Cientistas descobrem forma de combater inflamação da endometriose
A endometriose é uma doença crónica que consiste na presença de tecido endometrial fora do útero. A doença, que afeta 10% das mulheres em idade reprodutiva no mundo todo, causa dor intensa e, frequentemente, infertilidade. Muitos dos sintomas que acompanham esta doença são provavelmente causados por inflamação, mas até agora, não existia forma de tratar especificamente essa inflamação.
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Um novo estudo levado a cabo por cientistas de Yale permitiu identificar as células que estão por trás dessa inflamação e descobriu uma forma de as atingir. As descobertas, segundo os especialistas, podem gerar novos tratamentos para uma doença que atualmente tem poucas opções terapêuticas.
Além da cirurgia para os casos graves, as únicas opções de tratamento para a doença são baseadas em hormonas. Contudo, apesar de os tratamentos hormonais impedirem o crescimento do tecido, têm muitos efeitos colaterais.
Em estudos realizados anteriormente, os investigadores descobriram que os glóbulos brancos denominados macrófagos, que normalmente ajudam a defender o corpo contra patógenos, são abundantes em casos de endometriose e desempenham um papel fundamental na progressão da doença. Mas mesmo nesses casos, nem todos os macrófagos estão associados à doença, e os cientistas não conseguiram atingir aqueles que lhe estão associados.
Os macrófagos são muito importantes para a imunidade inata, a primeira linha de defesa do corpo, logo, o objetivo não é atingir a todos. No caso da endometriose, pretende-se atingir os macrófagos “maus” e deixar os protetores sozinhos.
No novo estudo, publicado recentemente no Journal of Clinical Investigation, Hugh Taylor e a equipa de especialistas conseguiram identificar uma proteína que é como uma espécie de sinalizador para identificar quais os macrófagos que foram reprogramados pelo microambiente da doença para se tornarem patogénicos.
Ao analisar conjuntos de dados disponíveis publicamente que compararam lesões de endometriose com tecido saudável, a equipa descobriu que as lesões tinham muito mais macrófagos que possuiam muita proteína TET3. Mas esta proteína também os torna vulneráveis, porque reduzir o nível de TET3 mata o macrófago.
Com uma molécula denominada Bobcat339, os especialistas conseguiram desencadear a degradação de TET3 nos macrófagos, matando os glóbulos brancos patogénicos. Além disso, em modelos de ratinhos com endometriose, a Bobcat339 reduziu significativamente as lesões.
Huang, que tem vindo a avaliar moléculas semelhantes à Bobcat339, descobriu pelo menos uma opção que parece funcionar ainda melhor do que a Bobcat339. Essas moléculas podem levar a um tratamento completamente novo, que atinja a inflamação associada à endometriose sem os efeitos colaterais e os impactos na fertilidade dos tratamentos baseados em hormonas. E como a Bobcat339 é eficaz quando tomado oralmente, o tratamento pode ser tão fácil quanto tomar um comprimido.
Na endometriose, a inflamação causada por esses macrófagos afeta outras partes do corpo, como o trato gastrointestinal, a bexiga e o cérebro, portanto, ser capaz de tratar a inflamação da endometriose provavelmente terá implicações mais amplas a longo prazo.