SPG alerta para pandemia das hepatites
No dia em que mundialmente se assinala a luta contra as hepatites, a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) alerta que estas constituem uma outra pandemia esquecida e que ainda há um grande caminho a percorrer para chegar à meta da eliminação estabelecida pela Organização de Mundial de Saúde (OMS).
DOENÇAS E TRATAMENTOS
HEPATITES CONHECER PARA PREVENIR
O termo hepatite significa inflamação do fígado. Localizado no lado superior direito do abdómen, por detrás das costelas flutuantes, o fígado é o órgão mais volumoso do corpo humano. LER MAIS
Considera-se que a prevalência possa estar a atingir cerca de 100 mil portugueses que estarão infetados pelo vírus B ou C. Em Portugal, por identificar, só pelo vírus da hepatite C, (VHC) estima-se que ronde os 40 mil portugueses. No mundo, 350 milhões pessoas infetadas com o vírus da hepatite B e 75 milhões com hepatite C, números que revelam o peso das hepatites víricas varia consoante as zonas do globo.
A hepatite é uma inflamação das células do fígado, que pode ter várias causas, como o álcool ou alguns medicamentos e particularmente os cinco vírus: A, B, C, D e E. O fígado tem uma função vital do aparelho digestivo e, no caso de inflamação ou lesão, leva à diminuição da sua função. As hepatites B e C são as mais prevalentes e mais graves, por poderem evoluir, quando não tratadas, para cirrose e cancro do fígado.
Em Portugal, a doença hepática vírica tem um peso significativo quer em termos individuais, com implicações na qualidade de vida dos doentes, quer pelo impacto social e económico. Uma vez que as hepatites resultam, numa significativa percentagem, em doença crónica avançada (a cirrose), esta situação conduz ao aumento de cuidados hospitalares e consequentemente ao incremento da despesa em saúde.
Guilherme Macedo, presidente da SPG adianta que “a eliminação da hepatite C em Portugal vai ter um enorme impacto favorável também sob o ponto de vista económico a curto, medio e longo prazo”.
Resultante da forma de transmissão do vírus C nasce estigma social associado a este vírus. A transmissão acontece sobretudo por via sanguínea, sendo que a maioria das pessoas o adquire através da partilha de agulhas, seringas e outro material contaminado usado para consumo de drogas.
Existem, no entanto, pessoas infetadas fora destes grupos de risco. São na sua grande maioria infeções silenciosas. “O problema do estigma é bidirecional”, esclarece Guilherme Macedo, e acrescenta que “se por um lado, os indivíduos com hepatite C sentem-se descriminados, por outro, a sociedade, considera que este é um problema de uma população marginal. São dois vetores que condicionam a identificação e consequentemente o tratamento e cura da hepatite C. As hepatites não são um problema de nicho populacional, mas sim um desafio global”, explica Guilherme Macedo.
A SPG tem um papel fundamental na resolução deste problema. Por um lado, deve continuar a mobilizar e estimular os seus parceiros médicos, das diferentes especialidades, lembrando que a luta pela eliminação não foi interrompida. E, por outro lado, promover a compreensão da dimensão e da importância das hepatites na sociedade contribuindo para uma melhor literacia pública sobre este assunto e mobilizando todos os portugueses a realizarem testes de rastreio.
Assim, através do rastreio e do tratamento que apresenta taxas de cura superiores a 97 por cento, é possível a eliminação desta pandemia até 2030, e cumprir a meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde contratualizada com dezenas países, incluindo Portugal.