Segredo da regeneração dos membros está no fígado dos animais
Se há uma criatura que, pelas suas características biológicas, tem atraído o interesse dos cientistas há décadas é a salamandra. Isto porque ela é o único animal vertebrado capaz de se regenerar.
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Um estudo realizado recentemente por uma equipa de cientistas australiana revelou que um tipo de glóbulo branco, denominado macrófago, é essencial para a regeneração dos membros do axolote (Ambystoma mexicanum), uma salamandra mexicana que é a campeã da regeneração na natureza.
O axolote possui a extraordinária habilidade de regenerar extremidades amputadas, órgãos e tecidos. Se estes animais perdem uma extremidade, ela é recuperada em questão de semanas – com todos os ossos, músculos e nervos no lugar correto. Mais fascinante ainda é a sua capacidade de reparar inteiramente a sua medula espinal quando esta sofre uma lesão.
Em perigo de extinção no seu habitat natural, este anfíbio possui 32 bilhões de pares de bases de ADN, sendo dez vezes maior que o genoma humano, com 3,2 bilhões de pares.
Os cientistas descobriram que sem os macrófagos, que fazem parte do sistema imunológico, a regeneração não ocorre. Em vez de crescer um novo membro onde o antigo foi decepado, o axolote forma uma cicatriz no local da lesão que atua como uma barreira para a regeneração, tal como acontece num mamífero, como um murganho ou um ser humano.
Isto é interessante porque a regeneração está no centro das investigações, por exemplo, no tecido cardíaco: a eventual recuperação do coração tem implicações revolucionárias para futuras terapias regenerativas.
A equipa conseguiu identificar a origem dos macrófagos pró-regenerativos no axolote, ou seja, o fígado. Isto dá aos cientistas uma pista para procurarem macrófagos pró-regenerativos nos humanos e, curiosamente, esse lugar é o fígado e não a medula óssea, que é a fonte da maioria dos macrófagos humanos.
Embora a perspetiva de regenerar um membro humano possa ser irreal a curto prazo, devido à complexidade de um membro, as terapias da medicina regenerativa poderiam ser potencialmente utilizadas a curto prazo no tratamento de muitas doenças nas quais a cicatriz desempenha um papel patológico, incluindo o coração, doenças pulmonares e renais, assim como no tratamento das cicatrizes em si, por exemplo, no caso de vítimas de queimaduras.
O professor James Godwin, do Instituto Australiano de Medicina Regenerativa, salienta que o facto de terem descoberto que a cura sem cicatrizes depende unicamente dos macrófagos significa que existe uma hipótese.
Se os axolotes se conseguem regenerar com um único tipo de célula como seu guardião, então talvez possamos alcançar a cura sem cicatrizes em humanos se povoarmos o nosso organismo com um tipo de célula guardiã equivalente, o que abriria a oportunidade para a regeneração