Prémio Mulheres na Ciência distingue estudos sobre redes cerebrais
O Prémio LOréal “Mulheres na Ciência” distingue, este ano, investigadoras que estão a estudar a doença lúpus, a regeneração dos amortecedores das vértebras, as redes cerebrais e a vida marinha, anunciou a organização.
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A distinção, no valor de 15 mil euros, foi entregue esta quarta-feira, 27 de fevereiro, em Lisboa, às cientistas Diana Madeira (Universidade de Aveiro), Joana Cabral (Universidade do Minho), Joana Caldeira (Universidade do Porto) e Patrícia Costa Reis (Universidade de Lisboa).
O Prémio “Mulheres na Ciência” é atribuído anualmente a jovens investigadoras, entre os 30 e os 36 anos, e financiado pela empresa de cosmética LOréal Portugal.
Diana Madeira quer perceber como as minhocas marinhas respondem às alterações climáticas e à poluição, enquanto Joana Cabral propõe-se trabalhar num modelo teórico capaz de explicar os mecanismos bioquímicos do cérebro que, quando alterados, estão na origem de doenças como a esquizofrenia ou depressão.
Joana Caldeira vai usar a técnica de edição genética CRISPR/Cas9 na regeneração dos discos intervertebrais, os amortecedores das vértebras que, quando danificados, levam à dor lombar e Patrícia Costa Reis irá aferir se as pessoas com lúpus, doença em que o sistema imunitário ataca o próprio corpo em vez de o proteger provocando inflamação, têm um intestino mais permeável, que poderá levar à passagem de bactérias para a circulação sanguínea, desregulando o sistema imunitário.
Em declarações à Lusa, a investigadora Joana Cabral, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho, disse que há “sinais cerebrais” relacionados, não se sabe porquê, com diferentes doenças neurológicas e psiquiátricas, como esquizofrenia, epilepsia ou transtorno obsessivo-compulsivo.
Partindo das “dinâmicas” geradas pelas redes de neurónios (células cerebrais), a cientista propõe-se construir, a partir de algoritmos computacionais, modelos teóricos que reproduzam esses sinais cerebrais, primeiro de pessoas saudáveis.
Estes modelos serão, depois, comparados e validados com os dados obtidos em eletroencefalografias e ressonâncias magnéticas funcionais, exames que registam a atividade cerebral.
Posteriormente, numa outra fase, fora do âmbito da proposta de trabalho com o qual foi premiada, a ideia será “manipular” um modelo teórico genérico que possa ajudar a compreender as alterações na rede neuronal associadas a doenças neurológicas ou psiquiátricas.
Joana Caldeira, investigadora do i3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, vai usar a técnica de edição genética CRISPR/Cas9 para, como afirmou à Lusa, “recriar um ambiente acolhedor” para as células estaminais sobreviverem num “ambiente hostil” como os amortecedores das vértebras danificados e, assim, desempenharem “a sua função regenerativa”.
As células estaminais são células que se diferenciam noutras e, por isso, podem substituir células que foram destruídas e regenerar tecidos com lesões.
Com a ferramenta de edição genética CRISPR/Cas9, a equipa coordenada por Joana Caldeira pretende reativar genes fetais (do feto) para potenciar melhor as terapias regenerativas com células estaminais humanas.
Segundo a cientista, a degeneração dos discos intervertebrais está ligada a alterações na matriz extracelular do disco (estrutura do disco que não tem células).
Patrícia Costa Reis, pediatra do Hospital de Santa Maria e investigadora do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, sintetizou que vai “estudar a forma como as bactérias que habitam o intestino influenciam a atividade” da doença lúpus.
Para a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, o âmbito do seu trabalho “permite pensar no lúpus”, que pode provocar lesões na pele, e “noutras doenças autoimunes de uma perspetiva diferente e procurar encontrar novas formas de controlo” destas patologias.
Investigadora no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro, Diana Madeira adiantou que o seu grupo de trabalho vai avaliar como três gerações de poliquetas (minhocas que servem de isco aos pescadores e são alimento para muitas espécies marinhas) reagem ao aquecimento global e à poluição por metais pesados, alterando “parâmetros como crescimento, sobrevivência e reprodução”, e verificar que “mecanismos moleculares explicam essas alterações”.
Diana Madeira espera que o estudo, que está a ser desenvolvido em colaboração com a Universidade Nova de Lisboa e a universidade canadiana do Québec, possa “estimar qual será a trajetória das populações” de invertebrados marinhos “numa escala de tempo mais alargada, se serão capazes ou não de sobreviver e reproduzir-se”, e, assim, “adaptar os planos de conservação para o meio marinho” para “promover a sustentabilidade ambiental e dos recursos”.
As quatro investigadoras distinguidas este ano com os Prémios LOréal “Mulheres na Ciência” foram selecionadas entre mais de 70 candidatas por um júri presidido pelo investigador e deputado Alexandre Quintanilha.