Provavelmente dependemos do nosso sentido de visão, mais do que de qualquer dos outros quatro sentidos. Essa maravilha que é o olho humano, é capaz de captar uma enorme quantidade de informação que irá ser processada pelo cérebro e a interpretará, absorvendo nessa atividade uma boa parte da sua capacidade, sendo responsável por mais de dois terços da informação que temos aptidão para captar.
A capacidade de ver, no ser humano, depende das ações de várias estruturas no interior e ao redor do globo ocular. Quando olhamos para um objeto, são refletidos raios de luz de variada frequência, desse objeto para a córnea, que é a estrutura do olho onde se inicia o milagre do processo a que chamamos visão. Os raios de luz são refratados e focados pela córnea, cristalino e pelo vítreo. O cristalino tem por função fazer com que os raios sejam focados com nitidez sobre a retina sendo a partir daqui convertida em impulsos elétricos que são transmitidos ao cérebro onde a imagem é finalmente interpretada.
Quando ocorrem distúrbios visuais provocados por irregularidades na curvatura da córnea devido a herança genética, doenças do foro neurológico ou mais frequentemente de origem desconhecida, a imagem transmitida ao cérebro torna-se deformada, distorcida ou desfocada.
Nestas circunstâncias, para usufruir de visão normal, um grande número de pessoas necessita de usar óculos, sendo esta a forma mais comum de compensar os defeitos de visão onde se incluem a miopia, hipermetropia, o astigmatismo e a presbiopia. Os defeitos de visão, ou ametropias, não deverão ser considerados como doenças, pois decorrem apenas da focalização inadequada da luz que chega à retina.
Para além destes erros poderem ser corrigidos com o uso de óculos graduados ou lentes de contacto, com o evento da tecnologia laser aplicada à oftalmologia, a cirurgia refrativa passou a ser utilizada frequentemente como técnica de primeira opção, para remodelação da córnea em adultos, mesmo após considerar os eventuais riscos sempre associados a intervenção em órgão tão delicado.
A técnica lasik
De entre as várias técnicas de cirurgia refrativa com recurso a laser, a cirurgia LASIK "Laser-Assisted in Situ Keratomileusis", é uma das mais inovadoras e frequentemente usadas para remodelar a forma da córnea, com vista a corrigir ametropias esferocilíndricas. Esta técnica passou a ser usada preferencialmente, em detrimento de outras cirurgias mais invasivas e de recuperação mais demorada, pois possibilita um pós-operatório indolor, uma rápida recuperação da visão, e um resultado estável no futuro.
A cirurgia por lasik é atualmente reconhecida por todas as instituições nacionais e internacionais como uma técnica segura, com uma percentagem de complicações mínima, e tem sido a eleita pelos especialistas para corrigir problemas refrativos em geral, mas com particular enfoque em:
- miopias até 10 dioptrias (dificuldade em ver com nitidez ao longe, causada pelo facto de os raios luminosos que formam as imagens focalizarem antes da retina);
- hipermetropias até 6 dioptrias (dificuldade em ver com nitidez ao perto causada pelo facto de os raios luminosos que formam as imagens focalizarem atrás da retina, podendo dizer-se que é o inverso da miopia);
- astigmatismos até 5 dioptrias (visão turva e deformada, quer ao longe quer ao perto, causada pelo facto de os raios luminosos que formam as imagens focalizarem em 2 pontos, situados em planos e eixos diferentes).
Controlada por computador, a moldagem da córnea é realizada por um feixe laser, que atua na sua camada intermédia (estroma) que fica exposta após se levantar a fina camada superficial. Devido à segurança que proporciona, é considerada como uma significativa inovação na área da oftalmologia desde o seu aparecimento em 1990.
A córnea é a parte anterior transparente com função protetora do olho nos vertebrados. Localiza-se na região polar anterior do globo ocular e, conjuntamente com o cristalino, tem por função focar a luz através da pupila para a retina, tal como se fosse uma lente fixa. As lágrimas, seu lubrificante, mantém-na húmida e saudável.
A correção da curvatura da calote esférica da córnea, tem por objetivo alterar a sua curvatura por forma a permitir que os raios luminosos formem um foco sobre a retina e proporcionem aos pacientes uma visão nítida dos objetos, reduzindo ou mesmo eliminando a necessidade de usar óculos ou lentes de contacto.
As ametropias esferocilíndricas são erros refrativos, ou seja, erros na capacidade que o olho tem em refratar a luz e focar os raios luminosos na retina.
A luz, que devia ser focada na retina de forma correta e no ângulo certo, passa a ser focada ou a convergir para uma zona antes da retina no caso da miopia e para lá desta nos casos de hipermetropia, devido à existência destes erros.
Na cirurgia lasik, um oftalmologista devidamente treinado e experiente utiliza um raio laser extremamente preciso para remodelar a córnea, a fim de que a luz seja focalizada de forma adequada às tarefas de correção designadamente:
- na miopia, o cirurgião utiliza o laser para aplanar e alisar a superfície da córnea, capacitando o olho a focalizar a luz corretamente na retina.
- na hipermetropia, o laser é utilizado pelo cirurgião para aplanar a orla externa da córnea, fazendo com que a sua parte central surja mais projetada, aumentando assim o grau de curvatura.
- para correção do astigmatismo, o cirurgião utiliza o laser para remodelar algumas áreas mais irregulares da córnea, tornando-as planas e com um formato mais elíptico.
Como surgem as ametropias
Quando não há convergência de planos dos sistemas óticos (foco diótrico), que permita a visão distinta, diz-se que há ametropia. As suas causas são as mais variadas mas podem sintetizar-se em: alteração da posição das estruturas ópticas, da curvatura da córnea ou do índice de refração do cristalino ou ainda pela ausência de um dos elementos do sistema ótico.
Na miopia, o olho é maior que o normal ou o cristalino está muito deslocado para a frente; a curvatura da córnea é maior que o normal e o cristalino refrata excessivamente os raios luminosos e foca-os muito perto, antes da retina.
Na hipermetropia, o olho é mais pequeno que o normal ou o cristalino está muito recuado; a curvatura da córnea é pequena; o cristalino refrata deficientemente os raios luminosos e foca-os muito longe, para lá da retina.
Na ausência de um elemento do sistema ótico, normalmente do cristalino, em consequência de cirurgia, por exemplo para extração da cataratas.
No astigmatismo, os pacientes vêem as imagens desfocadas devido à existência de diferentes meridianos da córnea com diferentes potências diópticas e cada um deles vai focar a imagem recebida em diferentes planos, anteriores e posteriores da retina. Isto significa que num plano de corte horizontal, por exemplo, a córnea apresenta-se com uma maior curvatura do que noutro plano seja ele vertical ou em qualquer outro ângulo, o que torna as coisas mais complexas.
Na prática isto significa que um míope, que só consegue ver objetos a pequena distância do olho, converge bem os raios luminosos, situação em que essa convergência é necessária, e por isso vê bem ao perto. Para ver à distância, os raios luminosos são focados na parte anterior da retina e não o consegue fazer, vendo por isso as imagens desfocadas.
Por último o hipermétrope não converge bem os raios luminosos e, por isso, quando observa objetos próximos os raios luminosos são focados para além da retina, vendo as imagens desfocadas. Para ver um objeto ao longe, como não necessita dessa convergência, vê com nitidez ao longe.
Candidatos à cirurgia
Na correção de erros refrativos, são potenciais candidatos todos os indivíduos saudáveis maiores de 18 anos, com graduação estável nos últimos 2 anos, que não sejam portadores de doenças oculares e, em alguns casos, de doenças comuns e que tenham graduações entre -1,0 a -8,0 dioptrias na miopia; +1 a + 7 na hipermetropia e 1,0 a 6,0 no astigmatismo.
As mulheres grávidas, os diabéticos, utilizadores de corticosteroides, portadores de doenças autoimunes não controladas, como artrite reumatoide ou lúpus, bem como as pessoas com história de herpes ocular recidivante não devem, em geral, submeter-se a esta cirurgia.
Complicações cirúrgicas
A cirurgia é realizada sob anestesia tópica e, dependendo da graduação, demora pouco tempo e é indolor. A recuperação é rápida e geralmente, no mesmo dia da intervenção ou no dia seguinte, a visão fica totalmente restabelecida, embora em alguns casos isso possa demorar mais algum tempo. De qualquer maneira é possível retomar a atividade normal em pouco mais de dois dias após a cirurgia.
Como em todas as intervenções cirúrgicas, na cirurgia refrativa também há riscos, sendo a infeção o mais temido e, muito embora as situações sejam raras e medicamente controláveis, podem no entanto surgir outras complicações tais como:
Na hiper ou hipocorreção da deficiência, quando muito acentuadas, poderá ser necessário proceder a retoques de aperfeiçoamento normalmente num prazo entre 3 a 6 meses.
É frequente a ocorrência de secura ocular, pelo que é necessário, logo de início, usar um lubrificante durante pelo menos as duas primeiras semanas.
Na cirurgia lasik pode ocorrer excesso de cicatrização epitelial na periferia do corte, pelo que é necessário proceder à remoção da película excedente.
