Um dos passatempos mais antigos da história é a criação e/ou manutenção de espécies aquáticas (peixes, plantas e outros organismos) num recipiente de vidro, acrílico ou plástico habitualmente designado de aquário, sob condições controladas e com alguns cuidados, que conhecemos por Aquariofilia.
Seja para fins decorativos ou estudo, a aquariofilia é uma atividade que contribui para a proteção das espécies selvagens, diminuindo o número de exemplares capturados na natureza e permitindo simultaneamente a existência de programas de reprodução das espécies de peixes em extinção.
Mas nem sempre foi assim. Os peixes começaram por ser criados em cativeiro não como passatempo, mas por razões práticas, como fonte alimentar.
A aquariofilia tornou-se um passatempo quando, por curiosidade, se decidiu isolar espécies de cores invulgares e reproduzi-las seletivamente. Na China, os primeiros aquariófilos começaram por criar ciprinídeos (família dos teleósteos, de água doce, a que pertencem o barbo, a carpa, a tenca, etc.) em quantidades enormes, não apenas com cores mais vivas, mas também com adaptações específicas no corpo e nas barbatanas.
No século XVI, os coloridos ciprinídeos foram introduzidos no Japão e, ao longo dos cem anos seguintes, espalharam-se pela Europa e por volta de 1900 o peixe-vermelho chegou à América.
Foi provavelmente no início do século XIX que surgiram os aquários que hoje conhecemos. Até então, só há registos de peixes criados, durante alguns anos, em frascos de vidro. O ponto decisivo deu-se em 1850, quando um tal R. Harrington apresentou um relatório à Chemical Society de Londres, Inglaterra, descrevendo a forma como conseguia manter com êxito um aquário. O caso despertou grande interesse e lançou a aquariofilia como um passatempo que se viria a tornar muito popular.
Em pouco tempo, a aquariofilia transformou-se num desafio à imaginação do público e dos entusiastas interessados em manter aquários cada vez mais elaborados. Em 1857, H. Noel Humphreys publicou Jardins em Oceanos e Rios – História dos Aquários de Água Doce e Salgada, onde afirmava: "Um dia teremos aquários tropicais, onde a temperatura e características dos mares dos trópicos serão reproduzidas com êxito."
E esse dia não estava longe. Na realidade, a aquariofilia surgiu durante o século XIX, com o desenvolvimento do conceito de um aquário equilibrado, com plantas aquáticas e peixes. A água era aquecida através de lâmpadas de óleo, petróleo ou gás, permitindo assim a aclimatação de espécies tropicais, transportadas pelos marinheiros. Nesta época começaram também a aparecer os primeiros grandes aquários públicos, como o de Paris (1860), o de Londres (1871), e o Aquário Vasco da Gama (1898).
Se só agora despertou para o maravilhoso mundo da Aquariofilia e está em vias de dar os primeiros passos neste tão antigo hobby, sem limite de idade ou conhecimentos, que lhe permite ter dentro de casa um pedaço da natureza e mergulhar num mundo fascinante de cor e diversidade de espécies, aqui ficam alguns conselhos.
Por onde começar?
Antes de adquirir os peixes ou invertebrados aquáticos, o aquariofilista consciente deve informar-se sobre os cuidados necessários para a sua manutenção.
A sobrevivência de peixes e invertebrados em aquário requer inúmeros cuidados, exigindo uma planificação cuidadosa, com o objetivo de recriar as condições, tão próximas quanto possível, do meio natural das espécies nele introduzidas. Os aspetos técnicos relacionados com as dimensões do aquário, decoração, condicionamento da temperatura, tratamento de água e iluminação, dependem essencialmente da escolha das espécies a manter.
As espécies de peixes para aquário variam conforme o ambiente, que pode ser doce ou salgado ou ainda tropical ou frio.
