Hemofilia: nova terapia genética pode reduzir risco de hemorragia
Uma única injeção de terapia genética pode reduzir drasticamente o risco de hemorragia enfrentado pelas pessoas com hemofilia B, segundo um estudo que envolveu investigadores da UCL.
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Para o estudo, publicado no New England Journal of Medicine, especialistas da UCL, Royal Free Hospital e da Freeline Therapeutics testaram e avaliaram um novo tipo de candidato à terapia genética de vírus adeno-associado (AAV), denominado FLT180a, para tratar casos graves e moderadamente graves da doença.
A hemofilia B é um distúrbio hemorrágico genético raro e hereditário causado por baixos níveis da proteína do fator IX (FIX), necessária para a formação de coágulos sanguíneos que ajudam a prevenir ou a interromper uma hemorragia. O gene responsável pela produção da proteína FIX está localizado no cromossoma X, razão pela qual a forma grave da hemofilia B é muito mais comum em homens.
Atualmente, os pacientes com hemofilia B precisam de se injetar regularmente – geralmente semanalmente – com FIX recombinante, ou seja, fazem terapia de reposição regular para evitar hemorragias excessivas. Apesar dos avanços no tratamento, os pacientes continuam a ter danos articulares debilitantes.
O ensaio clínico de Fase I/II denominado B-AMAZE, e o estudo de acompanhamento de longo prazo permitiram descobrir que o tratamento único com FLT180a levou à produção sustentada de proteína FIX do fígado em nove de dez pacientes, em quatro níveis de dose diferentes, eliminando a necessidade de terapia de reposição regular.
Dos 17 pacientes do sexo masculino com 18 anos ou mais que foram submetidos à triagem, dez com hemofilia B grave ou moderadamente grave participaram do estudo de 26 semanas do FLT180a. Estão ainda todos inscritos no estudo de acompanhamento de longo prazo para avaliar a segurança e a durabilidade da expressão de FIX durante 15 anos.
Os dados de longo prazo do B-AMAZE aumentam as evidências de que a terapia genética tem o potencial de libertar os pacientes dos desafios de adesão à terapia ao longo da vida ou pode facultar tratamento onde não existe atualmente.
Em nove dos dez pacientes, o tratamento levou a um aumento sustentado na produção da proteína FIX, o que diminuiu a hemorragia excessiva. Além disso, os pacientes também deixaram de precisar das injeções semanais de proteína FIX.
Após 26 semanas, cinco pacientes tinham níveis normais de proteína FIX, três tinham níveis baixos, mas aumentados, e um paciente tratado com a dose mais alta tinha um nível anormalmente alto.
Segundo Pamela Foulds, da Freeline Therapeutics, os dados de longo prazo do B-AMAZE continuam a apoiar a ideia de que uma única dose de FLT180a poderia proteger as pessoas com hemofilia B de hemorragias e a necessidade de substituição de FIX por toda a vida através da expressão de FIX em níveis protetores.
Os resultados deste importante estudo são o exemplo perfeito de como a investigação e a inovação da UCL se podem traduzir no mundo real e causar impacto e mudança de vida.