AQUARIOFILIA: A FUGA PARA O PARAÍSO

AQUARIOFILIA: A FUGA PARA O PARAÍSO

AQUARIOFILIA

  Tupam Editores

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Há-os de vários tipos e para todos os gostos: de água doce, salgada, fria, quente, comunitários – onde habitam várias espécies de peixes, biótipo – onde apenas existem peixes e plantas provenientes da mesma zona geográfica, monoespécie – para os fãs de uma espécie específica, e os de reprodução ou maternidade, entre muitos outros.

Os novos aquários, cheios de cor e luz, onde tudo é pensado ao pormenor, vieram substituir os globos de dois litros, proibidos em Portugal pela Convenção Europeia para a Proteção dos Animais de Companhia (Artigo 31.º do DL n.º 276/2001, de 17 de outubro), que hoje apenas existem nalguma "loja de esquina", onde ficaram esquecidos.

A aquariofilia, também conhecida como aquarismo, atingiu no nosso país um importante patamar de relevância, quer pelo elevado número de entusiastas – que todos os dias dedicam algum do seu tempo a tratar dos seus peixes, a ver crescer os corais e tudo o que envolve a vida num aquário –, quer pela maturidade dos seus conhecimentos, revelados na elevada qualidade dos aquários e equipamentos acessórios adquiridos.

Nos últimos anos assistiu-se a um desenvolvimento muito significativo da aquariofilia, tanto por parte dos aficionados como do sector associado à exploração de produtos específicos para o hobby e aos próprios seres vivos.

Embora as tecnologias de informação tenham sido o principal veículo impulsionador dos conhecimentos sobre a manutenção dos seres aquáticos em cativeiro, através dos fóruns na internet, sites e revistas online, começam a desenvolver-se em Portugal eventos e outras atividades entre aficionados com o objetivo de divulgar e dar a conhecer a aquariofilia e sensibilizar os interessados para a proteção dos ambientes aquáticos e espécies, bem como o inter-relacionamento entre os especialistas do setor e público em geral.

Exemplo disso é o Curso de Formação em Aquariofilia, a decorrer em maio e junho, dirigido, nesta primeira edição, essencialmente aos associados da APCPAC (Associação Portuguesa de Comerciantes de Produtos para Animais de Companhia), a profissionais que trabalhem com peixes ornamentais, nomeadamente de lojas de animais de companhia, distribuidores, armazenistas, importadores, criadores, prestadores de serviços, instaladores, veterinários, investigadores e técnicos de aquários públicos, assim como os demais profissionais que trabalhem com manutenção de peixes ornamentais em cativeiro.

Se está entre os apaixonados deste belíssimo passatempo que nos transporta ao paraíso, parabéns! Se está curioso para saber o que é isso de aquariofilia, aqui ficam os primeiros passos de um hobby que lhe permite trazer para dentro de casa um pedaço da natureza e mergulhar neste tão diverso e fascinante mundo.

Contrariamente ao que se pensa, a aquariofilia é uma atividade que contribui para a proteção das espécies selvagens, diminuindo o número de exemplares capturados na natureza e permitindo simultaneamente a existência de programas de reprodução das espécies de peixes em extinção.

É a técnica de criar peixes, plantas e outros organismos aquáticos, geralmente em recipientes de vidro, acrílico ou plástico – aquários – com fim ornamental ou de estudo, que faz com que esta atividade se distinga da piscicultura ou aquacultura, direcionadas para a produção. Tal como no paisagismo, requer um senso estético e conhecimentos diversos, como biologia básica (ciclo de nitrogénio), química básica (pH), entre outros.

O aquário, com a sua diversidade de peixes e plantas, além de uma excelente peça decorativa proporciona aos seus aficionados uma terapia ocupacional sem paralelo, sendo inclusive, recomendado pelos clínicos como um ótimo calmante natural. Além disso, quando comparado com outros hobbies ou manutenção de outros animais domésticos, a aquariofilia é, com certeza, a opção mais económica e menos trabalhosa.

Como selecionar e montar um aquário

Manter um aquário proporciona muitas surpresas, é divertido e há sempre algo de excitante para ver em casa. A instalação e manutenção de um aquário natural são atividades simples. A grande variedade de equipamentos e produtos oferecidos hoje em dia pelas indústrias e lojas especializadas tornou a atividade extremamente fácil e acessível para leigos, adultos e crianças.