Os aquários de água doce tropical são um ambiente fácil de controlar e de manter, devendo a temperatura rondar aproximadamente os 25˚C, dependendo das espécies que o habitam. Devido à sua beleza, pouca necessidade de espaço e facilidade de manutenção, os aquários de água doce tropical são os ambientes mais populares entre os aquariofilistas, principalmente entre os iniciantes. Geralmente os peixes são coloridos, resistentes e pequenos sendo fáceis de encontrar no mercado com uma oferta muito variada.
Tendo determinado as espécies que pretende criar, o passo seguinte é a escolha do aquário. Deve optar-se pela forma paralelipípeda e com a maior capacidade possível para a água (nunca inferior a 30 a 40 litros), pois quanto maior o espaço e a quantidade de água menores serão os problemas.
O móvel onde for colocar o aquário deve ser resistente, tendo em conta o peso que o aquário vai exercer sobre ele. A escolha do local onde o irá colocar é também um fator muito importante. Evitar a sua instalação onde incida a luz direta do sol ou próximo de janelas e portas onde sejam prováveis as correntes de ar que poderão alterar a temperatura da água ciclicamente.
Geralmente fazem parte do aquário alguns equipamentos básicos utilizados na sua manutenção, como sejam, um kit de teste de pH para medir a acidez e alcalinidade da água, um sifão para limpeza, sistema de iluminação (de preferência fluorescente), um termostato (aparelho fornecido com aquecedor e controlador da temperatura); um aquaSafe (condicionador de água que elimina o cloro, metais pesados e protege a mucosa natural dos peixes) e, de preferência um filtro externo (de capacidade adaptada ao tamanho do aquário).
Se optar por um filtro biológico de fundo deve ter-se cuidado para que as placas do filtro não cubram totalmente a base do aquário, mas apenas ¾ da sua superfície. Instalar, para cada 50 cm do aquário um tubo elevador, e uma ou duas vezes por ano, introduzir uma mangueirinha pelo tubo elevador e sifonar os resíduos que se encontram sob a placa do filtro. É importante saber que esse filtro nunca deve ser lavado por completo, pois isso destruiria toda a sua biologia. Deve-se utilizar, de preferência, cascalho rolado de rio, formando uma camada de 5 a 7 cm. Nunca usar pedras coloridas que, provavelmente, vão soltar tinta que irá poluir a água e não utilizar cascalho claro, pois tira todo o brilho dos peixes.
A água a ser utilizada deve estar livre de qualquer impureza. Para isso é necessário que o aquário seja mantido em funcionamento normal durante uma semana, sem peixes, para que as impurezas sejam eliminadas e se possa estabelecer o equilíbrio biológico no seu interior.
Pelo facto de a maioria dos peixes serem tropicais, a temperatura deve permanecer estável entre 24˚ e 28˚C. Convém instalar 1 aquecedor (1 watt-1 litro) e um termóstato, para que a temperatura não varie muito, pois tal facto provavelmente acarretaria doenças aos peixes. Deve-se trocar 1/4 da água do aquário a cada mês e adicionar água descansada, que deve ter o mesmo pH e a mesma temperatura da água que foi retirada.
Quanto à decoração do aquário, as plantas aquáticas são mais que um complemento. Para além de lhe proporcionarem vida e cor, cumprem funções importantes, tais como oxigenar a água, decompor os poluentes biologicamente, fornecer abrigo aos peixes mais tímidos e funcionar como suporte para a postura de ovos. Ao tornarem o ambiente do aquário mais natural e seguro, permitem que o stress dos peixes diminua, melhorando o seu estado de saúde. Deve ser analisado o tipo de solo, de água, a temperatura e quantidade de luz ideal para cada espécie de planta, e plantar-se aproximadamente ¾ do solo do aquário.
Com o aquário preparado para receber as espécies escolhidas o passo seguinte é adquirir os peixes. Deve-se evitar misturar peixes muito grandes com peixes muito pequenos, e se possível consultar uma Tabela de Compatibilidade entre eles. O Guppy é uma excelente espécie para os iniciantes neste hobby.
