SPMI e APMGF defendem alterações no sistema de saúde
De olhos postos no futuro dos cuidados de saúde em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) assinam esta quarta-feira, a 28 de março, um Memorando de Entendimento que visa uma maior cooperação entre as duas entidades e as une numa batalha por melhores condições para doentes e profissionais.
Este memorando envolve várias áreas, como a formação, referenciação, a promoção da saúde e a prevenção das doenças, as normas de orientação clínica e a investigação, entre outras.
Questões como o excessivo recurso às urgências, o sobrediagnóstico, o sobretratamento e as consequências para a saúde dos fenómenos climatéricos extremos vão motivar a criação de um grupo de trabalho conjunto, que irá fazer propostas sobre a gestão do doente agudo, estando prevista a apresentação de recomendações até ao fim do primeiro semestre do ano.
Tanto a SPMI como a APMGF consideram ser "muito fragmentados, reativos e centrados na doença" os cuidados prestados aos doentes crónicos, sendo "fundamental mudar este paradigma", pelo que as duas organizações pretendem "exigir mais incentivos na contratualização e mais investimento para a implementação das reformas de proximidade".
"Temos que garantir a continuidade de cuidados, através de uma verdadeira integração entre os vários níveis de cuidados. E a Medicina Geral e Familiar e a Medicina Interna são nucleares para assumir essa integração, dentro e fora dos hospitais", explica Luís Campos, presidente da SPMI.
Rui Nogueira, presidente da ANMGF, concorda e salienta a existência "de uma política de referenciação muitas vezes cega. Precisamos de uma maior proximidade, de uma integração dos cuidados, para que o doente seja o elemento de maior valor nestas andanças de um lado para o outro, dos centros de saúde para os hospitais e destes para os centros de saúde de novo".
O progressivo "envelhecimento da população", a que se junta a "agudização das doenças crónicas", reforça, garante Rui Nogueira, a necessidade de uma relação privilegiada entre as duas especialidades, que se quer fazer também sentir ao nível da formação médica. Por isso, aumentar a cooperação na área da formação, assim como a referenciação entre especialidades, são dois outros dos objetivos deste entendimento.
"O que queremos é fazer do doente o centro dos cuidados", reforça Luís Campos. "Outros dos aspetos importantes é a prevenção da doença, que tem sido negligenciada. Oitenta por cento dos casos de AVC e diabetes e 40 por cento dos cancros podem ser prevenidos com uma mudança nos comportamentos de risco. É preciso que haja um investimento nesta mudança, assim como no aumento da literacia em saúde e temos que aproveitar todas as oportunidades para o fazer, dentro e fora dos hospitais".
O alerta dos decisores políticos e do público em geral para a necessidade de uma integração entre a saúde e a assistência social é outros dos passos a dar em conjunto, tanto mais que a "APMI e a APMGF consideram que os dois tipos de necessidades estão cada vez mais interligadas e os serviços de medicina hospitalares, em particular, estão transformados em verdadeiros centros de decisão dos problemas sociais dos doentes, vendo acumular-se o número de doentes que permanecem internados apenas por motivos sociais".
O Memorando de Entendimento será assinado esta quarta-feira, dia 28 de março, numa cerimónia no Auditório da Universidade Nova de Lisboa, que vai contar com um debate sobre os desafios que se colocam às duas especialidades e aos serviços de saúde nacionais, contando com nomes como Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, António Vaz Carneiro, internista e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, Maria de Belém Roseira, ex-Ministra da Saúde, Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos e Victor Ramos, médico de Medicina Geral e Familiar e professor convidado da Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa.