CASTRAÇÃO – GATOS

CASTRAÇÃO – GATOS

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  Tupam Editores

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Muito se tem escrito sobre os benefícios e riscos de ter um gato como animal de companhia. O gato é um animal muito apreciado pelo homem e relativamente bem conhecido na cultura popular, estimando-se em 2,4 milhões o número de felinos existentes nos lares portugueses.

A nossa sociedade e o ritmo de vida que lhe está associado levam a que a escolha de um animal de estimação seja ponderada. Esta reflexão conscienciosa deverá ter em conta quer o papel que o gato virá a ter no seio de cada lar, quer o tempo que o dono passará a ter de partilhar com ele.

É neste contexto que se tem verificado que os gatos, por se adaptarem facilmente ao estilo de vida moderna, serem delicados, companheiros, afetuosos, e de espírito cúmplice e brincalhão, são cada vez mais a escolha de eleição ajustada à nossa realidade. O seu ar de mistério, autoconfiança e altivez tornam-no atraente e fascinante.

Com uma postura aristocrática, o gato tem características muito particulares e, tal como as pessoas, personalidades diversas. É autêntico, age de acordo com os instintos e é sincero nas atitudes, não temendo manifestar o que lhe desagrada.

Combina um forte sentido de independência com uma profunda afeição ao seu dono. Por ser autossuficiente não necessita que o levem a passear, pois mantém-se limpo e asseado, aprendendo facilmente a viver dentro das regras da casa.

Ser dono de um gato deve ser uma decisão voluntária, que proporcione prazer e alegria, mas também exige responsabilidades, que devem ser ponderadas calmamente.

A responsabilidade sobre um animal de companhia não termina na educação e na sociabilização, é fundamental dar-lhe condições de vida adequadas, bem-estar, respeito, afeto, zelando pela sua saúde com alimentação e cuidados veterinários adequados (vacinação, desparasitação, reprodução e controle de natalidade, entre outros).

Lamentavelmente, nem todos os animais têm a sorte de conseguir um bom lar, e donos responsáveis que zelem pela sua saúde e bem-estar. A população de gatos cresce descontroladamente dia após dia. Este aumento resulta não só das ninhadas de animais que vivem nas ruas, mas sobretudo das ninhadas geradas por animais ao cuidado de alguém.

Esta superpopulação de animais de companhia, ou seja, a existência de um número muito mais elevado de animais do que de famílias dispostas a acolhê-los, tem como consequência o sofrimento e morte de muitos milhares de animais todos os anos.

A situação já não se resolve com mais albergues para animais nem com mais campanhas de adoção. O problema tem de ser atacado pela raiz, educando as pessoas para que impeçam que os seus animais se reproduzam e para que os esterilizem ou castrem.

Esta é a maneira mais eficaz de lutar contra o gravíssimo problema da superpopulação de animais de companhia e os inúmeros problemas associados, mas também é um ato de amor, e uma forma de proteger o nosso animal de companhia.

Vantagens e desvantagens para os animais

A castração de animais é um tema controverso na comunidade em geral. Há quem pense que castrar um gato é cruel, indigno e que anula a sua verdadeira essência. Já entre os veterinários, a necessidade de castração destes animais é consensual.

A castração consiste na extração do útero, trompas e ovários (ovariossalpingohisterectomia – OSH), no caso das fêmeas; e na retirada dos testículos (orquiectomia), nos machos.

Por natureza, os felinos jovens, na puberdade e antes da castração – os machos principalmente –, assumem um comportamento de marcação territorial, que poderá tornar-se numa verdadeira dor de cabeça. A título de exemplo, eles repetem o ato de espalhar jatos de urina pelos cantos da casa, nas paredes, móveis, sofás, etc, para marcar território.

Este é, aliás, o comportamento felino com maior número de queixas por parte dos proprietários, que pode ser eliminado através da castração.

Porém, os benefícios da castração não ficam por aqui. Mais do que o dono, o animal também beneficia. Nos gatos macho, a orquiectomia deve ser realizada aos 6-7 meses de idade – altura em que ainda não desenvolveram as características sexuais secundárias, como o espessamento da pele da face (bochechas), espiculas (pequenos espinhos de carne) no pénis e um corpo musculado, mas já atingiram o tamanho de adulto –, sendo vantajosa antes do animal atingir a maturidade sexual, o que ocorre por volta dos 9 meses.

Apesar de a cirurgia implicar anestesia geral, os riscos que acarreta são reduzidos. Na maioria dos casos o animal volta para casa no próprio dia, tendo apenas que usar um colar e tomar medicação durante alguns dias.

