Tradicionalmente, o mês de dezembro no mundo ocidental é o mês dos exageros! Seja nos preparativos para as festividades do Natal, com as pessoas a atropelarem-se nos centros comerciais, num desvario irracional de compras, na sua maioria supérfluas, seja no trânsito automóvel ou no fluxo de pessoas para as suas regiões de origem para consoarem com os seus familiares.
Também nas empresas e na generalidade dos locais de trabalho, as tarefas muito vezes adiadas ao longo do ano se multiplicam, sobrecarregando as pessoas e consequentemente criando um clima de stress, nada condizente com uma época que se pretenderia de festa, reunião familiar, troca de afetos, de paz e tranquilidade que como tal deveriam ser comemoradas.
Esta espécie de histeria coletiva que deriva da pressão da sociedade consumista instalada, que perverteu todos os valores tradicionais da família, vai no entanto continuar e prolongar-se-á até às festividades da passagem do ano com novos movimentos massivos de pessoas através de todo o país e cada vez mais espalhados para o estrangeiro, com os aeroportos a abarrotar de pessoas impacientes, mal dormidas e em stress, que nem se quedam a contabilizar os custos do investimento feito por uma ou duas noites de ilusório prazer, quanto vezes defraudado por um recorrente déjà vu.
Nesta fátua e desenfreada alegria sem preconceitos, em que se transformam os festejos da passagem de ano, quase como se de uma "competição" se tratasse, é comum "abusar" das comidas e principalmente das bebidas, muitas vezes de forma completamente irracional, dando origem a não poucos acidentes evitáveis, que por vezes entopem as urgências dos hospitais.
Fim de ano é época de festas e diversão, porém torna-se necessário que haja alguma prudência com os excessos, quer no consumo da excelente comida mediterrânica típica da época, quer nas bebidas com que inevitavelmente é regada! Os nutricionistas afirmam que o álcool é uma "caloria vazia", porque não contém vitaminas nem minerais e, como se não bastasse, ainda contribui para a desidratação das células.
Os principais riscos nas bebidas alcoólicas, são a irritação da mucosa do estômago e esófago, favorecendo gastrites e esofagites, úlceras e, eventualmente, sangramento digestivo. Além disso, podem acarretar hipoglicemia em virtude do álcool exaurir as reservas de açúcar do fígado. Por isso, o consumo deve ser muito consciente para não antecipar o fim das comemorações. Uma boa opção é alternar a bebida com goles de água, pois o álcool favorece a desidratação do organismo ao inibir a hormona antidiurética, responsável pela retenção da água no corpo.
O excesso de comida e bebidas, tão comuns na época, pode conduzir a situações de mal-estar e desequilíbrios que é necessário corrigir passados o Natal e réveillon, a fim de restabelecer o equilíbrio do organismo. Além disso é necessário pôr em prática as promessas habitualmente feitas para o novo ano no que respeita à saúde, como forma de compensar os excessos cometidos nas festas do fim de ano.
Nunca é demais lembrar que comer bem não é sinónimo de comer muito. A tática é comer primeiro com os olhos, com o olfato e só depois levar o alimento à boca, mastigando lentamente e saboreando-o antes de engolir. Isto porque existe um lapso de tempo entre a entrada do alimento no estômago e a comunicação com o cérebro. Ao comermos lentamente, aumentamos a sinalização de saciedade para o cérebro e, por consequência, ingerimos menos alimentos.
A pior atitude a tomar ante a perspetiva de uma lauta refeição de Natal ou de fim de ano, é deixar de comer nas horas ou mesmo dias anteriores, somente com o intuito de se poder desfrutar das refeições com que imagina se irá banquetear! Tal atitude vai abrir ainda mais o apetite, acabando por se ingerir tudo o que se deparar pela frente, em particular as chamadas bombas calóricas típicas da época.
É essencial ter em mente que o nosso organismo irá levar algumas semanas para voltar a equilibrar-se novamente. A verdade é que gastamos mais tempo para voltar ao ritmo metabólico normal que para abusar nos dias de festa, daí ser importante ponderar o que vale a pena.
Ante a perspetiva de uma mesa recheada, é muito importante alguma contenção e comedimento nas escolhas. Não se devem substituir alimentos caseiros por produtos industriais ou guloseimas como bombons e similares, carregados de açúcar, ou por bebidas, até porque estas, estão na sua maioria recheadas de calorias indesejadas. Sem que nos apercebamos, os sumos artificiais, refrigerantes, cocktails, e em particular todas as bebidas alcoólicas, podem acrescentar mais uns quilos ao peso ideal, sendo por isso preciso ter alguma parcimónia ao beber já que o próprio álcool estimula o apetite.
Em qualquer festa convívio é normal que existam opções alimentares variadas mais ou menos saudáveis, sendo por isso muito importante saber fazer as escolhas acertadas. As saladas de vegetais ou de frutos, os mariscos e carnes brancas grelhadas, embora não sejam o ideal face à presença de tantas iguarias habitualmente à disposição, proporcionam uma refeição de baixas calorias, não sendo por isso impeditiva de nos privarmos por completo de algumas "tentações".
