Que a aquariofilia é um hobby fascinante que tem vindo a ganhar cada vez mais entusiastas é um facto. No entanto, particularmente no início, nem todos os aquários são fáceis de manter desencorajando assim os menos empenhados.
É o caso do aquário comunitário, ou ornamental. Este tipo de aquário exige um conhecimento um pouco acima do básico para evitar prejuízos e problemas, até porque se trata de um ecossistema em que coabitam peixes e plantas de diversas espécies, provenientes de vários locais do planeta, que é preciso agrupar criteriosamente.
Neste aquário todo o cuidado é pouco, só devendo ser introduzidos peixes e plantas sadios e equipamentos e objetos devidamente desinfetados a fim de garantir a sua integridade. Neste conjunto harmonioso a manutenção do equilíbrio biológico e da saúde dos seus habitantes terá como consequência o alcance da sua plenitude, proporcionando beleza e satisfação ao aquariofilista com os resultados obtidos.
O segredo para o sucesso a longo prazo de um aquário comunitário é, após alcançar esse equilíbrio, ser capaz de assegurar uma manutenção mínima regular, durante anos. Para isso deve ser-se, antes de mais, moderado e cuidadoso no seu povoamento.
Assim, nunca se devem adquirir peixes por impulso, ou porque são bonitos! Até porque o objetivo de um aquário comunitário não é fazer uma coleção de peixes.
Ao montar um aquário comunitário não se deve introduzir qualquer peixe nem qualquer planta. Deve-se estudar, pesquisar, e perguntar, pois trata-se de seres vivos que passarão a estar dependentes do seu cuidado para lhe proporcionar as condições ideais para viver bem dentro desse sistema fechado.
Instalação de um aquário comunitário
Um aquário é uma pequena representação do colorido e impressionante mundo subaquático. É muito decorativo e pode constituir o centro das atenções em qualquer casa. Basta saber como o tornar atrativo e como o manter assim. Para começar, é importante escolher o aquário com a volumetria correta, a sua localização e idealizar a sua decoração.
No que diz respeito ao tamanho do aquário, o princípio é o seguinte: "Quanto maior for o aquário, mais fácil se tornará a sua manutenção".
Quanto à localização, deve dar-se preferência às zonas escuras da casa ou no mínimo afastado das janelas, de modo a não ficar exposto ao calor solar mais intenso. Devem evitar-se a todo o custo as zonas de passagem, e ter por perto algumas tomadas elétricas, para poder ligar as luzes, o filtro, o termóstato e outros equipamentos.
Na decoração, pode dar-se asas à imaginação. Não esquecer o areão, e colocação a gosto de lava ou ardósia, raízes apropriadas, elementos decorativos de plástico, e é claro, plantas. É importante não exagerar na quantidade de material decorativo para que os peixes possam nadar, e as raízes e as pedras devem ser bem lavadas com água quente e uma escova, ou então fervidas.
O areão de fundo é, literalmente, a base do sucesso na manutenção de peixes e de plantas. Garante espaço suficiente para a fixação de bactérias que vão levar a cabo a degradação dos poluentes e, ao mesmo tempo, tem um papel de suporte e de fixação para as plantas. O fundo ideal para o aquário é um areão que seja bastante fértil, com uma granulometria de 3 a 6 mm, numa camada de 6 a 10 cm. Desta forma, não contaminará nem sujará a água.
Deve distribuir-se de modo a ficar com uma inclinação de trás para a frente, o que não só evita que os detritos se acumulem nos cantos posteriores do aquário como torna a limpeza mais fácil.
A água é um elemento vital para os peixes, razão pela qual as suas condições são tão importantes como a alimentação. No tratamento da água da torneira são utilizados vários aditivos, como por exemplo o cloro. Mas para os peixes, estes aditivos são absolutamente prejudiciais, mesmo em pequenas concentrações. Por essa razão, a água da torneira deve ser preparada e tratada com antecedência.
O cloro e os metais pesados nocivos devem ser eliminados. Existem produtos no mercado para esse efeito, garantindo que a água fica em condições ideais para os peixes e plantas.
É da maior conveniência oferecer aos peixes e plantas em aquário um ambiente líquido semelhante ao do local de origem. A qualidade da água está dependente de vários fatores, mas os que mais interessam ao aquariofilista são a dureza de carbonatos (kh), a dureza total (gh) e o grau de acidez (ph). Para controlar estes valores e mantê-los a níveis aceitáveis para peixes e plantas, existem também vários produtos à venda nas lojas da especialidade, a que se pode recorrer.
Quando se utilizarem pedras optar pelo granito e pelo basalto e nunca por pedras calcárias. Quanto a madeira, existe madeira e raízes nas lojas especializadas em aquariofilia adequadas a quase todos os tipos de aquários. A madeira colhida na natureza não foi sujeita ao processo natural de conservação, e acaba por apodrecer no aquário libertando substâncias que poluem a água, não sendo por isso opção a considerar.