A sensibilidade à luz fica aumentada.
Embora muito raros, dado ser hoje possível avaliar essa probabilidade antes da cirurgia, com ajuda da tecnologia atualmente utilizada no estudo prévio pré-operatório, pode ocorrer o efeito de visão reduzida com luz de fraca intensidade ou de halos durante a noite.
Embora remotamente, é possível que em determinadas circunstâncias fique uma ligeira cicatriz, que entretanto acaba por desaparecer ao fim de alguns meses.
Efeitos colaterais
Estudos divulgados durante o VII Congresso Mundial da Córnea realizado em abril de 2015 em San Diego, EUA, mostram que os pacientes submetidos a cirurgia lasik, para correção de miopia, têm de ser operados cerca de 6,4 anos mais cedo às cataratas do que os não operados, muito embora a acuidade visual em ambos os casos se mantenha semelhante aos 70 anos, idade em que normalmente surgem as cataratas.
Considerando que a técnica é relativamente recente (pouco mais de 20 anos), trata-se de uma diferença muito significativa e por isso, muito provavelmente tenderá a aumentar em pacientes mais jovens operados recentemente. Tudo parece indiciar que este tipo de cirurgia fragiliza o olho, e daí o aparecimento de cataratas mais cedo do que nos não operados.
É frequente surgirem panfletos e páginas de clínicas online, onde é anunciado que a cirurgia lasik permite eliminar definitivamente a utilização de óculos e lentes de contacto, o que obviamente não é exato. O lasik não serve para curar uma doença, limitando-se a "moldar" a córnea por forma a imitar a curvatura de uma lente e, por isso, não irá impedir as alterações naturais de graduação que vão ocorrendo ao longo da vida.
Vantagens e desvantagens da técnica lasik
Como em outras cirurgias invasivas, a partir do momento em que o paciente pensa seriamente em submeter-se a cirurgia ocular, deve ponderar cuidadosamente todas as vantagens e inconvenientes, procurando uma segunda ou terceira opinião médica, nas quais deverá basear a sua decisão.
As principais vantagens, no caso de tudo correr bem, é que o paciente poderá deixar de usar óculos para ver ao longe ou lentes de contacto, o que poderá eventualmente melhorar a sua autoestima.
Bastará navegar pelas páginas da internet e pesquisar o tema, para rapidamente nos apercebermos de que nos pratos da balança as desvantagens pesam mais que as vantagens, se excluídas as opções estéticas, sempre subjetivas. Para além dos efeitos perniciosos que derivam de qualquer intervenção cirúrgica, em particular num órgão tão sensível como o olho, esta operação tem várias desvantagens que se podem resumir a seguir:
A cirurgia lasik não é um método definitivo de correção e, assim sendo, todas as pessoas operadas voltam a usar óculos; não cura as ametropias, apenas molda a córnea com laser de forma a imitar uma lente que, como todas, irá ficar desatualizada com o tempo; após a intervenção a córnea fica mais fina e o olho menos saudável; a grande maioria dos pacientes submetidos a cirurgia queixam-se do incómodo de ficarem com olho seco, verem pior à noite e terem mais sensibilidade à luz; a orla da incisão nunca cicatriza completamente podendo descolar a qualquer momento; na eventualidade de ser necessária uma cirurgia às cataratas há maiores riscos e piores resultados; obriga a exames médicos específicos e acompanhamento médico ao longo da vida; pode originar ectasia ocular obrigando ao transplante da córnea; o paciente não poderá jamais esfregar os olhos ou pressioná-los em excesso; a visão é responsável por mais de dois terços da capacidade sensorial do ser humano, pelo que, desconhecendo-se as consequências a longo prazo deste procedimento, cujo resultado é uma córnea mais fina, não podem ser previstas.
Consentimento informado
Antes de qualquer ato clínico com vista à realização da cirurgia lasik, o paciente deve conceder permissão formal para a realização do procedimento em olhos sadios, no qual o paciente se declara plenamente informado quanto aos riscos, benefícios e alternativas com ele relacionados, assinando para o efeito um termo de consentimento que deverá ser lido com todo o cuidado depois de cabalmente esclarecidas todas as dúvidas.
Devidamente ponderados os inconvenientes enunciados, a cirurgia lasik é uma boa alternativa para a grande maioria dos pacientes que antes só tinham como recurso disponível os óculos e lentes de contacto e vêm assim diminuir substancialmente a sua dependência em relação ao uso de lentes corretivas, abrindo-lhes novas perspetivas de vida ao facilitar o desempenho de atividades antes dificultadas ou até consideradas impossíveis. Este pode ser o seu caso!
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