Sintomas de psicose precedem uso de cannabis na adolescência
Um estudo levado a cabo por investigadores da Universidade de Washington, em St. Louis, permitiu descobrir que os adolescentes que usam cannabis experimentam mais sintomas do espectro da psicose e maior sofrimento devido aos mesmos, o que sugere que a vulnerabilidade partilhada e a automedicação contribuem para a associação entre o uso de cannabis e o risco de psicose.
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O uso de cannabis entre adolescentes tem sido associado a um risco maior de psicose, e os utilizadores têm duas a quatro vezes mais propensão para desenvolver psicose do que os não utilizadores. O início precoce durante a adolescência está ligado ao início mais precoce de transtornos psicóticos, sintomas mais graves e maior probabilidade de recaída dos sintomas.
A cannabis é a substância ilícita mais frequentemente usada entre os adolescentes, e o seu uso aumentou de 11% para 22% nas duas últimas décadas, de acordo com uma fonte mencionada no estudo. O risco percebido de danos associado ao uso de cannabis diminuiu entre os adolescentes, baixando de 36,3% para 25%, considerando o uso semanal como problemático.
Em debate continua a natureza da associação entre o uso de cannabis na adolescência e o risco de psicose, e as teorias incluem a hipótese do risco contribuinte, a hipótese de vulnerabilidade partilhada e a hipótese de automedicação.
Na hipótese do risco contribuinte, o uso de cannabis causa o surgimento e a progressão da psicose através da interrupção dos processos de neurodesenvolvimento durante a adolescência.
No que respeita à hipótese da vulnerabilidade partilhada, fatores genéticos, gestacionais ou ambientais predispõem os indivíduos ao uso de cannabis e à psicose. Neste caso, a probabilidade de se envolver no uso de cannabis partilha a mesma origem que o risco de sintomas do espectro da psicose. Já a hipótese da automedicação sugere que os indivíduos podem recorrer ao uso de cannabis como um meio para aliviar sintomas angustiantes associados ao espectro da psicose.
No estudo, publicado online no JAMA Psychiatry, os especialistas analisaram as trajetórias dos sintomas do espectro da psicose antes e depois do início do uso da cannabis em 11.868 adolescentes de 9 a 10 anos no começo da investigação, através de dados do Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD) Study ao longo de quatro anos.
Verificou-se que o início da cannabis não levou consistentemente a um aumento nos sintomas de psicose, logo, não existe suporte significativo para a hipótese de risco contribuinte.
Os adolescentes que usaram a cannabis em qualquer momento durante o período do estudo relataram um maior número de sintomas do espectro da psicose e mais sofrimento em comparação com aqueles que nunca usaram cannabis, o que apoia a hipótese de vulnerabilidade partilhada. Observou-se ainda que um aumento no número de sintomas do espectro da psicose e sofrimento associado levaram ao início do uso da cannabis, o que vai de encontro à hipótese de automedicação.
Com base nas descobertas, o estudo apoia as explicações de vulnerabilidade partilhada e de automedicação para as associações entre o uso de cannabis e o risco de psicose.