Criada na Alemanha pelo médico Christian Samuel Hahnemann há mais de duzentos anos, a homeopatia rapidamente conquistou o mundo.
Do grego homoispathos, onde homóis significa semelhante e pathos sofrimento, doença, a homeopatia é uma abordagem baseada na doutrina Similia Similibus Curantur (os semelhantes curam-se pelos semelhantes).
Quer isto dizer que na homeopatia as doenças são tratadas com medicamentos que numa pessoa saudável produziriam sintomas semelhantes aos da doença, ou seja, em vez de combater a doença diretamente, os medicamentos têm por função estimular o organismo a lutar contra a doença.
Presentes na vida de muitas pessoas, os medicamentos homeopáticos são cada vez mais uma alternativa de tratamento também para os animais de estimação.
E na homeopatia veterinária os princípios são os mesmos da homeopatia humana – qualquer mal que atinja o corpo é uma forma de desequilíbrio ocasionada por algum tipo de perturbação da energia vital e, para curá-lo, basta restaurar esse equilíbrio.
Parece um pouco complicado e até utópico tratar uma doença com a própria doença, mas a homeopatia é um método de tratamento bastante seguro que consiste na administração de mínimas doses (infinitesimais) do medicamento ao animal doente, evitando intoxicações e estimulando a reação orgânica do próprio organismo contra a doença.
Ainda pouco conhecida e difundida entre os apaixonados pelos animais, a homeopatia veterinária é uma realidade que tem apresentado excelentes resultados práticos, desmistificado alguns conceitos e que até apresenta algumas vantagens em relação à medicina convencional (alopática).
Existe uma falsa crença de que o medicamento homeopático possui uma ação lenta, em que o tempo de resposta do organismo do animal para com o medicamento deixaria muito a desejar, contudo, este é apenas um preconceito gerado pela falta de informação.
Está comprovado que o tempo de reação do organismo é proporcional ao tempo da enfermidade, ou seja, se se estiver diante de um processo agudo instalado em pouco tempo, como uma pneumonia, haverá uma resposta em poucas horas; porém, se ela existir há anos, revelando-se um processo crónico como uma alergia, haverá uma resposta do organismo em algumas semanas e a cura em meses ou anos, dependendo de cada caso.
A escolha do medicamento é feita de acordo com os sintomas do caso, tendo sempre em consideração as características individuais de vida, de alimentação e de ambiente, as causas, o desenvolvimento da doença, a forma do adoecer, as circunstâncias concomitantes, e as características do organismo doente.
Ao contrário dos tratamentos convencionais que levam em conta apenas os sintomas, a homeopatia considera o indivíduo como um todo.
O tutor é o intermediário entre o animal e o veterinário; é quem melhor o conhece e quem pode descrever detalhadamente o seu comportamento normal e reconstruir a sua história, fornecendo informações indispensáveis para a escolha do medicamento mais adequado. Isto não significa, contudo, que apenas os animais de companhia possam beneficiar da homeopatia, pelo contrário.
A homeopatia ao serviço das várias espécies
A homeopatia é utilizada sem dificuldades em todas as espécies, sendo muito eficaz no tratamento dos animais de companhia como o cão, o gato, aves (papagaios, periquitos e canários, principalmente), peixes de aquário, abelhas, roedores (coelhos, hamsters, ratos) e também em répteis (tartarugas e serpentes, principalmente).
Mas os animais de criação (bois, porcos, carneiros, cabritos, etc.) também podem ser tratados pela homeopatia. No caso de uma doença que afeta parte ou todo um rebanho, é possível tratar individualmente cada animal, mas normalmente os animais são analisados como se formassem um único indivíduo, sendo administrado o mesmo medicamento homeopático a todo o grupo. Neste caso a prescrição é determinada a partir da análise dos sintomas mais característicos que todos os animais pertencentes ao rebanho apresentam.
De referir que os animais selvagens também respondem muito bem ao tratamento homeopático.
O objetivo do tratamento homeopático é estimular todo o organismo (física, emocional e mentalmente) à cura, em vez de atacar especificamente os microorganismos.
Muitos tutores ficam preocupados quando os medicamentos ministrados de forma tradicional não apresentam o resultado esperado. O medicamento é trocado, o problema de saúde do animal persiste, e a inquietação do tutor aumenta.
Os médicos veterinários convivem diariamente com diversas enfermidades de saúde em cães e gatos, principalmente. As mais comuns podem ser tratadas pela homeopatia com resultados muito positivos, como por exemplo, as otites, alergias e rinites, dermatites, artrite, artroses, problemas da coluna, gastroenterites, cistites frequentes e outros tipos de complicações urinárias, gravidez psicológica em cadelas ou gatas, outras questões psicológicas e comportamentais, hiperactividade, ansiedade (relativamente comum em cães), pânico, e até na automutilação.
Ao contrário do que as pessoas pensam, a homeopatia veterinária pode ser usada como terapia complementar a doenças graves e incuráveis, como o cancro, por exemplo, e como terapia principal, nos casos menos graves.
A terapia homeopática e as substâncias mais comuns
A homeopatia estimula o sistema imunológico no nível mais básico. Diz-se mesmo que vai à raiz do problema e que estimula o organismo em níveis subatómicos, agindo nas unidades que compõem os elementos das células.