Basicamente, o procedimento envolve a remoção dos testículos do animal. Os testículos do gato produzem a testosterona, responsável pelo comportamento sexual dos gatos adultos sendo que, ao removê-los, interrompe-se a produção daquela hormona, tornando os animais inférteis.

A partir daqui muita coisa muda. A castração evita os comportamentos de marcação de território através da urina, que provocam estragos na casa e muito mau cheiro, e ainda ajuda a diminuir o comportamento de arranhar pela casa. O melhor, porém, é evitar a reprodução indesejada, diminuindo assim ninhadas de gatinhos sem dono ou abatidos ao nascer.

Embora não modifique a personalidade do animal – pois esta depende da herança genética, do ambiente e da educação, e não das hormonas sexuais –, este torna-se menos agressivo; a ansiedade e o hábito de fugir ou de "montar" outros animais e pessoas diminui; deixa de vocalizar na tentativa de atrair gatas e é mais fácil mantê-lo sossegado em casa.

Desta forma, terá menos hipóteses de ser atropelado, cair da janela ou ser agredido, mantendo-se afastado das lutas pelo território, reduzindo o risco de ser ferido por outros gatos e contrair doenças infeciosas incuráveis (leucemia felina – FeLV e imunodeficiência felina – FIV).

A castração melhora, sem dúvida, a qualidade de vida dos animais domésticos: nos machos evita tumores testiculares, hérnias perineais, tumores de glândulas hepatoides, tumores de glândulas perianais, quistos prostáticos, entre outros; nas fêmeas previne o cio, o cancro do ovário ou do útero, praticamente elimina o risco de desenvolver tumores da mama, previne a piómetra, a pseudogestação (gravidez psicológica ou falsa gestação), diminui o risco de contraírem doenças venéreas transmitidas pelo ato sexual ou ainda doenças transmitidas por dentadas de outros animais, e diminui o risco de atropelamento por fuga.

Todos estes fatores, em conjunto, contribuem para que a esperança de vida de um gato castrado seja de cerca de 15 a 17 anos enquanto a de um gato não castrado (inteiro) que tenha acesso à rua é de apenas 3 a 5 anos.

Em suma, a castração não é uma imposição dos seres humanos aos animais, é um ato responsável que denota cuidado e preocupação. É importante lembrar que não será tirado do gato o "prazer sexual", pois esse prazer na realidade não existe!

Não é um argumento válido contra a castração a comparação da sexualidade dos gatos com a dos humanos, pois eles cruzam não por prazer e vontade, mas por um instinto de reprodução que, quando eliminado, significa a eliminação de uma imposição da natureza que não tem nada a ver com satisfação e prazer, mas com a (simples) reprodução incessante da espécie. Com a castração elimina-se todo um ciclo de abandono e descuido com os animais.

Apesar de todas as vantagens, existem alguns aspetos menos benéficos com os quais há que lidar. A castração, tanto de machos como de fêmeas, pode levar à obesidade e à consequente diminuição da atividade física, o que parece predispor para a doença do trato urinário inferior (DTUI).

Não é estranho estes animais desenvolverem problemas renais e cálculos urinários, pois urinam menos vezes por dia – um problema que pode ser prevenido estimulando-os a beber mais água. As fêmeas, embora muito raramente, também podem desenvolver incontinência urinária. Em ambos existe ainda uma incidência maior de bolas de pelos e de alterações na textura do próprio pelo.

Quanto à obesidade, é uma realidade que os gatos castrados têm tendência a permanecer mais calmos e sedentários, e alguns até podem aumentar de peso. Neses casos é recomendável tentar que o animal faça mais exercício, desafiando-o para brincadeiras e corridas, que eles muito apreciam, e que servem para ajudar a manter a forma.

Quanto à dieta, também deve sofrer algumas alterações – controlar a dose diária de comida e optar por uma alimentação específica para gatos castrados, são os passos a seguir.

A alimentação dos gatos castrados

Cada fase da vida de um gato merece e precisa de uma alimentação equilibrada e adequada, que forneça todos os nutrientes de que precisa. Para atender a essa exigência o mercado dispõe de rações para gatos filhotes, adultos, séniores e rações medicamentosas.

Esta última categoria destina-se a animais que possuem algum tipo de enfermidade ou condição especial e que, por isso, necessitam de uma alimentação diferenciada, como é o caso de gatos diabéticos, insuficientes renais, entre outros.

Existem ainda rações específicas para animais castrados, que são menos calóricas e auxiliam no controle do pH urinário (através da tecnologia Stone Neutral), fornecendo minerais equilibrados, de forma a minimizar os efeitos negativos provenientes do processo da castração.