Desde que em pequenas quantidades, pode inclusive provar-se um pouco de tudo e assim satisfazer a gula sem comprometer a linha e a saúde. Uma outra forma de evitar os exageros alimentares e as bebidas é concentrarmo-nos nas pessoas, pondo a conversa em dia, ajudando os anfitriões quando for o caso, brincar com as crianças para nos mantermos ocupados, e na animação que decorre à nossa volta que nos distrai e afasta dos líquidos e da tentadora doçaria.
Os especialistas da nutrição dizem que em média no Natal e fim de ano se ganham 2 a 3 quilos de peso, que podem levar algum tempo para desaparecer e obrigar a alguma disciplina pessoal. Nesse caso, a manutenção de uma dieta rigorosa e um bom plano de exercício físico, não abandonando os bons hábitos alimentares, poderão contribuir para que o equilíbrio se restabeleça.
Reação do organismo aos excessos
Como vemos, é difícil deixar de associar as festas de fim de ano com comida e bebidas em excesso e horas de sono a menos, em particular entre as pessoas mais jovens. Porém, será que mesmo entre as pessoas que habitualmente se preocupam em manter um estilo de vida saudável ao longo do resto do ano, não poderão uma vez por outra fugir dessa rotina e deixar-se levar por excessos?
Segundo especialistas em gastrenterologia de prestigiadas universidades, tudo depende de "quanto cada um se excede". A preocupação não deve centrar-se somente no aumento de peso ou no colesterol elevado. As bactérias residentes no nosso sistema digestivo sofrem um enorme impacto quando ingerimos por exemplo, alimentos ricos em gordura, como foi comprovado em estudos levados a cabo pelas Universidades de Liverpool (Reino Unido) e de Chicago (EUA), indicando que a proporção entre bactérias benéficas e microrganismos prejudiciais ao organismo pode ser alterada por uma má alimentação.
O investigador Barry Campbell acrescenta que, se uma alimentação desequilibrada for mantida durante um certo tempo, podem ocorrer distúrbios a longo prazo, como por exemplo uma inflamação intestinal, não obstante o microbioma intestinal ter uma enorme capacidade de recuperação.
Segundo aquele investigador "Nada faz realmente mal se for ingerido com moderação", observou o gastroenterologista. "As mudanças que observamos quando exageramos na comida ou na bebida não são boas a curto prazo, mas elas não provocam danos a longo prazo." Por isso, um dia de excessos em comida ou bebida, quando seguido de um período de alimentação mais ligeira e equilibrada não é necessariamente nocivo para a saúde.
A importância das verduras e legumes na recuperação
Outra boa notícia para os que não conseguem resistir às tentações da ceia natalícia e do réveillon do fim de ano é que certos legumes e verduras são particularmente benéficos para o reequilíbrio do organismo, inclusive alguns dos que habitualmente fazem parte do cardápio da época. Os seus componentes são em grande parte ricos em agentes antimutagénicos, que podem ter um importante papel na redução do cancro do intestino, substâncias essas que neutralizam o efeito das proteínas conhecidas por lectinas, que podem ser bastante prejudiciais, uma vez que podem modificar ou até destruir células.
As carnes também são ricas em lectinas; por isso, mesmo as pessoas que as baniram de suas dietas, podem igualmente estar sob risco se ingerirem leguminosas, pois estas também contêm proteínas. Apesar do risco de indigestão que os excessos alimentares podem comportar, segundo especialistas em gastrenterologia, um ou dois dias de comezaina não deverão provocar consequência graves, particularmente se forem seguidas de pequenos exercícios físicos, como caminhadas, que podem contribuir para reduzir o impacto na saúde em geral. Outra coisa será se os excessos não se limitarem a apenas uma refeição ou um dia…
Investigadores do Reino Unido levaram a cabo experiências, cujos resultados sugerem que contrariamente àquilo em que se acredita, o ganho de peso de um grupo de voluntários não foi mais acentuado durante as festas de fim de ano. Todavia, tiveram mais dificuldade em perder um par de quilos extra depois de férias, provocando um acúmulo de peso ano após ano, levando-os a admitir que um pequeno ganho de peso durante a quadra de fim de ano, cumulativamente com a estação de inverno, contribuem para o aumento de peso que frequentemente ocorre na idade adulta.
Provou-se ainda que pequenos exercícios diários, nos períodos em que a ingestão de calorias ultrapassa os padrões normais, melhoram a regulação do açúcar no sangue e diminuem a indesejada variação genética nas células de gordura. Portanto, as pessoas devem aproveitar para se divertir ao máximo e desfrutar da excecional cozinha mediterrânica durante as festividades, mas compensar posteriormente, mantendo alguns dias de alimentação leve e fazendo umas caminhadas.
Sempre que possível, o tempo livre deve ser usado para praticar exercício e, se for frequentador habitual de um ginásio, não falte ou desleixe pois essa é também uma forma de compensar os excessos do mês de dezembro.