MEDICAMENTOS E CONDUÇÃO

MEDICAMENTOS E CONDUÇÃO

MEDICINA E MEDICAMENTOS

  Tupam Editores

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Os acidentes de viação são entre nós um importante problema de saúde pública. De acordo com as estatísticas, Portugal é um dos países da União Europeia (UE) com a mais elevada taxa de acidentes, mortes e feridos por habitante.

Vários factores contribuem para a elevada sinistralidade, sendo de salientar o estado das estradas, nomeadamente o piso e a deficiente sinalização, os comportamentos – onde se inclui o excesso de velocidade, não cumprimento do código da estrada, consumo excessivo de bebidas alcoólicas –, e o estado emocional e físico dos condutores.

A análise aos dados estatísticos permite verificar que, nos acidentes envolvendo peões, Portugal está em pior situação comparativamente com os estantes países da UE. Muitos destes acidentes têm como causa aspectos relacionados com a saúde. Por isso, a intervenção dos profissionais do sector é extremamente pertinente e necessária, nomeadamente nos problemas da visão, situações de fadiga e apneia do sono, alcoolismo e toxicodependência e efeitos adversos de medicamentos, entre outros.

O perigo dos medicamentos para a condução é uma das vertentes da sinistralidade rodoviária para a qual os condutores, autoridades e, em muitos casos, a própria comunidade médica não estão suficientemente alerta. Em países como o Reino Unido ou a Bélgica verificou-se que cerca de 24 por cento dos condutores envolvidos em acidentes tomaram ou estavam sob a influência de medicamentos. Em Portugal, é sabido que o consumo de medicamentos psicotrópicos é o segundo mais elevado da Europa, imediatamente a seguir à França.

Apesar de nos países desenvolvidos os números da sinistralidade rodoviária terem vindo a diminuir, constata-se, porém, que se as tendências actuais persistirem a nível mundial, a incapacidade por lesões provocadas em acidentes rodoviários até 2020 poderá vir a sofrer um acréscimo acima de 60 por cento. A confirmar-se, este facto colocará os acidentes de viação na terceira posição do ranking da Organização Mundial de Saúde (OMS) das causas de morbilidade no mundo. É por isso fundamental que, para contrariar esta nefasta tendência, aumentemos os níveis de precaução, quer como peão quer como condutor.

Ainda que nem sempre seja aplicada, todos memorizámos a esclarecedora regra "Se Beber Não Conduza". No entanto, a relação perigosa que se pode estabelecer entre a medicação e a condução é desconhecida para a maior parte das pessoas. A actividade de conduzir pode tornar-se três a cinco vezes mais perigosa quando realizada sob a influência de determinados fármacos, e tão ou mais perigosa que a condução sob o efeito de álcool.

A condução automóvel é uma tarefa exigente que requer que todas as faculdades do condutor estejam em perfeitas condições para dar resposta instantânea aos inúmeros riscos e exigências associadas à circulação rodoviária. Devido à prática e à capacidade de adaptação do ser humano, nem sempre estamos conscientes das múltiplas situações com que nos deparamos e a que temos de prestar atenção simultaneamente.

Além da condução propriamente dita da viatura, há que estar atento, nomeadamente, à sinalização, às outras viaturas em circulação na via e às condições climatéricas. Basta uma pequena distracção ou reacção mais lenta para originar consequências desastrosas.

Poucos são os condutores que sabem que os medicamentos, embora necessários para o bem-estar das pessoas, podem, nalgumas situações, prejudicar o seu desempenho físico e psíquico.

Medicamentos que mais afectam a condução

De início o doente nem se apercebe de tal facto, por não notar absolutamente nada de anormal. No entanto, alguns medicamentos podem ter um impacto mais negativo na condução do que o álcool, especialmente no início do tratamento, ou quando se tomam vários simultaneamente. Mesmo alguns medicamentos de venda livre, frequentemente auto-medicados, podem contribuir para uma condução de risco.

Existem alguns sinais de alerta que os condutores não devem menosprezar, como a fadiga, sonolência, cansaço, confusão mental, vertigens, tonturas ou sensação de cabeça vazia; perturbações da percepção (especialmente da visão); náuseas ou mal-estar, tremores, alterações da coordenação motora, movimentos involuntários; dificuldade em pensar claramente ou em concentrar-se; irritação ou agressividade; excesso de confiança/perda da noção de perigo ou irregularidades na condução, variando entre velocidade lenta e rápida ou incapacidade de manter a trajectória.

