Mutações no ADN não são aleatórias
Desde há pelo menos uma década que há indícios de que as mutações genéticas podem não ser aleatórias, devido à descoberta de um mecanismo de hereditariedade até aí desconhecido, que veio colocar um novo desafio às teorias do Darwinismo ou da evolução das espécies, estabelecida há mais de 160 anos.
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Segundo Charles Darwin, todos os seres vivos, incluindo o homem, descendem de espécies ancestrais comuns que se vão modificando ao longo do tempo, sobrevivendo aqueles que melhor se adaptem ao meio ambiente, depois dessas mutações aleatórias.
Agora, uma nova pesquisa vem mudar radicalmente esse paradigma e a nossa compreensão do processo evolutivo. Recentemente publicado na revista Nature, por uma equipa alargada de cientistas, um novo estudo sugere que as mutações genéticas podem não ser completamente aleatórias, uma proposição que contraria as que foram estabelecidas na teoria da evolução.
Segundo os seus autores, a pesquisa foi desenvolvida ao longo de três anos e implicou o sequenciamento genético de centenas de herbáceas da espécie Arabidopsis thaliana, comummente utilizada em estudos científicos em virtude de possuírem um genoma relativamente pequeno.
Contrastando com as expectativas do grupo, que partiram do pressuposto de que as mutações ocorrem aleatoriamente em relação às suas consequências, descobriram que elas ocorrem com menos frequência em regiões funcionalmente restritas do genoma.
Embora esses resultados venham abalar os conceitos da ciência estabelecida, a expansão do conhecimento sobre o funcionamento das coisas pode ser muito útil para ajudar os investigadores a combater doenças como o cancro ou a produzir melhores colheitas.
Durante a investigação, observaram que as mutações ocorrem quando o ADN é danificado e não reparado, criando antes uma nova variação, o que levou os cientistas a investigar se esta mutação era puramente aleatória ou provinha de algum outro fator mais relevante.
Segundo o professor Gray Monroe da Universidade da Califórnia, em Davis, um dos investigadores, tendo em conta as teorias defendidas durante mais de 160 anos, o que descobriram foi totalmente inesperado. "Nós sempre pensamos na mutação como basicamente aleatória em todo o genoma", no entanto "Acontece que a mutação é largamente não-aleatória, e é não-aleatória de uma forma que beneficia a planta. É uma maneira totalmente nova de pensar sobre a mutação."
As mutações não aleatórias observadas durante o sequenciamento de centenas de plantas Arabidopis thaliana, considerada o “rato de laboratório” entre as plantas, devido ao seu pequeno genoma, composto por cerca de 120 milhões de pares de bases, revelou mais de um milhão de mutações, ao contrário do que era esperado.
Em vez de aleatoriedade esperada, a equipa encontrou partes do genoma com baixas taxas de mutação e outras com taxas muito elevadas. Além disso, nas manchas de baixa mutação estava outra grande surpresa “uma representação exagerada de genes essenciais, como os envolvidos no crescimento celular e na expressão genética”.
Monroe, adianta que "Estas são as regiões realmente importantes do genoma," pois "As áreas que são biologicamente mais importantes são as que estão protegidas contra mutações."
Este novo conhecimento sobre as regiões do genoma que sofrem mais mutações que outras, por razões de sobrevivência, pode contribuir para desenvolver variações de plantas com vista a obter melhores colheitas ou para melhorar o diagnóstico e desenvolver novos tratamentos para doenças como o cancro, causadas por mutações genéticas.