Antibióticos revelam nova forma de combater o cancro
A imunoterapia contra o cancro só é eficaz numa população limitada de pacientes com a doença. As células cancerígenas crescem e espalham-se escondendo-se do sistema imunológico do corpo. A imunoterapia permite que o sistema imunológico descubra e ataque células cancerígenas ocultas, ajudando os pacientes com cancro a viverem mais, no entanto, muitos pacientes obtêm pouco ou nenhum benefício destes tratamentos revolucionários.
DOENÇAS E TRATAMENTOS
CANCRO, INVESTIGAÇÃO E NOVAS TERAPIAS
A ciência avançou prodigiosamente na luta contra o cancro, mas o mundo natural tem sido o arsenal mais eficaz da medicina, fornecendo desde antibióticos a potentes fármacos. LER MAIS
Os inibidores de checkpoint imunológico (ICI) são as imunoterapias mais utilizadas, e funcionam reconhecendo e bloqueando proteínas que as células cancerígenas usam para se esconder do sistema imunológico. Mas as células cancerígenas que não possuem essas proteínas utilizam outras maneiras para se esconder.
Uma vez que os pacientes com estes cancros não respondem aos ICI, o objetivo dos investigadores é o desenvolvimento de novas imunoterapias com alvos diferentes.
No estudo, publicado no Journal for ImmunoTherapy of Cancer, uma equipa de investigadores da Universidade de Osaka, no Japão, descobriu que o grupo de antibióticos das tetraciclinas ajuda o sistema imunitário a encontrar células cancerígenas de uma forma diferente das imunoterapias atuais. Esses antibióticos estimulam as células do sistema imunológico, conhecidas como linfócitos T, a atacar e destruir as células cancerígenas.
Do grupo das tetraciclinas, os especialistas estudaram a minociclina no sangue e no tecido tumoral de pacientes com cancro do pulmão de não-pequenas células. Mari Tone, autora principal do estudo, revelou que a minociclina melhorou a atividade antitumoral dos linfócitos T ao atingir a galactina-1, que é uma proteína imunossupressora produzida pelas células cancerígenas.
Os especialistas descobriram que a galactina-1 ajuda as células cancerígenas a esconderem-se do sistema imunológico, evitando que os linfócitos T citotóxicos cheguem ao tumor. Após o tratamento com tetraciclina, a galactina-1 deixou de ser capaz de impedir que os linfócitos T atacassem o tumor. Assim, o bloqueio da galactina-1 pode ser a chave para novos tratamentos contra o cancro.
Estes antibióticos têm um mecanismo de ação diferente dos ICI e de outras imunoterapias usadas para tratar o cancro. A esperança é que este estudo leve ao desenvolvimento de novos medicamentos que visem diferentes vias imunitárias e possam ajudar pessoas com cancro, especialmente aquelas que não beneficiam das imunoterapias atuais.
Os antibióticos do grupo das tetraciclinas são utilizados há muitos anos para tratar pacientes com doenças infecciosas em todo o mundo. Agora, estes medicamentos antigos podem indicar o caminho para novas imunoterapias para pacientes com cancro que atualmente têm poucas opções de tratamento.