Entre os medicamentos que podem afectar a competência para a condução estão os que actuam no sistema nervoso, como os antipsicóticos, ansiolíticos, hipnóticos, sedativos ou antidepressivos (e outros psicotrópicos). Estes medicamentos afectam a capacidade de atenção e de vigilância, o tempo de reacção, as capacidades perceptivas e cognitivas e o desempenho motor (muscular e de reflexos). Há que ter um cuidado especial com os medicamentos psicotrópicos pois podem manter a sua actividade durante várias horas, mesmo depois de acordado, aumentando mesmo os seus efeitos nocivos se não se dormir o número suficiente de horas (cerca de 7 a 8 horas).

Nos doentes crónicos, nomeadamente os que estão afectados por problemas do sistema nervoso ou do foro mental, epilepsia, diabetes, hipertensão arterial ou perturbações cardíacas, um tratamento adequado é fundamental para que se possa conduzir em segurança. Os portadores destas patologias, se por esquecimento ou outra razão, não tomarem os medicamentos prescritos, deverão abster-se de conduzir.

Os problemas, porém, não se circunscrevem à utilização de fármacos em doenças graves ou crónicas – com estes, os doentes estão mais controlados, informados e atentos às suas limitações. É necessário, igualmente, ter-se precaução com medicamentos presumivelmente "inocentes" usados para episódios clínicos passageiros e/ou menos graves, que podem não necessitar de receita médica e, por essa razão, não estar associados à condução de viaturas. O mesmo é válido para os produtos à base de plantas ou de ervanária.

Vários medicamentos de venda livre, considerados geralmente inócuos, como analgésicos (para dores ligeiras), antitússicos, anti-histamínicos (alergias), antigripais, diuréticos ou pomadas e gotas oftalmológicas, muitas vezes automedicados, podem ter consequências afectando a segurança na condução.

Outro grupo que deve ter um especial cuidado com o uso dos medicamentos é o dos trabalhadores com actividade por turnos, particularmente se tomarem psicotrópicos. Devido à irregularidade dos períodos de sono, podem ver agravados os efeitos secundários desta classe de fármacos. Nestes casos há que adequar a toma dos medicamentos aos ciclos de descanso dos doentes.

Se a interferência dos medicamentos com a condução se pode tornar muito perigosa, a conjugação medicamentos + condução + álcool potencia consideravelmente o risco de acidente de viação.

Combinados com o álcool, o efeito adverso de diversos fármacos sobre as capacidades perceptivas de concentração é multiplicado. Estão neste caso, nomeadamente, os analgésicos opiáceos e derivados, tranquilizantes, sedativos e ansiolíticos, anticonvulsivantes, antidepressivos, antipsicóticos, antiparkinsónicos, antidiabéticos, anti-histamínicos H1, anti-hipertensores, diuréticos e antianginosos, estimulantes cerebrais, vasodilatadores, antitússicos centrais, medicamentos específicos para o tratamento da enxaqueca e oftálmicos.

Alguns jovens, para obterem efeitos semelhantes ao das drogas ilícitas, ingerem cocktails de bebidas alcoólicas com medicamentos, particularmente com sedativos. Conduzir sob o efeito de misturas como esta é extremamente perigoso. Perigo que aumenta quando a condução se faz durante a noite ou madrugada, juntando a fadiga aos efeitos do álcool e dos medicamentos.

Os medicamentos actuam de forma diferente em cada pessoa, seja em relação ao tempo de absorção – que pode ser de horas a alguns dias –, ou aos efeitos que provocam.

Com o avançar da idade deve ter-se especial cuidado com os efeitos secundários dos medicamentos na segurança da condução. A eliminação das substâncias torna-se mais lenta e pode acabar por acumular-se no organismo e mesmo doses pequenas podem ter um efeito mais prolongado que o habitual.

As pessoas que vão conduzir e precisam de tomar medicamentos – prescritos pelo médico ou automedicados – deverão informar-se previamente, junto do médico ou farmacêutico, dos efeitos secundários da sua medicação e das possíveis interacções perigosas, já que estas podem reforçar os seus efeitos nefastos e diminuir as capacidades necessárias à condução.

