Caneta-sensor deteta o perigoso bisfenol-A na água
Investigadores dos Institutos de Física (IFSC) e de Química (IQSC) da USP, em São Paulo, desenvolveram um sensor com formato alongado, semelhante a uma caneta, para análise de poluentes químicos eliminados na água.
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Fabricado com grafite, nanopartículas de prata e poliuretano, o sensor deteta bisfenol-A (BPA) – um composto químico considerado um marcador molecular da presença de contaminantes emergentes, como produtos farmacêuticos, hormonas e pesticidas, entre outros.
Paulo Augusto Raymundo-Pereira, coordenador da investigação, refere que entre os poluentes químicos eliminados no meio ambiente, o destaque vai para os denominados interferentes endócrinos, também conhecidos como desreguladores ou disruptores endócrinos.
O BPA, normalmente utilizado na produção de policarbonato (um tipo de plástico duro) e em vernizes (como o que reveste as latas de alumínio) enquadra-se nesta classificação.
Mesmo em baixas concentrações estas substâncias são capazes de interferir no sistema endócrino, que compreende um conjunto de glândulas responsáveis pela síntese de hormonas, originando malefícios na saúde como, por exemplo, desequilíbrio hormonal, infertilidade e cancro em órgãos reprodutores.
Até agora, a identificação desses poluentes emergentes, ainda pouco conhecidos, exige análises de envolvem a recolha e acondicionamento de amostras e longas etapas de limpeza. A detecção do BPA, por exemplo, é conseguida através de técnicas como cromatografia e espectroscopia, métodos de monitorização que são dispendiosos e demorados.
Não existe uma forma simples para a análise de poluentes emergentes, e foi precisamente a inexistência de uma tecnologia prática para o efeito o que motivou os investigadores para o desenvolvimento do sensor portátil.
Inédito no mundo tanto a nível do desenho como pela composição, a caneta-sensor pode ser usada em alternativa às técnicas tradicionais, por qualquer pessoa.
A deteção é realizada pela geração de um sinal elétrico produzido por reações químicas de oxidação e/ou redução que ocorrem na superfície do sensor quando em contacto com uma amostra contendo o BPA.
Os métodos baseados no uso de sensores podem fornecer resultados rápidos e de confiança ainda nas estações de tratamento, o que dispensa a recolha de uma amostra de água para análise em laboratório, o uso de equipamentos sofisticados, e a necessidade de pessoal treinado.
Segundo Marina Baccarin, a investigadora responsável pelo desenvolvimento da caneta-sensor, este pode ser utilizado num rio, um contentor, um poço ou mesmo numa torneira de casa. Em menos de um minuto de contacto da amostra com o sensor é possível saber o resultado da análise. Recorde-se que os testes convencionais demoram semanas, e mesmo meses.
Outra vantagem é o facto de a caneta poder ser usada na posição vertical, mas com o sensor virado para cima e, nesse caso, apenas 25 microlitros da amostra (o equivalente a metade do volume de uma gota) seriam suficientes para realizar o teste.