Esta é talvez a estação mais esperada do ano! Com a chegada do verão, praias, piscinas, esplanadas e jardins enchem-se de multidões ávidas de sol.
Todavia, os meses mais aguardados são também os que requerem cuidados redobrados, pois o tão desejado sol exige proteção. Há que lidar com ele com algumas cautelas para que não venha a transformar-se num perigoso inimigo. Deve ter-se em atenção que a luz solar afeta cada indivíduo de forma diferenciada dependendo do local, tempo de exposição e da forma como a pele de cada um reage aos raios solares.
A pele é o maior órgão do corpo humano, com uma superfície de aproximadamente 1,7 m2 no indivíduo adulto, o que corresponde a cerca de 5,5 por cento da massa corporal. Constituída por três camadas – epiderme, derme e hipoderme –, a pele exerce diversas funções, sendo uma delas a proteção do organismo contra a radiação ultravioleta e contra as agressões mecânicas, químicas e térmicas. Além disso, a sua superfície, relativamente impermeável, impede a desidratação em excesso e atua como obstáculo à invasão microbiana.
A pele é considerada o maior órgão sensorial do corpo, possuindo diversos recetores para o tato, pressão, dor e temperatura. É também o órgão termorregulador de maiores dimensões, exercendo essa função por meio do tecido adiposo e da pilosidade que, em conjunto, impedem a queda excessiva de temperatura, e também por meio da secreção das glândulas sudoríparas, que ao serem lançadas na superfície cutânea e ao evaporar-se, garantem a diminuição da temperatura corporal quando necessário.
Exerce ainda diversas funções metabólicas, pois os triglicéridos encontrados na hipoderme representam uma importante reserva de energia, enquanto que a síntese de vitamina D, que ocorre na epiderme, é indispensável para complementar a quantidade desta vitamina obtida através da dieta alimentar.
A pele e a radiação solar: efeitos malignos e benéficos
A energia do sol chega-nos através de três tipos de radiação: infravermelha (IV), a visível (luz), e ultravioleta (UV). Enquanto a primeira é responsável pela geração de calor e assegura as condições de temperatura necessárias à vida, a segunda – relativamente inócua – é imprescindível para o funcionamento dos órgãos da visão e promoção da fotossíntese. Já a radiação UV é responsável pelo desenvolvimento de doenças cutâneas causadas pela exposição desprotegida ao sol, sendo esta a que impõe maior preocupação.
A radiação UV corresponde à região do espectro eletromagnético emitido pelo sol, compreendida entre os comprimentos de onda de 100 a 400 nanómetros (nm) e pode ser dividida em três regiões, tendo em conta as suas características de propagação e efeitos biológicos: UVA (320-400 nm), UVB (280-320 nm) e UVC (100-280 nm). As radiações UVA e UVB têm recebido maior atenção pois, ao contrário da UVC, não são filtradas pela camada de ozono e são suficientemente energéticas para causar danos à pele.
Os efeitos causados pela radiação dependem de vários fatores, como o comprimento de onda da radiação, a raça e as características dos tecidos da pele. Por essa razão, é fundamental classificar o tipo de pele individualmente para uma melhor compreensão da sensibilidade à radiação UV e perceber as necessidades de proteção.
A mais conhecida classificação dos fototipos cutâneos é a Escala Fitzpatrick, criada em 1975 pelo dermatologista e diretor do departamento de Dermatologia da Escola de Medicina de Harvard, Thomas B. Fitzpatrick – aqui com informação adicional sobre o período de tempo para se atingir queimadura, consoante cada tipo de pele.
Os danos cutâneos causados pela exposição à radiação UV podem ser classificados em imediatos ou agudos, e em tardios ou crónicos.
Quanto aos imediatos ou agudos, a radiação UV, principalmente a UVB, tem a capacidade de induzir eritema (vermelhidão) na pele em 15 a 20 minutos, se a exposição se verificar no verão, em praias do sul do hemisfério, ao meio-dia, por indivíduos de pele clara. Este tipo de eritema corresponde a uma queimadura solar (de grau 1) e induz no organismo uma série de respostas com o objetivo de proteger a pele da agressão.
Um dos mecanismos mais importantes é o da produção da melanina que através da pigmentação da pele – o tão desejado bronzeado –, atua como filtro solar. Dependendo da intensidade da radiação recebida, duração da exposição e tipo de pele, a queimadura solar poderá ser mais grave (de grau 2 ou 3) sendo recomendável o recurso a consulta dos serviços de urgência sempre que se verificar dor severa, bolhas, cefaleias, confusão mental, náuseas e vómitos ou perda dos sentidos (síncope).
Relativamente aos danos tardios ou crónicos, refira-se que uma queimadura solar por si só não é suficiente para induzir cancro cutâneo. No entanto, os efeitos nocivos ficam gravados na estrutura celular da pele e vão sendo adicionados ao longo da vida. Na maior parte dos casos este tipo de cancro surge largos anos depois da exposição solar excessiva, em particular da recebida durante a infância ou adolescência.
