Stress infantil aumenta o risco de doenças mentais
Muitas doenças psiquiátricas estão relacionadas com o stress. As experiências negativas na infância muitas vezes podem afetar a forma como se lida com o stress mais tarde na vida, mas quais os processos biológicos envolvidos?
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Segundo um estudo realizado por investigadores do Instituto Central de Saúde Mental (CIMH), em Mannheim, uma compreensão mais profunda desses processos biológicos teria potencial para melhorar a deteção precoce de doenças psiquiátricas e a sua prevenção.
Durante o estudo, recentemente publicado na revista Biological Psychiatry, a equipa de especialistas investigou os efeitos do gene FKBP5 no comportamento e na estrutura cerebral de 395 indivíduos saudáveis.
Foram recolhidas amostras de sangue, realizados exames de ressonância magnética (MRI) e os participantes ainda responderam a perguntas sobre os seus pensamentos e sentimentos num estudo de smartphone (Avaliação Momentânea Ecológica) durante um período de sete dias.
Thomas L. Kremer, autor principal do estudo, revelou que primeiro determinou-se a metilação do ADN do gene FKBP5. Este gene desempenha um papel importante na regulação molecular do stress e está ligado ao desenvolvimento de doenças relacionadas ao stress, como depressão ou transtorno de stress pós-traumático.
A metilação do ADN é um processo regulatório que controla a atividade dos genes. Não se trata de uma mutação genética, mas de uma modificação do material genético que pode ser alterado por influências ambientais e afeta a sua tradução em proteínas.
As principais descobertas mostram que a metilação alterada do FKBP5 ao nível neurobiológico está associada a alterações no volume cerebral no córtex pré-frontal.
Descobriu-se ainda que a mudança funcional no córtex pré-frontal está ligada a uma estrutura mais profunda do cérebro, a amígdala, e que as pessoas que tinham menos influência reguladora do córtex pré-frontal na amígdala reagiram mais fortemente ao stress diário.
Estas descobertas são um avanço para a compreensão da base biológica do processamento do stress e dos transtornos psiquiátricos. O objetivo a longo prazo é utilizar esta compreensão neurobiológica para desenvolver abordagens inovadoras para o tratamento personalizado de pacientes com problemas psiquiátricos.