Medicamentos para azia podem acelerar tratamento da tuberculose
O tratamento da tuberculose (TB) é geralmente moroso e requer vários medicamentos. Um estudo realizado por investigadores de Cambridge permitiu concluir que os fármacos de venda livre normalmente utilizados para tratar a azia podem encurtar o tratamento desta doença infeciosa.
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O objetivo da investigação, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), era descobrir exatamente por que razão o tratamento para a TB normalmente envolve tomar antibióticos durante vários meses.
Quando se está infetado, as bactérias da TB penetram nos tecidos e invadem as células que fazem parte do sistema imunológico, chamadas macrófagos. Ao chegarem lá, ligam bombas nas suas membranas celulares que bombeiam os antibióticos que usamos contra eles. Isso torna a bactéria tolerante aos antibióticos, razão pela qual demora tanto tempo a tratar a doença.
No novo estudo, a professora Lalita Ramakrishnan e colegas decidiram testar se um medicamento para o coração e pressão arterial denominado verapamil, que bloqueia as bombas da membrana celular humana, também poderia bloquear a bomba da membrana celular bacteriana.
Para isso, usaram uma abordagem hábil que consistiu em marcar um antibiótico normalmente usado para tratar a TB, a rifampicina, com um marcador fluorescente para puderem visualizar exatamente como as bactérias processam o antibiótico. Isso significava que podiam observar diretamente que o verapamil, de facto, impede a bactéria de ejetar a rifampicina.
Surgiu então a questão se outras substâncias de amplo uso para todos os tipos de condições, que também acidentalmente bloqueiam as bombas de membrana celular humana, teriam o mesmo efeito que o verapamil nas bombas bacterianas da TB.
Ao examinarem esses medicamentos, os especialistas descobriram que muitos deles funcionavam. O que mais impressionou foi a classe de inibidores da bomba de protões, que estão entre os mais amplamente usados, medicamentos de venda livre para azia, refluxo e gastrite, como o omeprazol, pantoprazol, lansoprazol e rabeprazol.
Constatou-se que estes medicamentos funcionam tão bem ou possivelmente com uma potência ainda maior do que o verapamil.
Uma vez que se acredita que as bombas ativas dos medicamentos permitem que as bactérias desenvolvam resistência aos medicamentos, existe a possibilidade de que esses medicamentos possam, ao mesmo tempo, reduzir as hipóteses de resistência aos medicamentos – um problema significativo no tratamento da TB.
Este trabalho é um exemplo de como a compreensão dos mecanismos celulares básicos pode abrir caminhos para futuros regimes de tratamento. O potencial para reaproveitar medicamentos baratos e facilmente acessíveis para acelerar o tratamento da TB pode ter um enorme impacto na saúde em todo o mundo.