Curiosos por natureza, os animais exploram as mais diversas situações tanto dentro quanto fora de casa, sendo uma tarefa quase hercúlea protegê-los dos inúmeros perigos domésticos, e não só, aos quais estão expostos. Ter uma casa à prova de acidentes é uma missão algo exigente pois muitas situações podem passar despercebidas no dia-a-dia – quanto à rua, é um perigo constante e incontrolável.
Alguns acidentes podem ser leves e sem importância, mas outros são graves ou mesmo fatais, em especial para os animais menores e mais frágeis. Como eles na maioria das vezes não têm o discernimento para avaliar situações de risco em potencial, cabe aos tutores diminuir esse risco e mantê-los em segurança.
Entre os acidentes domésticos mais comuns dos nossos amiguinhos de quatro patas estão as intoxicações e envenenamentos. Os casos de envenenamento devem ser sempre considerados como muito graves e urgentes, assim, deve agir de imediato mal suspeite que o seu animal foi intoxicado em casa ou ingeriu um isco com veneno na rua.
Acidental ou intencional, o envenenamento é responsável pela maioria das mortes de cães e gatos superando, inclusive, o número de mortes causadas por atropelamento.
Por definição, “envenenamento são todos os efeitos nefastos às células do organismo por substâncias nocivas que entraram no corpo de alguma forma e que podem causar sérios danos ao indivíduo ou até levar à morte.
Os venenos podem ser ingeridos, aspirados do ar, injetados na veia ou absorvidos na pele, seja acidentalmente ou de forma voluntária. Alguns venenos são potencial ou inevitavelmente mortais; outros podem causar danos variáveis e deixar sequelas graves sem, contudo, levarem à morte. Os efeitos dos venenos sobre o organismo dependem, por um lado, da sua dose e, por outro, do tempo decorrido desde que foram ingeridos.”
Se se deparar com um possível envenenamento não se martirize, pois acontece aos melhores donos! Por vezes, basta virar as costas por um segundo, por se pensar que estava tudo bem e que estavam em segurança, e comem alguma coisa que não deviam. O importante é agir com eficácia e rapidez, e tudo correrá bem.
Para se poder lidar com o envenenamento de um animal é importante perceber, antes de mais, quais os potenciais riscos, e o que pode intoxicar os animais.
Venenos e tóxicos mais comuns
Dentro das nossas casas existe uma variedade de produtos e substâncias que podem ser perigosos ou até mesmo fatais se forem ingeridos pelos animais de companhia.
A administração de medicamentos para humanos a cães e gatos, assim como a aplicação, em gatos, de medicamentos destinados a cães é a causa mais frequente de intoxicações encontradas na prática clínica.
Os medicamentos humanos especialmente perigosos que são frequentemente causa de intoxicação e morte nos animais são os antidepressivos, os anti-histamínicos e descongestionantes, os anti-inflamatórios, antipiréticos e analgésicos constituídos, por exemplo, à base de acetaminofeno (paracetamol), diclofenac, naproxeno e ibuprofeno.
Os gatos são particularmente sensíveis aos inseticidas e aos antiparasitários externos, assim como a medicamentos aplicados na pele, porque se lavam lambendo-se, acabando por ingerir doses tóxicas desses produtos.
O medicamento Pecunasol®, muito usado nos animais de produção, é tóxico para os cães e pode ser fatal para os gatos se não for corretamente diluído, ou se os animais lamberem o produto. Os antiparasitários externos contra pulgas e carraças destinados a cães, por exemplo, os constituídos à base de permetrina não podem ser aplicados em gatos ou outras espécies.
Os pesticidas constituídos, na maioria, à base de organofosforados e carbamatos, os produtos usados como fertilizante de plantas, e os venenos para ratos, lesmas, caracois e outras pragas são uma ameaça para humanos e animais domésticos.
O cão/gato pode pisar e/ou lamber o produto e provocar-lhe problemas de saúde graves, assim, quando haja necessidade, este veneno deve ser colocado em áreas completamente inacessíveis aos animais de estimação.
As tintas, guaches, solventes, vernizes e outros produtos químicos também são perigosos se forem ingeridos ou entrarem em contacto com a pele dos animais. Menos conhecido pela generalidade das pessoas, o etilenoglicol, substância dos anticongelantes usados nos automóveis, é uma causa frequente de mortalidade animal. Tem um odor e sabor muito doce, o que chama a atenção do cão e gato.
Todos os produtos de limpeza que contenham lixívia ou outros químicos, branqueadores e desinfetantes para o chão, os detergentes e amaciadores para roupa, os sabonetes, pastas de dentes e enxaguadores bucais, e as soluções para lentes de contacto, devem ser mantidos longe dos animais de estimação pois são altamente tóxicos.
Muitas plantas comuns, ornamentais e selvagens, que temos dentro e fora da nossa casa também podem ser perigosas para os animais, chegando a ser fatais, como por exemplo: os Lírios, a Azálea e o Rododendro, a Dedaleira, a Estrela de Natal, a Orelha de Elefante, a Costela de Adão, o Antúrio, o Narciso, a Hortência, a Ficus, a Língua da Sogra, a Árvore guarda-chuva, o Cróton, o Jarro, o Aloé Vera, o Trevo, e as Túlipas, entre muitas outras.
Também há alguns alimentos consumidos pelas pessoas que podem ser perigosos ou potencialmente fatais para cães e gatos devendo, por essa razão, ser mantidos fora do seu alcance e não lhe serem dados a alimentar.
O chocolate, pastilhas elásticas, doces e gomas, adoçantes, alimentos com alto teor de gordura, cebolas, alho, sal, pimento, chá, bebidas alcoólicas, refrigerantes, batatas, ossos (especialmente os de aves, pato, frango e coelho), massa de levedura, uvas e passas, as sementes de fruta, e o abacate, entre outros, não devem fazer parte do cardápio dos nossos companheiros de quatro patas.
O caixote de lixo deve ser mantido devidamente fechado e acondicionado para evitar que os animais lhe acedam pois os restos de alimentos apodrecidos também podem causar envenenamento alimentar.
Para além dos mencionados, em casa, há outros perigos para os nossos amiguinhos, como a naftalina, pilhas alcalinas e baterias, moedas (as que contêm zinco), o tabaco e seus derivados, tomadas e fios elétricos, e pequenos objetos que possam ser facilmente engolidos como botões, joias, agulhas, berlindes, pregos, parafusos, etc.
Apesar de os perigos serem imensos, na prática clínica as intoxicações mais frequentes nos gatos são as causadas por medicamentos de uso humano ou destinados a cães, e a ingestão de lírios, enquanto que nos cães prevalecem as intoxicações por pesticidas, veneno dos ratos, e por chocolate.
A aumentar o problema dos envenenamentos está o facto de ser difícil saber a causa da intoxicação – a menos que se presencie o momento em que o animal lambeu, ingeriu ou inalou a substância, o que é muito raro.
Sintomas e primeiros socorros aos animais
Os sinais de intoxicação no cão e no gato podem variar muito, conforme o tipo de veneno. Geralmente os sistemas de órgãos mais afetados são o digestivo, o renal, e o hepático. Verificam-se ainda alterações da coagulação e do Sistema Nervoso Central.
A existência de vómitos, diarreia, hipersalivação, náuseas e inapetência devem fazê-lo suspeitar de uma intoxicação que afetou o trato gastrointestinal;
Se existir tosse e vómito com sangue, fraqueza e letargia, mucosas pálidas, ritmo cardíaco acelerado, e colapso está perante uma hemorragia interna;
O sistema renal foi afetado se a sintomatologia incluir halitose, inapetência, vómito, diarreia, muita sede, muita urina, ou diminuição da produção de urina;
Por fim, uma intoxicação hepática caracteriza-se por sintomas como icterícia (mucosas amarelas), vómito, diarreia, fraqueza, alterações do estado mental, e sangue digerido nas fezes (borras de café).
Se se deparar com algum destes sintomas, ou desconfiar que o seu animal pode estar intoxicado, deve agir rapidamente mas, sobretudo, corretamente. A primeira atitude é comunicar o envenenamento.
Se viu o animal a ingerir o produto tóxico, ou desconfia do tipo de tóxico que ingeriu, deve tentar remover de forma segura o que resta do material venenoso e proteger o animal de nova exposição. Nestes casos, deve levar consigo a substância que provocou o envenenamento.
Se não sabe o que provocou o envenenamento mas o animal vomitou, leve uma amostra do seu vómito, pois isso pode ajudar o veterinário a identificar o que foi ingerido. Jamais induza o vómito a um animal envenenado – salvo se isso for solicitado pelo médico.
A razão é simples: se o animal tiver ingerido, por exemplo, ácido, produtos de limpeza, ou produtos de petróleo – substâncias que queimam o organismo –, e lhe provocar o vómito essas substâncias irão queimá-lo novamente. Se tiver engolido objetos afiados ou penetrantes, ao vomitá-los pode perfurar-lhe o estômago ou o esófago.
Não dê antídotos caseiros ao seu animal de estimação, por exemplo: leite, comida, sal, azeite, outros… Também não lhe dê água oxigenada sem antes falar com o médico veterinário. Para começar, a água oxigenada dificilmente funciona em gatos.
Enquanto não chega ao veterinário pode dar-lhe um pouco de carvão ativado diluído em água, pois vai atrasar a absorção da substância tóxica que foi ingerida pelo organismo (dose: 1-2 g/kg), e não tem contraindicações.
O produto pode ser comprado em farmácias na forma de comprimidos ou em pó – dê preferência aos comprimidos –, e deve ser administrado mal se verifiquem os sinais de envenenamento no animal: em apenas 30 minutos a substância consegue absorver grande parte das toxinas, o tempo suficiente para procurar o socorro médico.
É importante frisar que o carvão ativado não é um remédio: o produto não pode eliminar, ou aliviar, todos os sintomas de envenenamento. Trata-se de uma medida de emergência, até que uma avaliação clínica possa identificar os sintomas e determinar a melhor terapêutica, e isto só o médico veterinário poderá fazer.
Ao tutor cabe estar atento à saúde e bem-estar do seu animal de companhia e, numa situação de envenenamento, atuar com eficácia e rapidez, essenciais para a sua recuperação.
Todos os minutos contam… não fique à espera, nem tente tratar do assunto em casa. O primeiro passo para salvar o seu animal é comunicar o envenenamento e procurar um veterinário.
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