O Guppy, a escolha perfeita
De nome científico Poecilia reticulata sp. este peixe é conhecido vulgarmente por nomes como Guppy, Lebiste, Peixe Arco-íris, Barrigudinho, Bandeirinha, ou Sarapintado.
É sem dúvida o mais popular peixe entre as espécies de desenvolvimento em cativeiro. Numerosos aquariófilos dedicam-se exclusivamente a esta espécie, criando belíssimos exemplares de colorido diverso e barbatanas de diferentes formatos. Devido à sua resistência e facilidade de reprodução são aconselhados para os iniciantes na aquariofilia.
Originário da América Central e do Sul, o Guppy pertence à família dos Ciprinodontídeos, que incluem os vivíparos (platys, guppys e espadas) e os ovíparos (killis). São peixes resistentes – suportam as mais adversas condições devido à sua rusticidade –, e pacíficos, coloridos e de fácil reprodução, que ocorre uma vez por mês. O macho pode atingir 3 cm de comprimento e a fêmea chega aos 6 cm.
De entre as suas características destaca-se a variedade de cores e formatos das caudas dos machos, criadas pela reprodução seletiva destes peixes. Podem observar-se caudas com uma espada, duas espadas, barbatana larga, retangular, redonda, em espigão, etc.
Os Guppys podem por vezes morder-se mutuamente, por isso geralmente aconselha-se a manutenção de um macho e várias fêmeas. Têm também uma predileção por caudas exuberantes e podem tentar morder a cauda de outras espécies com longas barbatanas.
A reprodução é ovovivípara, ou seja, o macho copula com a fêmea, que usa o esperma para fertilizar os óvulos. Estes desenvovem-se dentro da fêmea mas sem nenhuma relação com ela, ou seja sem ligação da placenta. Findo o período de gestação, a fêmea liberta os ovos que eclodem pouco tempo depois. O nascimento dá-se entre o 28º e 36º dia, podendo nascer de 30 a 200 alevinos de cada postura.
São peixes muito ativos e cheios de vida, nadando a todo o momento, mais perto da superfície. Gostam de viver em aquários com alguma vegetação, mas aproveitam bem todo o espaço livre do aquário.
O Guppy é um dos peixes mais populares nos aquários, mas o Platy, o Espada e o Molly são igualmente boas opções para quem inicia esta apaixonante aventura.
Tal como o Guppy, o Platy é uma espécie muito comum e querida entre a maioria dos aquariófilos. A sua rusticidade de cores e formas torna-o numa bela aquisição para aquários, especialmente os comunitários. São sociáveis, pacíficos e atraentes quando em cardume.
Igualmente pacíficos e resistentes, os Cauda de Espada, ou Espada, formam pequenos cardumes de machos e fêmeas, sendo animais extremamente decorativos num aquário.
A sua resistência fez com que fosse cruzado com outras espécies. O cruzamento com Platys tornou-se bastante popular pois as duas espécies pertencem ao mesmo género, sendo difícil, aos mais inexperientes, distingui-los.
Os Molly, ou Molinésia, também são peixes pacíficos, apesar dos machos mostrarem comportamentos agressivos em certas alturas específicas. Funcionam um pouco como os limpa-vidros no que toca às algas. Onde houver algas, seja no vidro ou na própria decoração, estas são ingeridas pois estes peixes requerem uma dieta vegetal.
De referir que as algas são um dos problemas que mais desesperam os aquariófilos. O aparecimento de algas pode acontecer a qualquer momento e na grande maioria das vezes o seu aparecimento deve-se a desequilíbrios existentes no aquário. A verdade é que não existem aquários completamente livres de algas mas, se a existência destas for equilibrada, até acabam por ficar engraçadas, agarradas a troncos ou em materiais decorativos.