É essencial descobrir uma boa loja de aquariofilia para apoio inicial, consultar literatura diversificada sobre o tema e recorrer à internet para esclarecer dúvidas que forem surgindo. Antes da compra, o futuro aquarista deverá escolher o local onde irá colocar o aquário. Procurar um local calmo, evitando locais de passagem e ruidosos, sem exposição direta à luz solar.

Os dois tipos básicos de aquários são os dulcícolas (de água doce, quente ou fria) e os marinhos (água do mar, quente ou fria). O mais importante para qualquer iniciado é saber que quanto maior o aquário melhor e mais fácil será cuidar dele.

É verdade que um aquário de água salgada é mais atraente, devido à coloração da água e dos peixes ser mais viva, assim como a vegetação, os moluscos, as estrelas e corais, mas o custo de montagem e manutenção também é mais elevado e carece de maiores cuidados.

É melhor, por isso, começar por um aquário de água doce. Ao longo dos anos os aquariofilistas foram aprofundando os seus conhecimentos e a sua experiência na construção de habitats cada vez mais perfeitos para os seus peixes. Existem no mercado aquários de vários tipos, tamanhos e formas mas a mais adequada é a paralelepípeda pois permite melhores condições de limpeza, manutenção da qualidade da água e uma maior superfície de contacto com o meio exterior. Relativamente ao tamanho, não deve ter capacidade inferior a 30 a 40 litros.

Geralmente fazem parte do aquário alguns equipamentos básicos utilizados na sua manutenção, como sejam, um kit de teste de pH para medir a acidez e alcalinidade da água, um sifão para limpeza, sistema de iluminação (de preferência fluorescente), um termóstato (aparelho fornecido com aquecedor e controlador da temperatura); um aquaSafe (condicionador de água que elimina o cloro, metais pesados e protege a mucosa natural dos peixes) e, de preferência um filtro externo (de capacidade adaptada ao tamanho do aquário).

A água a ser utilizada deve estar livre de qualquer impureza. Para isso é necessário que seja mantido em funcionamento normal durante uma semana, sem peixes, para que as impurezas sejam eliminadas e possa estabelecer-se o equilíbrio biológico no seu interior.

Embora a temperatura, dureza e pH da água devam ser medidos de acordo com as espécies de peixes escolhidos, o pH deverá ser no mínimo de 6,5. Como a maioria dos peixes é de origem tropical, a temperatura da água deve manter-se entre os 24˚ e 28˚C.

Mas um aquário não são apenas os peixes que nele vivem, mas sim um complexo mundo de bactérias e um mundo vegetal composto por plantas e algas, formando um micro universo, um pedaço da natureza. As plantas aquáticas são mais que um complemento para o aquário.

Para além de proporcionarem vida e cor, cumprem funções importantes, tais como oxigenar a água, decompor os poluentes biologicamente, fornecer abrigo aos peixes mais tímidos e funcionar como suporte para a postura de ovos. Ao tornarem o ambiente do aquário mais natural e mais seguro, permitem que o stress dos peixes diminua, melhorando o estado de saúde destes seres.

Quase todas as espécies conhecidas de peixes e plantas podem ser criadas em aquários, desde que sejam respeitados os limites e necessidades de cada espécie, como a temperatura, pH (acidez ou alcalinidade), fotoperíodo, luminosidade, pressão e nível dureza da água (gH).

Escolha das espécies e doenças potenciais

Tão, ou mais importante que a escolha do aquário é a seleção dos peixes. Num aquário comunitário, tal como na vida real, cada espécie tem as suas caraterísticas e necessidades que não se aplicam a todos os coabitantes. Por esta razão é importante não esquecer o comportamento territorial, necessidade de tranquilidade, hábitos de dormir e de alimentação das diferentes espécies e os seus níveis de sociabilização.

