualmente otimistas com as novas possibilidades disponíveis com a vacina em forma de comprimido sublingual.
Especialmente após o Covid-19, é evidente que as vacinas farão cada vez mais parte da nossa vida, por isso são necessárias vacinas mais acessíveis que possam ser repetidas facilmente.