Desmascarada ligação entre consumo leve de álcool e longevidade
Provavelmente já ouviu dizer, e até acredita, que um copo de vinho por dia faz bem à saúde, no entanto, segundo um estudo publicado no Journal of Studies on Alcohol and Drugs, esta sabedoria popular é baseada em investigações científicas com falhas.
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Ao longo dos anos, muitos estudos sugeriram que as pessoas que bebem moderadamente têm vidas mais longas, com menos riscos de doenças cardíacas e de outras doenças crónicas do que os abstémios. O facto estimulou a crença generalizada de que o álcool, com moderação, pode ser um tónico para a saúde – mas nem todos os estudos pintaram um quadro tão otimista, e o novo trabalho revela porquê.
Segundo Tim Stockwell, investigador principal, os estudos que associam um consumo moderado de álcool a benefícios para a saúde sofrem de falhas fundamentais. Ou seja, geralmente baseiam-se em adultos mais velhos e não têm em consideração os hábitos de consumo de álcool das pessoas ao longo da vida.
Então, indivíduos que bebem moderadamente foram comparados com grupos de abstémios e de bebedores ocasionais que incluíam alguns adultos mais velhos que deixaram ou reduziram o consumo de álcool porque desenvolveram uma série de problemas de saúde. Isso faz com que as pessoas que continuam a beber pareçam muito mais saudáveis mas, neste caso, as aparências iludem.
Para o estudo, a equipa de investigadores identificou 107 estudos publicados que acompanharam as pessoas ao longo do tempo e analisaram a relação entre hábitos de consumo de álcool e longevidade. Quando os especialistas combinaram todos os dados, parecia que os bebedores leves a moderados (ou seja, aqueles que bebiam entre uma dose por semana e duas por dia) tinham um risco 14% menor de morrer durante o período do estudo em comparação com os indivíduos abstémios.
Mas ao aprofundar mais os estudos as coisas mudaram. Havia vários estudos de “maior qualidade” que incluíram pessoas que eram relativamente jovens no início (menos de 55 anos, em média) e que garantiram que os bebedores antigos e ocasionais não fossem considerados “abstémios”. Nesses estudos, o consumo moderado de álcool não foi associado a uma vida mais longa.
Por outro lado, foram os estudos de “menor qualidade” (com participantes mais velhos, sem distinção entre ex-bebedores e abstémios ao longo da vida) que associaram o consumo moderado de álcool a uma maior longevidade.
A ideia de que o consumo moderado de álcool leva a uma vida mais longa e saudável remonta a décadas e continua “enraizada” na imaginação pública. Mas, de acordo com Stockwell, o consumo moderado de álcool provavelmente não prolonga a vida das pessoas, aliás, traz alguns riscos potenciais à saúde, incluindo de desenvolver certos tipos de cancro. E é por esta razão que nenhuma organização de saúde estabeleceu um nível de consumo de álcool livre de risco.