Como referido, os gatos devem ser castrados entre os 6-7 meses de vida. Após a castração o metabolismo do animal altera-se, reduzindo em mais de 30 por cento a sua necessidade energética – o problema é que o seu apetite aumenta e com isso a tendência para comer mais. Alguns estudos revelam que os gatos machos castrados sofrem de modo mais notório a perda da capacidade de regular o apetite do que as fêmeas. Após a castração, os machos aumentam o consumo de alimento em 26 por cento, e as fêmeas em 18 por cento.

Um gato pode tornar-se obeso 30 dias após a castração, desenvolvendo posteriormente doenças associadas como problemas renais e urinários, diabetes, insuficiência hepática e doença cardiovascular, entre outras, daí a importância de se instituir rapidamente uma dieta adequada após a cirurgia.

O período mais crítico corresponde aos dois primeiros meses após o procedimento. Se a dieta não for rapidamente adaptada após a castração, um gato de 4kg pode adquirir com facilidade mais 2kg em 2 meses, ou seja, o equivalente a 30kg para um ser humano de 60kg. Perante o cenário, é imprescindível que a quantidade de calorias seja moderada para evitar o ganho de peso muito rápido.

Mas a redução da necessidade energética não quer dizer que basta diminuir a quantidade de ração, pois assim o animal terá carência de nutrientes, vitaminas e sais minerais, dado que ainda é um filhote em crescimento que necessita de uma dieta capaz de reforçar as suas defesas naturais, de forma a garantir um desenvolvimento harmonioso.

A segurança digestiva também é essencial em gatos jovens e deve ser levada em conta, pois o sistema digestivo dos filhotes ainda não se encontra maduro.

Não é aconselhável reduzir simplesmente a quantidade de comida oferecida normalmente ao gato castrado, pois além de se poderem causar deficiências nutricionais, podem desencadear-se sintomas de ansiedade e stress no animal, e desenvolver problemas comportamentais, como a agressão. Deve, antes, manter-se a quantidade de alimento que já era oferecida, melhorando contudo a sua qualidade.

A dieta ideal para o gatinho deve ser indicada por um médico veterinário, que na seleção da melhor ração irá ter em consideração fatores como a idade, estilo de vida, predisposição para doenças, e o facto de o animal ser castrado.

As rações para os animais castrados são formuladas para auxiliar no controle do peso, mantendo em simultâneo a massa muscular.

Contêm fontes de proteína de alta qualidade e níveis ajustados de L-carnitina para auxiliar na conversão da gordura em energia, e de taurina, um aminoácido importante para o bom desempenho do miocárdio e da visão. Apresentam também níveis controlados de minerais importantes para manutenção da saúde do trato urinário dos felinos e um eficaz controle do pH urinário.

A composição do alimento é muito importante. Se a ração tiver falta de algum nutriente, o organismo do gato refleti-la-á, e se tiver excesso de algum elemento (sal ou corantes), o seu organismo também o terá, razão pela qual é um risco para a saúde do animal escolher a ração em função do preço. É um engano! O que se poupa hoje no preço do alimento, gasta-se amanhã em triplo no veterinário.

Igualmente importante entre os gatos castrados, uma vez que são frequentes os problemas renais e urinários, é a ingestão de água. Os gatos são bastante seletivos em relação à água que bebem. Deve optar-se por fontes de água, pois fazem a sua oxigenação, e está em circulação, o que os animais adoram. Para aumentar a ingestão de água também é uma boa opção inserir na sua alimentação as saquetas, os patés e as latinhas, pois fazem parte da alimentação húmida. Estas rações têm mais água na sua formulação e ajudam a manter o trato urinário dos gatos mais saudável.

O gato deve ser estimulado a sair do sedentarismo com brinquedos, ou através de passeios. Quando na rua, deve ser conduzido pela trela. O importante é manter a sua saúde e bem-estar, pois foi essa a razão porque o castrou.

É verdade que as opiniões estão a mudar, mas é importante que as pessoas entendam que o ato de castrar não retira funções ao animal, a não ser uma glândula que produz a hormona que desencadeia o instinto sexual.

Castrar não torna o animal impotente ou frustrado, apenas estéril e mais calmo. Castrar protege o animal de se envolver em lutas e de contrair doenças pela mordida de outros animais.

Castrar evita que animais indefesos nasçam para viver sem dono ou para morrer depois de muito sofrimento. De animais abandonanos já nos bastam os que vemos em época das férias!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
28 de Novembro de 2024

Referências Externas:

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