Ser filho único não afeta o desenvolvimento da criança
A reputação dos filhos únicos não é das melhores, sendo considerados mimados, superprotegidos e solitários. Se é pai ou mãe de um único filho muito possivelmente está preocupado sobre como crescer sem irmãos poderá afetar as habilidades sociais da sua criança, no entanto, vários estudos mostram que os filhos únicos não são diferentes de crianças com irmãos no que diz respeito ao caráter e à sociabilidade.
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O objetivo do estudo, publicado no The Conversation, era descobrir se as diferenças ou semelhanças entre filhos únicos e crianças com irmãos estão mais relacionadas às características dos próprios pais, do que com o facto de ter um irmão.
A investigação baseou-se em dados de estudos de coorte britânicos. Estes são estudos representativos que acompanharam a vida de grupos de 5.362 crianças nascidas em 1946, 17.416 nascidas numa única semana em 1958, 16.571 nascidas numa única semana em 1970 e 19.244 nascidas por volta do ano 2001 na Grã-Bretanha.
Os dados recolhidos revelam informações extensas sobre os indivíduos e os seus parentes próximos, incluindo o nível de escolaridade dos pais, a classe social e a estrutura familiar.
Para medir o desenvolvimento das crianças, os investigadores analisaram os resultados de testes cognitivos que elas realizaram aos 10 ou 11 anos de idade. Essas avaliações focaram-se nas suas capacidades verbais.
Foi possível verificar que os filhos únicos apresentaram pontuações cognitivas semelhantes às de pessoas cujas famílias tinham duas crianças, e pontuações mais altas do que crianças que cresceram com dois ou mais irmãos. Já no grupo das crianças nascidas em 2001 a “vantagem” do filho único pareceu ser mais fraca, em comparação com os grupos mais velhos.
Ficou demonstrado que a variação observada entre as gerações poderia ser parcialmente atribuída às mudanças nas características das famílias com filhos únicos. Os especialistas descobriram que as famílias com filhos únicos na Grã-Bretanha, em média, tendem a estar em melhor situação. No entanto, ao longo do tempo, ser filho único tornou-se mais associado a condições potencialmente desfavoráveis, como crescer com pais separados.
A mudança na composição das famílias com filhos únicos ajuda a explicar por que, em comparação com o passado, as crianças que não têm irmãos hoje em dia apresentam uma vantagem menor em comparação com as crianças que crescem com irmãos.
Os resultados sugerem que ter ou não ter irmãos não gera um grande impacto, ou pelo menos tem uma influência menor em comparação com outras características familiares. Por exemplo, a investigação mostrou que crescer num agregado familiar desfavorecido parece ter um efeito maior no desempenho das crianças nos testes cognitivos do que ser filho único versus crescer com irmãos.
Está na altura de abandonar a perspetiva de que os filhos únicos compartilham características específicas. Ser filho único não é um conceito e uma experiência atemporais. Depende das mudanças nas sociedades e do conjunto diversificado de famílias que têm filhos únicos.
A mudança na forma como vemos e estudamos os filhos únicos não só aumentará a nossa compreensão, mas também vai ajudar a desmascarar estereótipos que ainda persistem na sociedade em geral.