Os medicamentos homeopáticos são elaborados a partir de matérias-primas de origem vegetal, como ervas e plantas (calêndula, arnica e tuia); mineral (cálcio, ouro, prata e cobre); e de origem animal, como a tinta de lula ou o mel, e até de alguns ingredientes exóticos, como veneno de cobra, podendo apresentar-se nas formas líquida (gotas, soluções) ou sólida (glóbulos, pós, comprimidos e até pomadas) embalados em recipientes próprios, protegidos da luz solar.
Em doses extremamente pequenas (infinitesimais), diluídas em água, estas substâncias naturais estimulam o sistema imunológico para permitir a autocura pelo restabelecimento do equilíbrio da energia vital do animal.
Os ingredientes mais utilizados no universo homeopático e as várias indicações são:
Arnica – Auxilia na cicatrização, é ótimo para lesões, hematomas e no traumatismo craniano. Pode ser muito útil na prevenção de acidentes vasculares cerebrais;
Acónito – Inflamações, ansiedade e inquietação, boca seca, calafrios e otites;
Apis – Indicado para reações alérgicas, urticária, inchaço e fechamento da garganta devido a alergia;
Arsenicum album – O arsénico pode ser altamente tóxico, mas nas doses ministradas na homeopatia é um ótimo aliado contra cólicas com vómitos e diarreia, intoxicação alimentar, sepsis, ansiedade e inquietação;
Bryonia – Cólicas, todos os sintomas da “doença do movimento” como enjoo e mal-estar, sede excessiva, vómitos e obstipação;
Calcarea carbonica – Auxilia o corpo na utilização do cálcio tornando-o mais disponível;
Calêndula – Para acelerar a cicatrização de feridas;
Camomila – Problemas de dentição, irritabilidade, cólicas, nervosismo e ansiedade;
Hepar Sulphur – Excelente para as infeções. Se estas forem nos olhos, nos ouvidos, nos pulmões ou na pele, pode ajudar a curar como nenhum outro remédio. É usado para problemas respiratórios, sinusite e abscessos. Ótimo para constipações e gripes;
Hypericum perforatum (Erva de São João) – Muito bom no tratamento de feridas onde as terminações nervosas estejam danificadas. Indicado para lesões no pescoço e na cauda do animal;
Nux vomica – Cólicas, obstipação, sinusite; serve também como digestivo e atua em problemas estomacais caso o animal tenha ingerido algo que não devia;
Pulsatilla – Cólicas, infeções do ouvido e corrimentos;
Ruta – Ótima para contusões musculares e problemas ósseos, cartilagens, tendões. É, normalmente, um dos ingredientes no tratamento de luxações patelares e displasias coxofemorais;
Sepia – Feita a partir da tinta das lulas e polvos, é indicada para cistite crónica, problemas no útero, alterações de humor devido a desequilíbrios hormonais. Também se dá às mães que rejeitam os filhotes.
Apesar de raramente apresentarem efeitos colaterais, os medicamentos homeopáticos devem ser prescritos por um médico veterinário que diagnosticará a doença e escolherá o tratamento mais adequado.
Uma das características desta medicina holística é que cada medicamento é feito de forma individual, exatamente para os males que aquele animal apresenta.
Aliás, para além desta, existem algumas diferenças entre o tratamento tradicional (medicação alopática) e a homeopatia veterinária – e esta sai a ganhar.
Para começar, nos tratamentos homeopáticos em animais de produção de alimentos (leite, carne e ovos) o produto final não sofre contaminações residuais típicas das provocadas pelos medicamentos alopáticos (antibióticos, antifúngicos, anti-inflamatórios, entre outros), nocivos à saúde humana e, consequentemente esses alimentos terão maior qualidade.
A facilidade de administração da medicação é outra vantagem. Todos sabemos quão difícil é administrar qualquer tipo de comprimidos a cães e gatos. Com os medicamentos homeopáticos esse problema não se põe pois podem ser ministrados através de glóbulos de açúcar – que, devido à boa palatabilidade, voluntariamente são ingeridos –, pó, ou comprimidos misturados na comida fornecida aos animais.
Também é possível a forma de administração líquida através de uma ou duas gotas do medicamento diluídas em meio copo de água, que o animal irá ingerindo ao longo do dia (conhecido como método pulso).
No caso de o tratamento se destinar a um rebanho – em caso de surtos ou de prevenção de doenças –, o preparado homeopático pode ser fornecido com o sal mineral.
O custo da medicação é outro ponto positivo. Em comparação com a medicação alopática os medicamentos homeopáticos têm um custo bem inferior e, em muitos casos, dependendo do tipo de enfermidade que acometeu o animal e da sua gravidade, faz-se o tratamento completo do animal com apenas um medicamento.
Pelo exposto fica claro que a homeopatia é uma ferramenta muito versátil, que pode ser utilizada para promover a cura, prevenir doenças, melhorar a qualidade de vida e até mesmo contribuir para uma produção de alimentos mais sustentável e de melhor qualidade para a saúde humana.
Segundo Samuel Hahnemann, “O mais alto ideal da cura é o restabelecimento rápido, suave e duradouro da saúde ou a remoção e destruição integral da doença pelo caminho mais curto, mais seguro e menos prejudicial (…)”.
Quem já experimentou os benefícios da terapia homeopática, dificilmente abre mão das vantagens que ela proporciona, até porque o que realmente importa é a saúde e bem-estar dos animais, não concorda?