Estudo da latência da tuberculose e eliminação da bactéria
Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), no Porto, estão a analisar a latência da tuberculose com o objetivo de perceber como é que “algumas pessoas eliminam a bactéria do sistema imunitário”, revelou a responsável pelo estudo.
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“Estima-se que 1,7 biliões de pessoas tenham tuberculose latente, ou seja, são pessoas perfeitamente saudáveis, que não têm tuberculose, nem estão doentes, mas alguns terão a bactéria no seu organismo. Isto significa que desses 1,7 biliões de indivíduos, devido a possíveis fragilidades do sistema imunitário, alguns poderão desenvolver tuberculose”, afirmou Margarida Saraiva, líder do grupo ‘Immune Regulation’ do i3S.
A equipa de investigadores do i3S, que desde 2015 tem vindo a desenvolver vários projetos no âmbito da tuberculose, pretende agora, através de uma “’marca’ que é deixada no sistema imunitário pela bactéria”, distinguir “quem a eliminou de quem não a eliminou”.
“A bactéria aprendeu a escapar ao nosso sistema imunitário, mas nós também aprendemos a lidar com ela. O que queremos é perceber mais concretamente como é que a bactéria escapa ao sistema imune e como é que a maioria das pessoas lida com ela, sendo que algumas pessoas acabam mesmo por conseguir eliminá-la do sistema imunitário”, explicou.
Segundo Margarida Saraiva, a ‘marca’ deixada pela bactéria e relacionada com o fenómeno “treino da imunidade inata” foi “descoberta muito recentemente” e pode vir a ter “um valor muito interessante” no âmbito da latência da tuberculose.
“Este é um fenómeno muito recentemente descrito, aliás, a própria tecnologia e metodologia não estão muito desenvolvidas. Até ao momento, estivemos a otimizar a parte experimental e também estivemos a colecionar amostras, porque, como nunca foi descrito, não temos um padrão de comparação”, explicou a investigadora.
Assim, em colaboração com o Centro de Diagnóstico Pneumológico do Porto (CDP), os investigadores recrutaram para o “banco de amostras” cerca de 300 participantes da região do Porto em diferentes estádios.
“Recrutamos uma série de participantes para o nosso trabalho, uns que têm tuberculose ativa, outros que já estão a ser tratados, outros que são latentes e outros que nem são latentes, nem doentes e que aparentemente não tiveram infeção. Através destas amostras conseguimos ter células para otimizar os procedimentos que temos vindo a desenvolver no laboratório”, frisou.
Margarida Saraiva contou ainda que a equipa do i3S pretende, no final deste ano, submeter um artigo sobre “os fatores de virulência da bactéria que causa a tuberculose”.
“Acreditamos que a bactéria da tuberculose ao co-evoluir no nosso sistema imunitário foi aprendendo os ‘truques’ que precisa para fazer o melhor e o pior à nossa resposta imunitária. As bactérias não evoluíram todas da mesma forma, por isso é que umas são mais virulentas do que outras”, acrescentou.
O grupo ‘Immune Regulation’ do i3S, que é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), da FCT-Aga Khan, da British Society for Antimicrobial Research, já foi distinguido pela European Society for Microbiology and Infectious Diseases, pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia e com a bolsa D. Manuel de Mello para investigação clínica.