Uso crónico de marijuana afeta fertilidade masculina
Os dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que 15% da população adulta mundial sofre de infertilidade. Além das doenças que afetam o sistema reprodutor, o uso de drogas lícitas ou ilícitas pode causar problemas de fertilidade tanto em mulheres quanto em homens.
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A cannabis é uma das drogas psicoativas mais amplamente usadas, sendo os homens a maioria dos consumidores. O uso da marijuana decai com a idade, mas ainda é representativo durante a idade reprodutiva.
Uma equipa de cientistas da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, nos EUA, constatou que o uso crónico da marijuana pode ter um grande impacto na fertilidade masculina. Esta afeta o sistema reprodutor de seus utilizadores e reduz a quantidade de espermatozoides e o volume de sémen. Quando depositados na cavidade uterina, os espermatozoides tendem a perder força antes mesmo de se aproximarem do óvulo, resultando na incapacidade da fecundação.
No estudo, publicado na revista científica Fertility & Sterility, os cientistas monitorizaram os sistemas reprodutivos de primatas não humanos do sexo masculino após exposição ao Delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), o principal ingrediente psicoativo da marijuana.
Durante a investigação os primatas – todos em idade reprodutiva, com histórico de paternidade comprovada e sem exposição prévia à cannabis –, receberam THC comestível uma vez por dia ao longo de sete meses. A dose de THC foi baseada em recomendações médicas e aumentada a cada 70 dias de acordo com o ciclo de desenvolvimento do esperma dos animais.
As doses foram ajustadas até se atingir o equivalente a uma dose elevada de marijuana medicinal em humanos. Os cientistas recolheram amostras de sémen dos animais antes do início do uso de THC, e novamente no final de cada mudança de dosagem de THC.
Verificaram, então, que o uso de THC estava associado a impactos adversos nas hormonas reprodutivas dos animais, incluindo a diminuição dos níveis de testosterona e a contração testicular, sendo observada uma diminuição superior a 50% no tamanho dos testículos.
Segundo a Dra Jamie Lo, líder da investigação, estes efeitos pareciam agravar-se à medida que a dose de THC aumentava, o que sugere um possível efeito dependente da dose tomada.
Outro dos autores do estudo, o Professor Jason C. Hedges, refere que embora sejam necessárias mais investigações para um melhor entendimento dos potenciais impactos a longo prazo do THC em humanos, estas descobertas iniciais são preocupantes do ponto de vista clínico.
E alerta para o facto de a prevalência do uso de marijuana continuar a aumentar nos EUA e em todo o mundo – particularmente em homens em idade reprodutiva – e mesmo doses moderadas poderem ter um efeito profundo nos resultados de fertilidade.
Embora o planeamento familiar possa não ser uma prioridade para os que estão no final da adolescência e início dos 20 anos, os efeitos a longo prazo do THC na saúde reprodutiva masculina não estão bem definidos; e é possível que o THC possa causar impactos duradouros que podem alterar o planeamento familiar mais tarde na vida.