Por outro lado, a exposição solar repetida – ainda que não conduza a queimadura – é responsável pelo envelhecimento da pele nas áreas expostas ao sol (fotoenvelhecimento) tornando a pele mais seca, pouco elástica com aumento do reticulado normal e com aparecimento de rugas, discromias (áreas mais claras alternando com áreas mais escuras), aparecimento de sardas ao sol, queratoses actínicas e seborreicas e, mais tarde, cancro da pele.
O reconhecimento de que a proteção solar pode diminuir e, possivelmente, amenizar os efeitos do fotoenvelhecimento da pele tem levado à inclusão do filtro solar em diversas preparações cosméticas como cremes hidratantes fotoprotetores, maquilhagem facial e no tratamento dos cabelos, pois estas áreas do corpo são constantemente expostas e submetidas à radiação solar.
Apesar dos malefícios que o excesso de sol pode causar, a radiação UV também apresenta efeitos benéficos para o organismo e para a saúde, sempre e quando a exposição seja moderada.
Assim, a radiação estimula a produção de vitamina D, que está envolvida no metabolismo ósseo e no funcionamento do sistema imunológico. Por ter um efeito imunossupressor, é benéfica também no tratamento de alguns problemas de pele, aliviando a sintomatologia de patologias com uma natureza auto-imune, como a psoríase e o vitiligo.
Refira-se que a quantidade de sol necessária para estimular a produção de vitamina D é mínima, sendo aconselhada a exposição durante apenas alguns minutos por dia. Sabe-se ainda que o efeito da radiação solar estimula a circulação sanguínea periférica, ao exercer uma ação vasodilatadora; a produção de serotonina, dopamina e melatonina, três substâncias responsáveis pelo bom humor e energia, que "afastam" a depressão; regula as funções corporais e os padrões de sono, e ativa o metabolismo.
É do senso comum que a exposição solar deve ser feita dentro de certos limites, tornando-se fundamental por isso, recorrer à fotoproteção.
Fotoproteção – filtros solares físicos e químicos
Esta tem como objetivo estabelecer uma barreira física entre a pele e o sol prevenindo, deste modo, os seus efeitos nefastos.
Sempre fez parte da natureza humana proteger a pele contra as queimaduras solares, quer pela utilização de roupas e acessórios ou, simplesmente, não se expondo ao sol. Os primeiros relatos científicos sobre a tentativa do uso de agentes fotoprotetores surgem no final do século XIX, com substâncias de efeito bastante limitado.
O primeiro protetor solar a ser comercializado surgiu em 1928, nos Estados Unidos da América, e tratava-se de uma emulsão contendo benzil-salicilato e benzil-cinamato. Porém, durante muito tempo pouca ou nenhuma atenção se deu aos agentes fotoprotetores, sendo o seu uso bastante restrito. Durante a segunda guerra mundial, pela necessidade de fotoproteção adequada para os soldados nas frentes de batalha, em países tropicais, foi utilizado o petrolatum veterinário vermelho (red veterinary petrolatum) como proteção padrão.
Uma nova etapa na fotoproteção foi atingida com o aparecimento de um filtro químico o PABA (ácido para-aminobenzoico), patenteado como o primeiro filtro solar em 1943. Na década de 1970 ocorreu a popularização dos agentes fotoprotetores do tipo UVB. Os filtros de tipo UVA surgiram mais tarde, na década de 1980 e 1990, com os filtros físicos dióxido de titânio e óxido de zinco, respetivamente.
O protetor solar – classificado em Portugal como Produto Cosmético e de Higiene Corporal (PCHC) – destina-se a bloquear o sol e "defender" ou "abrigar" as células da pele contra os efeitos nocivos da radiação UV. De uso tópico, sob a forma de cremes, leites ou sprays, apresentam formulações diferentes contendo produtos e ingredientes diversificados que permitem essa defesa.
Essas substâncias atuam através de mecanismos básicos de reflexão, dispersão e absorção da luz ultravioleta. Podem também ser classificados, segundo as suas propriedades, em filtros físicos e químicos.
Os filtros físicos – também conhecidos como inorgânicos –, são partículas derivadas de metais, ou óxidos metálicos, que atuam através de mecanismos óticos, refletindo ou dispersando os raios solares, sendo o óxido de zinco e o dióxido de titânio os principais desta classe.
Estão também disponíveis em nanopartículas, o que lhes confere uma coloração mais discreta do que a das formulações anteriores, que deixavam a pele com aspeto esbranquiçado ou acobreado. Geralmente, são associados aos filtros químicos, ou orgânicos, para uma melhor cobertura em relação ao espectro de raios ultravioleta. A vantagem deste tipo de filtros é ser mais estável e penetrar pouco na pele, sendo ideais para indivíduos alérgicos ou com sensibilidade cutânea elevada.
