Quase metade da população portuguesa tem perda de acuidade visual
Quase metade da população portuguesa diz sentir pioras na sua visão ao perto no último ano, período que engloba os meses de pandemia e de confinamento, durante o qual o recurso ao teletrabalho foi generalizado assim como uso intensivo de dispositivos digitais, fatores que aumentam o risco de deterioração da saúde visual.
A conclusão resulta do inquérito “Ver-se Vem”, conduzido pela Direção de Saúde Visual da Essilor Portugal, que pretende identificar o atual estado da saúde visual dos portugueses. O estudo incide em diferentes campos, dos impactos do confinamento e da pandemia, à miopia e ao conhecimento sobre os sintomas e correção da presbiopia, ou “vista cansada”.
O inquérito “Ver-se Bem” foi conduzido entre setembro e novembro de 2020, envolvendo 833 voluntários que responderam a um questionário sobre a sua saúde visual. Salgado Borges, médico oftalmologista, uns dos responsáveis do inquérito, colaborou na conceptualização, implementação e análise crítica dos dados recolhidos.
No que respeita aos impactos do confinamento na saúde visual dos portugueses, 29 por cento dos inquiridos refere que a sua visão no geral piorou desde o início do período de confinamento, um período marcado pelo incremento do teletrabalho e pelo uso crescente e até intensivo de dispositivos digitais – computadores, telemóveis e todo o tipo de ecrãs.
Com o recurso generalizado do teletrabalho metade dos inquiridos declarou a utilizar equipamentos digitais, como o smartphone, computador e televisão mais de cinco horas por dia. De sublinhar que um terço dos participantes diz ter estado frente a ecrãs mais de oito horas por dia, e nove em cada dez um mínimo três horas por dia.
Este aumento do número de horas de exposição tem efeitos diretos na saúde visual, nomeadamente no desenvolvimento e agravamento de miopia e de outros problemas oculares.
Ainda sobre os efeitos do confinamento, 44,8 por cento dos inquiridos refere a visão mais desfocada. Neste período 59 por cento afirma que se sentiu afetado pela claridade do dia ao sair à rua, pelo menos uma vez e 40 por cento relata irritação ocular. O inquérito revela também que 76 por cento das pessoas que usam óculos sentiu o incómodo gerado com o embaciamento das lentes associado ao uso de máscara.
Este inquérito permitiu também saber se os portugueses estão atentos aos sinais da chamada “vista cansada” ao perto, ou presbiopia, e se sabem como corrigir esta perturbação visual que afeta sobretudo a população acima dos 45 anos de idade. De salientar que nove em cada dez pessoas inquiridas revelam que sentiram os primeiros sinais de presbiopia aos 40 anos.
Neste campo, as respostas revelam que quase metade (47 por cento) dos inquiridos desconhece o que é a presbiopia. No entanto, as descrições dos sintomas demonstram que metade (50 por cento) dos que têm mais de 35-40 anos já revela dificuldade em ler as letras mais pequenas, 35 por cento sente dificuldade em focar ao perto e 27 por cento afirma a necessidade de recorrer a óculos de ver ao perto para conseguir ler.
Apesar destas dificuldades, entre os inquiridos que revelam não usar óculos para corrigir a presbiopia, um terço não usa correção porque receia a capacidade de adaptação, enquanto que 12,4 por cento não o faz porque o preço dos óculos progressivos é elevado e 11,3 por cento porque isso implica uma consulta de avaliação.
O inquérito revela também que ter uma boa visão é a principal preocupação dos pais portugueses (79,5 por cento), à frente de uma alimentação saudável (77,2 por cento) e da boa higiene oral (78,2 por cento).
No entanto, apesar desta preocupação, e de 90 por cento dos pais declarar saber que os ecrãs são um fator de risco para o desenvolvimento da miopia nas crianças, apenas pouco mais de metade dos encarregados de educação (55 por cento) admite a possibilidade de limitar o uso destes dispositivos.
Quase dois terços dos inquiridos (65 por cento) avaliam a sua saúde visual pelo menos de dois em dois anos e apenas 16 por cento só o faz quando deteta algum problema.
Segundo Alberto Silva, diretor de Saúde Visual da Essilor Portugal, “a pandemia veio sublinhar a importância da saúde nas nossas vidas e a saúde visual não é exceção. No novo confinamento é importante que as pessoas se informem com um profissional sobre como melhor proteger a sua saúde visual”.
“O crescente aumento de crianças com miopia cada vez mais precoce preocupa os profissionais do sector da saúde visual e não podemos fechar os olhos a esta possível pandemia num futuro próximo”.
Para o médico oftalmologista, José Salgado Borges o uso frequente de dispositivos digitais e o uso de máscara contribuiu para o agravamento de problemas oftalmológicos. “É fundamental ter mais atenção e fazer o exame oftalmológico que identifique precocemente possíveis doenças oculares, de modo a evitar que estas evoluam para estados irreversíveis. Os seus olhos são a sua melhor ferramenta, cuide deles”, apela.