Crianças solitárias têm maior probabilidade de sofrer de psicose
Um novo estudo apresentado no Congresso Europeu de Psiquiatria (EPA 2024) sugere que crianças que se sentiram sozinhas durante mais de seis meses antes dos 12 anos têm maior probabilidade de sofrer um episódio de psicose do que crianças a quem isso não aconteceu.
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A solidão é definida como o sentimento subjetivo de angústia associado à falta de relacionamentos significativos, independentemente da quantidade de contacto social, ao passo que o isolamento social é definido como a falta objetiva de contacto ou apoio social.
Num estudo observacional de caso-controle, a equipa de investigadores avaliou a solidão em crianças com a pergunta “Já se sentiu sozinho por mais de seis meses antes dos 12 anos?” e diferenciou isso do isolamento social utilizando o item “relacionamentos entre pares” da Escala de Ajustamento Pré-mórbido. A amostra do estudo foi composta por 285 pacientes que vivenciaram o primeiro episódio de psicose e por 261 controles.
Os resultados permitiram concluir que a solidão na infância estava associada a uma maior probabilidade de sofrer um episódio psicótico e esta associação permaneceu significativa após controlar o isolamento social objetivo na infância.
Apurou-se ainda que a associação entre solidão e vivência de episódio psicótico foi mais forte nas mulheres do que nos homens. Nas mulheres que sofreram um episódio psicótico, a solidão na infância foi associada a uma probabilidade significativamente reduzida de serem diagnosticadas com transtornos do espetro da esquizofrenia em relação a outras formas de psicose.
Nos participantes que vivenciaram um episódio psicótico, a solidão na infância foi associada a uma maior gravidade de sintomas psicóticos positivos, assim como a sintomas afetivos (distúrbios de humor) e pior funcionamento.
São cada vez maiores as evidências das consequências negativas da solidão em adultos para a saúde e a nível social, mas muito pouco se sabe sobre os efeitos da solidão nos jovens a longo prazo.
De acordo com Covadonga Díaz-Caneja, do Instituto de Psiquiatria e Saúde Mental, no Hospital Geral Universitário Gregorio Marañón, em Madrid, apesar da natureza preliminar os resultados sugerem que a solidão infantil pode servir como um fator de risco precoce para perturbações psicóticas posteriores, podendo ser um alvo potencial para intervenções preventivas de saúde mental desde tenra idade.
Isto pode ser especialmente relevante tendo em conta que a solidão infantil é um fenómeno prevalente que parece ter vindo a aumentar nos últimos anos.
Este estudo dá informações valiosas sobre a associação entre a solidão infantil e o primeiro episódio de psicose. Além de as descobertas destacarem uma tendência preocupante, sublinham a importância de abordar a ligação social e o bem-estar emocional desde tenra idade.