Descoberta forma de matar à fome células do cancro da mama
As células cancerígenas têm apetites vorazes, havendo certos nutrientes sem os quais não conseguem viver. Os cientistas há muito trabalham para conseguir parar os tumores cortando uma parte essencial da dieta das células cancerígenas, mas essas células são astutas e acabam por descobrir uma nova forma de obter o que necessitam. O que fazem é reprogramar o seu metabolismo e mudar para suprimentos alimentares de reserva.
SOCIEDADE E SAÚDE
LUTA CONTRA O CANCRO DA MAMA
O cancro da mama afecta, em todo o mundo, cerca de 150 mil mulheres por ano. Destas, 44 mil acabam por sucumbir à doença. Mas existe cada vez mais esperança e a medicina já ganha batalhas importantes. LER MAIS
Recentemente, Michael Lukey, do Cold Spring Harbor Laboratory (CSHL), descobriu uma maneira de privar as células cancerígenas de um nutriente vital e que é um suprimento de reserva. Em experiências de laboratório com células do cancro da mama, modelos de tecidos derivados de pacientes e ratinhos, essa estratégia matou células do cancro e encolheu tumores.
Na verdade, as células cancerígenas agressivas consomem avidamente um aminoácido denominado glutamina. Este nutriente vital é utilizado para gerar a energia e os materiais necessários para crescer e se replicar.
Vários estudos mostraram que privar as células cancerígenas de glutamina ou impedir a sua conversão em metabólitos pode interromper o crescimento das células em laboratório. No entanto, em ensaios clínicos recentes, pacientes com cancro da mama não beneficiaram de um medicamento que adotou essa abordagem – o que sugere que as células do cancro se podem adaptar e descobrir uma forma de viver sem glutamina.
Durante o estudo, publicado no jornal Nature Metabolism, a equipa de especialistas observou a mesma coisa em laboratório. Eles aperceberam-se que as células do cancro da mama se adaptam à privação de glutamina ativando uma via que gera um metabólito crítico chamado alfa-cetoglutarato, normalmente derivado da glutamina.
Isto permite que as células cancerosas continuem a produzir a energia e os materiais de construção que, de outra forma, obteriam da glutamina.
Esta descoberta fez os investigadores pensar na possibilidade de explorar isso para a terapia do cancro. Será possível atingir o metabolismo da glutamina? Já se sabe que as células se adaptam, mas será praticável atingir simultaneamente a sua resposta adaptativa inibindo a via?
A abordagem foi bem-sucedida, pois conseguiram matar células do cancro da mama em pratos de laboratório e trataram eficazmente tumores em ratinhos. A equipa verificou que os tumores pararam de crescer e até encolheram com o tratamento combinado. Os animais permaneceram saudáveis.
Atualmente estão sob investigação mais aprofundada inibidores de ambas as vias metabólicas. Para Lukey, essas vias podem ser especialmente importantes para a metástase do cancro da mama em diferentes tecidos, incluindo alguns que são muito difíceis de tratar. As metástases cerebrais, em particular, não têm nenhuma terapia eficaz.
O especialista espera que a terapia combinada do seu laboratório possa, em última análise, melhorar a eficácia dos inibidores do metabolismo da glutamina na clínica. Isso poderia significar novos tratamentos eficazes que visam os vícios metabólicos do cancro.