Stress precoce associado a vulnerabilidade às drogas na adolescência
Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) avaliou o impacto da separação materna nas primeiras semanas de vida de ratos e concluiu que este “stress precoce” aumenta a probabilidade de experimentação e dependência de drogas psicoativas durante a adolescência, independentemente da existência de uma propensão genética para a depressão. O trabalho acaba de ser publicado na revista Scientific Reports.
O objetivo deste estudo, coordenado por Ana Magalhães, investigadora no grupo Addiction Biology do i3S, passava por “perceber o impacto da combinação de fatores genéticos e ambientais na vulnerabilidade para o desenvolvimento de problemas de adição”.
Isto porque “o desenvolvimento de problemas aditivos ocorre devido à combinação de diversos fatores de risco, nomeadamente a depressão e o stress em idades precoces, mas pouco se sabe sobre o efeito/impacto da combinação destes dois fatores na vulnerabilidade às substâncias psicoativas na adolescência”, acrescenta a investigadora, citada pelo portal de notícias da Universidade do Porto.
Para desenvolver o estudo, “utilizámos duas estirpes de ratos com diferentes vulnerabilidades para a depressão, que foram separados das suas mães três horas por dia, durante as duas primeiras semanas de vida. Ou seja, comparámos os efeitos da separação precoce em ratos adolescentes cujas mães tinham maior predisposição para a ansiedade e depressão, com ratos adolescentes filhos de mães sem esse histórico”, explica Renata Alves, primeira autora do artigo.
Quando os animais em estudo atingiram a adolescência, a equipa de investigadores fez a avaliação do seu estado emocional e do efeito de recompensa de drogas psicoativas.
“Os resultados mostraram que o stress durante o início de vida alterou o estado emocional dos adolescentes, tornando os animais depressivos mais ansiosos e os não depressivos mais exploratórios, tendo revelado, para ambas as estirpes (depressiva e não depressiva), um risco aumentado para a dependência”, acrescenta a investigadora.
O stress em idades precoces, conclui Ana Magalhães, “parece afetar a vulnerabilidade face ao uso de drogas na adolescência, independentemente de um histórico de depressão, indicando as alterações do estado emocional como um fator de maior risco. Ou seja, a separação maternal parece ter mais influência na experimentação e eventual dependência de drogas na adolescência do que o perfil depressivo do indivíduo”.