Na instalação de um aquário comunitário outro elemento muito influente é a iluminação. Para o aquariofilista a iluminação é importante por razões estéticas, mas para o aquário é importante por outra causa diferente.
A iluminação correta influencia decisivamente o crescimento das plantas. Se não houver uma fonte de luz correta, as plantas param o crescimento, deixando de cumprir as suas importantes funções no aquário. Por este motivo, as lâmpadas incandescentes não são aconselháveis pois fornecem pouca luz e muito calor, devem antes utilizar-se lâmpadas fluorescentes ou lâmpadas de mercúrio de alta pressão.
Depois de colocados todos os elementos decorativos, pode começar-se a introduzir as plantas mas, com o natural entusiasmo da decoração, convém não esquecer que os peixes precisam de espaço, tal como o restante equipamento (filtros e termóstatos).
A seleção das plantas e dos peixes
As plantas aquáticas são muito decorativas. As suas diferentes formas e cores transformam o aquário num jardim subaquático multicolor e variado.
Mas, além de decorativas, as plantas aquáticas são importantes para o aquário por razões distintas: produzem oxigénio e eliminam as substâncias nocivas, como por exemplo as produzidas pelos excrementos dos peixes. Servem também de local para a desova, esconderijo para os peixes mais tímidos, contribuindo para reduzir o stress, e ainda para demarcar limites territoriais.
Num aquário comunitário, os peixes parecem vaguear perdidos de um lado para o outro e o aspeto artificial acentua-se, se não existir uma boa cobertura vegetal. Assim, para um aquário de 100 cm x 40 cm, por exemplo, devem ser utilizadas aproximadamente 80 plantas, sendo que a sua escolha deve basear-se na regra: antes muitas plantas de poucas espécies do que poucas plantas de muitas espécies.
Assim, como plantas de fundo pode optar-se por Vallisneria natans ou Spiralis: formando uma parede, e a ocupar dois terços do comprimento do aquário. Limnófila, Elodea e Hygrophila corymbosa no restante terço e zonas laterais do aquário, e próxima a um canto pode plantar-se Echinodorus Osiris.
Na zona intermédia do aquário as opções vão para o Feto de java, a Hygrophila rosanervig (aparada para não ultrapassar os 15 cm), Bacopa monnieri, Hygrophila difformis (também aparada), e Didiplis diandra. A zona frontal pode ser preenchida com plantas como a Echinodorus tenellus, a Sagitaria subulata, Cryptocoryne willisii ou outras cryptos baixas, e Anubias nana.
As plantas flutuantes também ajudam a enriquecer a paisagem aquática, como é o caso da Riccia, da Pistia stratiotes ou da Salvinia sp. (ocupando cerca de 10-20 por cento da superfície). Em conjunto com rochas e desníveis no areão, estas plantas permitem criar uma complexa paisagem submersa, apreciada pelas pessoas e pelos peixes.
A Ceratophyllum demersum é outra opção, que até pode ser plantada em molhos presos a um lastro, sendo excelente para tapar filtros internos e aquecedores.
A beleza de um aquário com plantas naturais acaba por realçar as cores dos próprios peixes, mas estas também podem apresentar um problema: com uma manutenção correta irão crescer exuberantes. Se por acaso se descurar o aquário durante um mês, ou mais, as plantas de maior crescimento irão tomar conta do aquário e roubar a luz às outras plantas, que morrerão. Manter um aquário com variedade de plantas exige 15 minutos semanais de tesoura e de replantação.
Mas o elemento principal do aquário comunitário são os peixes, que devem ter, entre outras, as seguintes características: efeito decorativo (conseguido se mantivermos espécies variadas, quer nas cores quer nas formas); um comportamento interessante; capacidade de adaptação e tolerância a um leque razoável de pH e dH, e mais importante ainda, compatibilidade entre espécies.
Tal como na vida real, também no ambiente aquático cada espécie tem as suas características e necessidades que não se aplicam a todos os coabitantes. Assim, é importante não esquecer o comportamento territorial, necessidades de tranquilidade, hábitos de dormir e de alimentação das diferentes espécies e que as mesmas se harmonizem entre elas.
Ao iniciar o processo de escolha dos peixes deve ter-se atenção à sua compatibilidade social. As espécies demasiado agressivas ou territoriais, devem ser postas de parte, pois acabariam por perturbar e "stressar" os outros peixes, com as suas constantes brigas.
Outro critério de seleção é que número cada espécie de peixes se deve manter: em cardume, aos pares, apenas um exemplar ou um único macho no mesmo aquário, pois tudo isto interfere na sua sociabilidade.
No que diz respeito ao número de exemplares que se devem manter num aquário, existe uma regra básica: 1 cm de peixe (excluindo a cauda) por cada litro de água. Por exemplo, num aquário de 100 litros podem manter-se 20 guppys de 5 cm cada. Deve-se ter ainda em atenção o tamanho final dos peixes, devendo dar-se uma margem de segurança.