Além dos peixes e das plantas, para enriquecer o aquário podem adquirir-se alguns invertebrados como os camarões, por exemplo, ou os caramujos. Estes são os invertebrados mais comuns em aquários de água doce, havendo muitas vezes dezenas deles antes mesmo de nos apercebermos. Se a população for mantida sob controle, para além de ornamentais são muito úteis pois, tal como os Molly, ajudam a reduzir as algas das paredes do aquário e da decoração, além de contribuirem para a estabilização e a ecologia no seu interior.
Para evitar desequilíbrios num aquário, seja na fauna ou flora, a dedicação do aquariofilista e uma manutenção regular faz toda a diferença.
Manutenção: a chave para evitar doenças e pragas
A manutenção do aquário é o fator decisivo para o bem-estar e a saúde dos seres que habitam o ecossistema nele contido. Água sem qualidade, turva, com falta de oxigénio, excesso de detritos e plantas a definhar, provocam o aparecimento imediato de doenças e, consequentemente, a morte dos seus habitantes.
Entre as várias doenças e pragas que podem atingir os peixes, as mais comuns são o íctio (provocada pelo parasita Ichthyophthirius multifillis), o Verme âncora, também conhecido por Lérnea; Odiniose, também conhecida como a Doença do Veludo (causada pelo protozoário Oodinium pilullaris); Fungos; Superabundância de Sangue, também conhecida como anel hiperémico, ou Chondrococcus; Congestão ou inflamação das barbatanas; Branquite (inflamação das brânquias); Descamação; Feridas ou ferimentos; Dactylogyrus ou infestação por pequenos parasitas, muito difícil de erradicar; ou Aeromonas, uma bactéria gram-negativa, considerada oportunista tanto para os seres humanos quanto para os animais, especialmente peixes, pois está amplamente disseminada pelo ambiente aquático.
Antes de mais é importante perceber que a frequência das intervenções de manutenção num aquário é determinada por fatores como o seu tamanho, a quantidade e diversidade das espécies e dos acessórios instalados.
Entre os cuidados diários incluem-se ligar e desligar a iluminação (o ideal será instalar um temporizador regulando-o para manter as luzes ligadas durante 8-10 horas), verificar a temperatura da água, as condições de funcionamento do filtro, e alimentar os peixes 2 a 3 vezes por dia (em quantidades que possam ser consumidas num curto espaço de tempo).
Dos cuidados semanais fazem parte as mudanças de água. Dependendo do volume da população de peixes e do tamanho do aquário, deve ser feita uma mudança parcial da água semanalmente e proceder à análise da sua qualidade bem como testes aos nitritos, pH e kH.
De acordo com as necessidades, deve proceder-se à remoção das folhas das plantas, mortas ou a apodrecer, podá-las ou desbastá-las, remover as algas dos vidros, sifonar o areão e proceder à filtragem e limpeza dos filtros, verificando a eventual necessidade de substituição.
Semestralmente deve fazer-se a substituição das lâmpadas fluorescentes, ainda que aparentem estar em bom estado.
A manutenção do aquário consiste, essencialmente, em recriar o habitat dos peixes ornamentais de acordo com os padrões da natureza onde se desenvolveram e à qual se adaptaram.
O aquário, com a sua diversidade de peixes e plantas, além de uma excelente peça decorativa proporciona aos seus entusiastas uma terapia ocupacional sem paralelo, sendo inclusive, recomendado pelos clínicos como um ótimo calmante natural. Além disso, quando comparado com outros hobbies ou manutenção de outros animais domésticos, a aquariofilia é, sem dúvida, uma opção mais económica e menos trabalhosa. Assim, descontraia e dê largas à imaginação!
Há-os de vários tipos e para todos os gostos: de água doce, salgada, fria, quente, comunitários – onde habitam várias espécies de peixes, biótipo – onde apenas existem peixes e plantas provenientes da...
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Os detentores de animais de companhia, não podem provocar dor ou exercer maus-tratos que resultem em sofrimento, abandono ou morte, estando legalmente obrigados a assegurar o respeito por cada espécie...