A toma de antitússicos, analgésicos, anti-histamínicos, calmantes, antidepressivos, medicamentos para dormir e similares, deverão ser objecto de um cuidado especial. Os estimulantes, que também têm efeitos negativos para a condução, não eliminam a fadiga mas antes a sensação de cansaço, desactivando, assim, o "sistema de alarme" do organismo.

Actualmente não é aceitável que os profissionais da saúde, em relação aos acidentes, privilegiem a actuação pós-acidente. Estes, em especial os médicos, podem ser um elemento-chave na diminuição dos acidentes rodoviários.

Para além da componente informativa, têm um papel muito importante a nível da formação e educação para a saúde. É igualmente fundamental o acompanhamento por estes profissionais, ao longo do tempo, de forma a dar suporte continuado às pessoas que conduzem e simultaneamente tomam medicamentos passíveis de afectar as suas capacidades durante a condução.

Todos os profissionais de saúde – médicos, e principalmente os farmacêuticos, no caso dos medicamentos não sujeitos a receita médica – têm um papel fulcral na prevenção deste problema, devendo alertar de forma clara as pessoas, que vão tomar medicamentos que interferem com a condução, sobre os seus possíveis inconvenientes e, se necessário, ponderar acerca da compatibilidade entre essa toma e o acto de conduzir.

Para conduzir em segurança

Como não há medicamentos inócuos, o melhor é apostar na prevenção. Em matéria de condução, significa, antes de mais, fazer um uso seguro dos medicamentos.

O condutor não deve tomar medicamentos que não tenham sido receitados recentemente pelo seu medico, ou fármacos prescritos a outras pessoas. O que é bom para um amigo ou vizinho pode não ser bom para si. Os sintomas podem ser os mesmos mas as causas não, além de que cada organismo reage de forma diferente à mesma substância.

Antes de se iniciar a toma de um medicamento deve verificar-se sempre, com o médico assistente, farmacêutico ou através da literatura que acompanha o medicamento, se os seus efeitos podem afectar a condução. Deve ter-se especial precaução quando o folheto informativo contiver algum destes avisos: "Este medicamento pode causar sonolência e aumentar os efeitos do álcool" ou "Este medicamento pode afectar a vigilância mental e/ou a coordenação motora". Se isso acontecer, não deve conduzir ou manipular máquinas.

Quando se iniciar a toma de um medicamento que possa alterar a capacidade de condução, antes de se voltar a conduzir, deve aguardar-se alguns dias até que o organismo se tenha adaptado aos seus efeitos. Devem ser respeitados as doses e horários prescritos para a toma dos fármacos. Se os efeitos secundários se manifestarem de forma que possam afectar a condução, não se deve conduzir sem falar com o médico de família para, eventualmente, substituir o medicamento.

Não devem ser ingeridas bebidas alcoólicas quando se tomam medicamentos, porque os seus efeitos podem potenciar-se reciprocamente. Deve também evitar-se a toma de outras substâncias ou produtos, mesmo que naturais ou de ervanária, como estimulantes ou energéticos porque podem aumentar o risco para a condução.

As pessoas medicadas com fármacos cujas propriedades podem afectar a condução deverão ser particularmente cuidadosas, conduzindo apenas quando sentirem que podem fazê-lo em completa segurança. Preferencialmente deverão fazer viagens curtas, durante o dia, a velocidade moderada e optando por circular em caminhos que conheçam e com pouco tráfego.

Para uma condução segura, a regra de ouro é não esquecer de perguntar ao médico assistente se os medicamentos que estamos a tomar poderão afectá-la. Os seus conselhos deverão ser seguidos e se tivermos mesmo de deixar de conduzir, por falta de alternativas, então, façamo-lo.

Passar o volante a outra pessoa, não só pela segurança do condutor e seus acompanhantes, mas também pela dos que com ele partilham a estrada, quando tem diminuídas as suas capacidades é, mais que um dever, um acto altruista de quem prescinde do prazer da condução. Todos temos a obrigação de dar o nosso contributo para uma maior segurança nas estradas e os profissionais da saúde estão na primeira linha!

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Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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