Já os filtros químicos são moléculas que absorvem a radiação ultravioleta, através de reações químicas, penetrando nos pigmentos cutâneos na sua avidez por energia solar. Dessa maneira, impedem que a radiação atinja as células da pele. Na sua formulação é encontrado o metoxicinamato de octilo, salicilato octílico e octocrileno, entre outras substâncias.
Dependendo da faixa em que cada molécula atue, será considerado um filtro solar de amplo espectro (que atua na faixa do UVA e UVB) ou exclusivo UVA ou UVB. Os filtros solares comercializados contêm, geralmente, mais do que uma molécula para atuarem numa faixa mais alargada. No entanto, em relação aos filtros físicos, possuem uma menor estabilidade, pois "saturam" a sua capacidade de absorver energia ao longo do tempo, necessitando reaplicações frequentes, em caso de exposição prolongada. Além disso, este filtro solar pode penetrar na pele e interagir com ela, potenciando reações alérgicas e fotoalérgicas.
Sabe-se que cada indivíduo apresenta diferentes sensibilidades aos raios solares. Assim, para se obter um índice de proteção adequado em função do tipo de pele, os protetores solares necessitam de apresentar eficácia, sendo que esta é assegurada pelo Fator de Proteção Solar (FPS).
Desenvolvido há mais de trinta anos, o FPS é o método universalmente aceite para avaliação da eficácia fotoprotetora dos filtros solares, sendo considerada a informação mais relevante incluída na rotulagem dos fotoprotetores. Os protetores solares classificam o seu FPS entre: Proteção baixa (6 a 10); Proteção média (15 a 25); Proteção elevada (30 a 50); e Proteção muito elevada (superior a 50).
Contudo, na escolha de um agente fotoprotetor, além do FPS, os dados relativos à substantividade – capacidade de se ligar à camada córnea sem ser absorvido; a remanescência – resistência à água e hipersudação; a foto-estabilidade – não ser degradado pelos UV e manter-se ativo; cosmeticidade; e segurança – não irritar nem provocar reações de fotossensibilidade, devem ser igualmente considerados.
Além disso, quando se trata de proteção face à radiação UV deve combinar-se a utilização dos protetores solares com outras medidas, não menos importantes.
Outras medidas de proteção
A utilização de vestuário adequado durante a exposição solar tem sido reconhecida como medida importante de fotoproteção. Apesar do uso de roupas permitir proteger contra os raios solares, pelo facto de absorver ou refletir a radiação UV, é importante dar atenção ao tipo de tecido, à cor e qualidade do material, pois esta influencia a sua capacidade de proteção.
Assim, no que respeita ao material, quanto mais espessa for a roupa maior a proteção (por exemplo, os Jeans e roupa de fibras de poliester tem maior capacidade de absorção de radiação UV do que o algodão ou o linho); as roupas de cores claras, nomeadamente o branco, diminuem a capacidade de proteção pelo facto de permitirem que uma parte da radiação atravesse o material, em comparação com roupas de cores mais escuras, como o azul ou o preto.
Saliente-se também que a utilização de roupa molhada, como por exemplo uma t-shirt, diminui a capacidade de proteção em 30 a 40 por cento em comparação com a mesma quando seca.
Para além do vestuário, sugerem-se algumas medidas e conselhos para evitar queimaduras solares:
Não se deve ficar exposto ao sol entre as 11 e as 17 horas pois, neste período, as radiações solares incidem na vertical e são muito mais intensas em raios ultravioletas A, as que mais profundamente penetram na pele.
Um chapéu de sol, um chapéu individual de aba larga, que proteja orelhas, pescoço, rosto e cabelo e verdadeiros óculos de sol (que devem bloquear os raios UVA e UVB), também não devem ser descurados.
Quando exposto ao sol, não se deve adormecer. Recomenda-se movimento, com idas frequentes ao banho se estiver na piscina ou na praia. Há também que ter particular cuidado nos dias nublados e ventosos pois os raios UV atravessam facilmente as nuvens, podendo provocar um escaldão.
É geralmente aceite que uma pele com um tom bronzeado é bonita e atrativa, mas é importante não esquecer que para o conseguir é preciso agredir a pele, causando danos potencialmente irreversíveis, que se vão acumulando. O bronzeado desaparece com o tempo, mas os danos causados permanecerão por toda a vida, e tornar-se-ão mais evidentes com a idade.
Assim, aproveite o calor, a possibilidade de ir à praia, desfrute das merecidas férias, e do ansiado passeio de descapotável pela marginal, mas atenção… o sol e as suas consequências devem ser levados a sério. Proteja-se, e goze o verão com muita saúde!
Face ao esperado agravamento das condições climáticas, torna-se necessário estar precavido e saber cuidar da pele, primeira linha de defesa do nosso corpo contra as intempéries.
Mais de metade da população mundial a viver em grandes cidades, torna-se urgente reinventar espaços onde as pessoas possam estar em contacto com a mãe-natureza.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.