Estudo lança luz sobre doenças genéticas raras e cancro no sangue
Um estudo levado a cabo por investigadores da Mayo Clinic tinha como objetivo examinar os distúrbios da biologia dos telómeros (TBD), que são doenças multissistémicas causadas pelo encurtamento prematuro das regiões teloméricas.
DOENÇAS E TRATAMENTOS
CANCRO, INVESTIGAÇÃO E NOVAS TERAPIAS
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Os telómeros são longos segmentos no final dos cromossomas que protegem o ADN de se desfiar, semelhantes à pequena bainha de plástico na ponta de um atacador. Estes encurtam naturalmente com a idade, mas tornam-se anormalmente mais curtos nos TBD. Os TBD estão associados a maior risco de neoplasias mieloides, especialmente síndrome mielodisplásica (SMD) e leucemia mieloide aguda (LMA), com mecanismos de progressão leucémica que ainda precisam de ser elucidados.
Importa referir que os pacientes com TBD não toleram as terapias padrão utilizadas para o transplante alogénico de células-tronco hematopoéticas, o que realça a necessidade de uma melhor compreensão dos fatores de risco e mecanismos que resultam nas neoplasias mieloides.
Os especialistas da Mayo Clinic exploraram as causas desse aumento do risco de cancro avaliando a hematopoiese clonal em pacientes com TBD. A hematopoiese clonal também é um evento relacionado à idade que ocorre quando as células-tronco do sangue adquirem mutações genéticas que as fazem dividir-se mais rapidamente do que o normal. Isso cria um clone crescente no sangue que pode evoluir para cancro no sangue.
Aproximadamente 10 a 20% da população com mais de 70 anos apresenta hematopoiese clonal observável, no entanto, a forma como estes clones evoluem ao longo do tempo depende da mutação genética adquirida e do ambiente circundante das células.
O estudo, publicado no American Journal of Hematology, permitiu verificar que pessoas com TBD geralmente apresentam uma percentagem alta de hematopoiese clonal, sendo especialmente comuns variantes no gene U2AF1.
Por outro lado, a hematopoiese clonal que ocorre devido ao envelhecimento está associada à mutação de outros genes. Esta diferença sugere que o gene U2AF1 poderá desempenhar um papel no desenvolvimento do cancro do sangue, especificamente em pessoas com TBD.
De acordo com o investigador Alejandro Ferrer, as mutações no gene U2AF1 podem afetar a expressão de genes específicos e contribuir para o surgimento da hematopoiese clonal de uma forma única para esses pacientes. Assim, é importante entender porque esse gene sofre mutação tão comumente em pessoas com esse distúrbio e o seu papel no desenvolvimento do cancro.
As descobertas são especialmente relevantes para pessoas com TBD que podem ser sensíveis às terapias convencionais contra o cancro devido a uma combinação de fatores, incluindo instabilidade genómica preexistente, telómeros encurtados e o efeito potencial dessas terapias no cancro e nas células saudáveis.
Os investigadores precisam de entender melhor por que razão o gene U2AF1 sofre mutação proeminente em pessoas com TBD em comparação com outros genes. Avaliar a relevância clínica pode fazer avançar o conhecimento e potencialmente desenvolver tratamentos direcionados e adaptados às suas necessidades.