Para iniciar a aventura, a melhor opção são os peixes de pequeno porte, como caracídeos (Paracheirodon sp. – neons, Hyphessobrycon sp. – rosáceo, tetra limão, Hemigrammus sp. – rodostomos, Carnegiella sp. – borboleta, Nannostomus sp. – lápis, Moenkhausia sp., entre outros), ciclídeos anões (Microgeophagus sp. – ramirezi, Apistogramma sp.), Corydoras sp. (limpa fundo), Otocinclus sp. (limpa vidro), Phenacogrammus interruptus – tetra do congo, Colisa sp., Trichogaster leeri, Melanotaenia sp., Rasbora sp..

Estas espécies podem coabitar com peixes de maior dimensão como o Pterophyllum sp. – escalares, Symphysodon sp. – discus, Hemiodopsis gracilis – cruzeiro do sul. As opções ficam ao critério de cada um mas, regra geral, devemos manter no mesmo habitat animais de idêntica dimensão.

A maioria dos peixes ornamentais vive em cardumes na natureza e devem ser mantidos em grupos de pelo menos 6 a 12 exemplares no aquário pois, desta forma, ficarão menos apáticos, mais sociáveis e atrativos.

Deve ser dada particular atenção ao local de exposição e venda dos espécimes. A higiene da loja é um indicador do nível de preocupação com o bem-estar dos peixes. Jamais deverá adquiri-los em lojas que não aparentem boas condições de habitabilidade, aquários sujos ou peixes apáticos, sem vitalidade. Comprar animais doentes pode ser fatal pois irão transmitir a doença aos restantes habitantes do aquário.

Infelizmente, até nas melhores condições de manutenção podem surgir doenças. É importante reconhecer-lhes os sinais, classificá-las e tratá-las corretamente. São para isso necessários alguns conhecimentos básicos relativos às doenças que ocorrem mais frequentemente nestes animais quando em aquário.

Consoante o tipo de ocorrência as doenças podem ser diferenciadas entre externas e internas. As externas surgem sobretudo nas barbatanas, pele e guelras, e a maior parte é detetada precocemente. Já as internas são mais difíceis de detetar e incluem perda de apetite, comportamento de nado peculiar, apatia e mudança de cor (sobretudo coloração escura).

Podem ser de origem vírica (Lymphocystis), bacteriana (doença columnaris, apodrecimento das barbatanas, apodrecimento bacteriano das guelras, bactérias aeromonas ou pseudomonas, hidropisia) ou fúngica (micose). Podem ainda ser causadas por flagelados (protozoários), ciliados (parasitas), vermes platelmintes (Plathelmintes), sanguessugas, crustáceos ou infeções mistas.

Um diagnóstico correto é um pré-requisito para que o tratamento seja bem sucedido e a ação rápida aumenta consideravelmente a perspetiva de cura. Os peixes enfraquecem consideravelmente com as doenças. Após o tratamento, é fundamental uma terapia vitamínica complementar a fim de os fortalecer, para que se possa manter a plena fruição do aquário e seus habitantes, saudáveis e plenos de vitalidade.

Manutenção, o segredo de um belo aquário

Uma boa manutenção do aquário é o fator decisivo para o bem-estar dos seres que habitam o ecossistema nele contido. água sem qualidade, turva, com falta de oxigénio, excesso de detritos e plantas a definhar, provocam o aparecimento imediato de doenças e, consequentemente, a morte dos seus habitantes.

A frequência das intervenções de manutenção num aquário é determinada por fatores como o seu tamanho, a quantidade e diversidade das espécies e acessórios instalados. Atualmente, a tecnologia permite limitar o tempo de intervenção a duas ou três horas anuais. No entanto, para a maioria dos aquariofilistas esta é uma atividade agradável onde gostam de ter um papel ativo durante algumas horas por mês.

Entre os cuidados diários incluem-se o ligar e desligar a iluminação (o ideal será instalar um temporizador regulando-o para manter as luzes ligadas durante 8-10 horas), verificar a temperatura da água, as condições de funcionamento do filtro, e alimentar os peixes 2 a 3 vezes por dia (em quantidades que possam ser consumidas num curto espaço de tempo).

Dos cuidados semanais fazem parte as mudanças de água. Dependendo do volume da população de peixes e do tamanho do aquário, deve ser feita uma mudança parcial da água semanalmente e proceder à análise da sua qualidade bem como testes aos nitritos, pH e kH.