Para que o aquário comunitário se torne esteticamente agradável deve optar-se por peixes que tenham preferência por determinadas áreas do tanque. Há os que preferem nadar junto à superfície, outros gostam mais do terço médio e ainda os que nadam quase sempre junto ao fundo. Existem ainda outros que nadam por todo espaço do aquário.
Outra das razões para se escolherem peixes para os vários níveis da água tem a ver com a alimentação. Os peixes de superfície são alimentados com flocos ou outros alimentos flutuantes. Com a corrente da água ou com a agitação provocada pelos próprios peixes ao comerem, esses alimentos acabam por depositar-se no fundo e apodrecer, caso não existam outros peixes nos níveis inferiores da água que os consumam.
Obviamente existem, e devem ser fornecidos regularmente, alimentos próprios para os peixes de fundo, tais como comprimidos que se afundam rapidamente, ou pastilhas para prender ao vidro. Os peixes que nadam pela zona intermédia do aquário acabam, normalmente, por se alimentar de todos os alimentos referidos.
A maioria dos peixes ornamentais vive em cardumes na natureza, devendo ser mantidos em grupos no aquário para se tornarem mais atrativos. Para conseguir um aquário comunitário bem distribuído pode optar-se por:
Peixes de superfície: Danio Zebra, Gouramis Pérola, Guppys;
Peixes da zona intermédia: Escalar, Tricogaster, Barbos, Néons, Cardinais;
Peixes de fundo: Peixes-gato, Coridoras.
Como exemplo de peixes que nadam por todo o aquário podem citar-se os da família dos Poecilídeos, tais como os Espadas, os Platys, os Guppys ou os Molys. Importa referir que não existem espécies que nadem exclusivamente numa só zona do aquário.
Simultaneamente também deverá ser introduzido algum tipo de peixes herbívoros. Tamanhos pequenos ou médios de Ancistros (ancistrus cf. dolichopterus) e Otocinclus (otocinclus cf. affinis) são ideais para este efeito. Estes peixes estão constantemente a raspar as algas dos vidros, pedras e folhas das plantas. A alimentação de peixes em aquário é, aliás, um assunto que tem muito que se lhe diga.
Alimentação, manutenção e cuidados especiais do aquário
Extremamente sensíveis, os peixes necessitam, além de atenção quanto à água, temperatura, ph, entre outros, cuidados com a alimentação. Justamente por não reclamarem que estão com fome, torna-se um verdadeiro mistério para os criadores e aquariofilistas descobrirem qual a quantidade ideal de ração.
Ao contrário do que se imagina, na natureza os peixes estão adaptados a passar a maior parte do dia com fome, à procura de pequenos pedaços de comida. Regra geral, o criador deve ter em mente que é mais fácil enfraquecer ou até matar um peixe devido à alimentação em excesso do que fazê-los morrer de fome. Há aquariofilistas, inclusive, que defendem o jejum um dia por semana, porque o processo pode purgar o organismo do animal.
Ter sempre em mente que a partir de determinada quantidade, a saúde do aquário é inversamente proporcional à quantidade de ração que ali é colocada. Assim, os peixes devem ser alimentados precariamente com flocos (uma vez por dia), numa quantidade que seja completamente ingerida em dois ou três minutos.
Podem usar-se outros alimentos além de flocos, mas não são absolutamente necessários. Devem evitar-se os alimentos congelados à base de larvas apanhadas na natureza ou alimentos vivos. Embora os peixes os adorem, estes alimentos são uma potencial fonte de doenças.
Mas para que os peixes vivam em condições ideais ao invés de apenas sobreviverem, a manutenção do aquário é outro aspeto importante.
Deve estabelecer-se uma rotina de manutenção e cumpri-la religiosamente, como por exemplo, uma mudança de 30 por cento da água, de 15 em 15 dias, usando sempre um anticloro de qualidade que remova também a cloramina e metais pesados; limpar as algas dos vidros quando necessário e ir podando as plantas que o necessitem.
Uma vez o aquário estabilizado devem ter-se alguns cuidados especiais, como por exemplo, evitar inserir novos peixes ou plantas, pois cada vez que o fizermos existe o risco de contaminação com doenças.
A ter de acontecer, as novas plantas devem ser desinfetadas e mantidas em recipiente à parte durante alguns dias antes de serem colocadas no aquário. Já os novos peixes devem ser, dentro do possível, mantidos sob quarentena. Não sendo praticável, o aquário deve ser tratado preventivamente sempre que sejam adicionados novos ocupantes.
Claramente, os aquários comunitários beneficiam com o princípio "keep it simple". Desde que se tome cuidado com a introdução de novos habitantes e se faça uma manutenção quinzenal é um ambiente fácil de manter e que diariamente apenas "roubará" 30 segundos do nosso precioso tempo, para a alimentação dos peixes.
Um aquário deste tipo está perfeitamente ao alcance de um principiante mais empenhado. Além do grande efeito estético, conseguirá, sem dúvida, tornar-se numa fonte de entretenimento e de surpresas para toda a família.
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