Poluição do ar pode aumentar risco de demência
Um estudo internacional encomendado pela revista Lancet há três anos listou 12 fatores modificáveis que aumentavam o risco de demência, incluindo três novos: álcool em excesso, traumatismo craniano e poluição do ar.
Recentemente, uma equipa de investigadores da Universidade da Califórnia, em San Diego, revelou mais detalhes sobre como a exposição a um desses novos fatores – poluição do ar ambiente, como gases de escape de carros e emissões de fábricas de energia – está associado a um risco mensuravelmente maior de desenvolver demência ao longo do tempo.
Na investigação, publicada no Journal of Alzheimer's Disease, a equipa examinou as avaliações cognitivas básicas de aproximadamente 1.100 homens participantes do estudo em curso Vietname Era Twin Study of Aging. Estes indivíduos tinham uma idade média inicial de 56 anos e foram acompanhados durante 12 anos.
Os especialistas analisaram as medidas de exposição a uma matéria específica (PM2,5) no ar e ao dióxido de nitrogénio (NO2), que é criado quando combustíveis fósseis são queimados, e realizaram avaliações de memória episódica, função executiva, fluência verbal, velocidade de processamento cerebral e genótipo APOE.
O APOE é um gene que fornece instruções para produzir uma proteína crucial para o transporte de colesterol e outras gorduras na corrente sanguínea. Uma versão ou alelo da APOE chamada APOE-4 foi identificada como um forte fator de risco para a doença de Alzheimer.
Constatou-se que os participantes com níveis mais altos de exposição a PM2,5 e a NO2 na faixa dos 40 e 50 anos apresentaram um pior funcionamento cognitivo na fluência verbal dos 56 aos 68 anos. E as pessoas com o alelo APOE-4 pareciam ainda mais sensíveis, sendo que as expostas a níveis mais altos de PM2.5 apresentavam piores resultados na função executiva e as pessoas com maior exposição ao NO2 apresentavam piores resultados envolvendo a memória episódica.
A função executiva diz respeito a habilidades cognitivas de nível superior usadas para planear, controlar e coordenar comportamentos e atos mentais. Já a memória episódica é a capacidade de recordar e reviver eventos passados distintos e específicos.
Segundo Carol E. Franz, primeira autora do estudo, o relatório da revista Lancet de 2020 concluiu que a modificação de 12 fatores de risco, que incluem outros como educação e depressão na meia-idade, poderia reduzir a incidência de demência em até 40%.
Este relatório identificou a poluição do ar ambiente como um risco maior para Alzheimer e demências relacionadas do que a diabetes, atividade física, hipertensão, consumo de álcool e obesidade.
As descobertas realçam a importância de identificar fatores de risco modificáveis o mais cedo possível, e revelam que os processos pelos quais a poluição do ar afeta o risco de declínio cognitivo na velhice começam mais cedo do que estudos anteriores haviam sugerido.