De acordo com as necessidades, deve proceder-se à remoção das folhas de plantas mortas ou a apodrecer, podá-las ou desbastá-las, remover as algas dos vidros, sifonar o areão e proceder à filtragem e limpeza dos filtros, verificando a eventual necessidade da sua substituição. Semestralmente deve proceder-se à substituição das lâmpadas fluorescentes, ainda que aparentem estar em bom estado.

A manutenção do aquário consiste essencialmente, em recriar o habitat das plantas e dos peixes ornamentais de acordo com os padrões da natureza onde se desenvolveram e ao qual se adaptaram, de forma a viverem em condições salutares podendo, inclusive, procriar. Para o efeito, tudo deve funcionar na perfeição, razão pela qual importa conhecer alguns dos erros mais frequentemente cometidos pelos iniciantes na aquariofilia, e que convém evitar a todo o custo.

Erros a evitar na aquariofilia

Um dos maiores erros cometidos na aquariofilia é a não aclimatização dos peixes quando são adquiridos e colocados pela primeira vez num aquário. Estes devem ter um período de adaptação progressiva ao novo ambiente e, como tal, devem ser inseridos no novo habitat conforme vêm da loja, isto é, dentro do saquinho com água.

O ciclo de nitrogénio (azoto) é o que garante que o aquário está pronto para albergar peixes, contudo, os iniciantes mostram-se bastante ansiosos em ter peixes e não aguardam que o aquário faça a ciclagem antes de os introduzirem na água. Com os parâmetros da água instável, perdem rapidamente alguns, se não todos os peixes introduzidos. A água da torneira é boa para os humanos, mas é má para os peixes. Nunca se deve despejar água da torneira diretamente no aquário, pois contém muito cloro – substância prejudicial à saúde dos peixes. A água da torneira só deve ser usada depois do respetivo pH ter sido tratado e verificado.

Outro erro comum é adicionar muitos peixes de uma só vez. Toda a gente gosta de ver um aquário cheio de vida e com movimento, mas, muitas vezes, acaba-se por exagerar. O facto de se colocarem muitos peixes no interior do aquário altera o seu equilíbrio químico, o que deteriora a saúde e o bem-estar dos seus habitantes.

Para tudo é preciso um ponto de equilíbrio. Também existe a tendência para colocar muitos peixes juntos, esquecendo a regra de um litro de água por cada centímetro de peixe, isto contando sempre com o tamanho que irão atingir em adultos.

Os peixes têm necessidades diferentes que não se limitam apenas à temperatura ou salinidade da água. Também possuem necessidades diferentes de pH e dureza da água, alguns são territoriais e necessitam de um aquário exclusivo, outros são peixes de cardume que apenas vivem saudavelmente partilhando o aquário com outros da mesma espécie. Assim, antes de juntar peixes, mesmo que da mesma espécie, deve verificar-se a sua compatibilidade.

Dar comida em excesso é outro erro comum. Os peixes não são mais felizes ou mais saudáveis quando têm muita comida. O excesso de alimentação é-lhes prejudicial e desequilibra o próprio aquário. Não implementar uma dieta variada também é prejudicial, sendo uma boa opção pesquisar sobre aquilo que é mais indicado para os peixes escolhidos e introduzir alguma variedade na sua alimentação.

Ter atenção à acumulação da sujidade. É fundamental que um aquário tenha um bom filtro ou até mesmo dois. Assim, diminuir-se-á a frequência de limpeza, que nunca deverá ser superior a 15 dias. As algas que se acumulam no vidro (muitas vezes devido a iluminação não adequada ou demasiado intensa) devem ser raspadas com cuidado, e complementar a limpeza do fundo com um sifão. E não se pense que a inclusão de peixes "limpa vidros" resolverá todos os problemas de sujidade, porque não é o caso. O aquariofilista não se deve descuidar nessa tarefa!

Não existe outro hobby que ofereça a possibilidade de viver diariamente em contacto tão estreito com a natureza. Pode dizer-se até que a aquariofilia resulta na formação de um ser humano mais consciente no que toca à conservação do meio ambiente natural.

Adquiridos os conhecimentos básicos sobre aquariofilia, é altura de mergulharmos nessa aventura que pode levar o aquariófilo ao paraíso, sem sair de casa!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
28 de Novembro de 2024

Referências Externas:

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