Mudar é algo necessário para todos. Em alguns casos, é até uma questão de vida ou de morte. Anualmente várias espécies de aves cruzam os céus em busca de melhores condições e garantir as novas gerações. Dependendo da espécie, são centenas ou até milhares de quilómetros percorridos para fugir a um clima desfavorável – um fenómeno conhecido pelo nome de migração.
Se não está dentro do assunto saiba que migração é a deslocação regular e periódica de grandes números de indivíduos entre uma área geográfica de origem e uma outra de destino.
O fenómeno nem sempre foi bem entendido, aliás, até ao início do século XIX as teorias para explicar o desaparecimento de populações de aves durante parte do ano eram bastante extravagantes.
Aristóteles acreditava que algumas aves hibernavam ou se transformavam noutras espécies. Na Europa medieval, o aparecimento dos gansos-de-faces-brancas no inverno “explicava-se” pelo seu crescimento nas árvores.
A prova mais concreta de que as aves migravam surgiu em 1822, quando um caçador abateu na Alemanha uma cegonha-branca com um apêndice curioso: uma flecha empalada no pescoço. A flecha era da África Central, o que levou os naturalistas a concluir que a cegonha viajara milhares de quilómetros.
Em 1906, os observadores de aves começaram a pôr anilhas nas patas de cegonhas-brancas, tendo descoberto destinos de inverno, na África Subsaariana.
A migração anual – uma das maravilhas naturais do planeta –, é estimada em 50 biliões de aves, compreendendo cerca de 19 por cento das 10.000 espécies de aves conhecidas até à data. A capacidade para viajarem milhares de quilómetros cruzando barreiras geográficas e ambientais inóspitas é um dos traços mais impressionantes da migração.
Nesta região as aves migradoras chegam entre finais de março e inícios de maio (apesar de haver algumas que possam chegar ainda mais cedo), aqui se reproduzem e, quando o final do verão anuncia a estação fria que se avizinha, rumam a África onde permanecem até ao ano seguinte.
Em busca dos recursos necessários – essencialmente alimento e abrigo – para a sua sobrevivência, as aves procuram chegar tão cedo quanto possível para selecionarem os melhores territórios que permitam uma reprodução bem sucedida. Mas chegar cedo demais também pode ser dramático, principalmente se a meteorologia primaveril for rigorosa.
As aves que nos visitam nesta altura do ano
Entre nós, as andorinhas (andorinhões pretos e pálidos) são das aves mais emblemáticas, mas como elas existem dezenas de espécies migradoras que aproveitam a abundância da primavera portuguesa para prosperar.
Aves como a garça-vermelha, a águia-calçada, o cuco-cinzento, o abelharuco, o rouxinol-comum e o rouxinol-do-mato, o rolieiro, o picanço-barreteiro, o chasco-ruivo, ou a ameaçada rola-brava são alguns exemplos que enriquecem parte dos nossos habitats terrestres, e que pode ficar a conhecer melhor.
Andorinhão-preto (Apus apus) Estatuto de conservação em Portugal: Pouco preocupante
Identificação: Totalmente preto, parece uma grande andorinha, com as asas em forma de foice. Os seus bandos, por vezes ruidosos, dificilmente passam despercebidos.
Abundância e calendário: O andorinhão-preto é uma espécie estival que está presente no nosso território de março a outubro. Muitas das aves que aqui ocorrem encontram-se em passagem de e para o norte da Europa, mas no país também existem importantes populações nidificantes.
Junto às colónias é geralmente uma espécie muito abundante, sendo facilmente vistos bandos de muitas dezenas de indivíduos. Mas também pode ser vista fora das colónias pois a sua grande mobilidade faz com que o andorinhão-preto possa aparecer em quase toda a parte, quando em migração ou alimentação.
Andorinhão-pálido (Apus pallidus) Estatuto de conservação em Portugal: Pouco preocupante Identificação: A cor de “café com leite”, o voo tipicamente mais calmo e a vocalização menos arranhada que a do andorinhão-preto são as imagens de marca deste andorinhão que passa despercebido à maioria dos observadores.
Abundância e calendário: O andorinhão-pálido é uma espécie bastante comum em Portugal, apesar de a sua presença nem sempre ser detetada devido à confusão com o andorinhão-preto. Em algumas zonas do litoral, esta é mesmo uma espécie dominante, particularmente na Beira Litoral, na Estremadura e no Algarve. Tal como os restantes membro da sua família, é uma ave estival. Os primeiros indivíduos observam-se a partir de meados de março, estando a espécie geralmente presente até outubro.
Chasco-ruivo (Oenanthe hispanica) Estatuto de conservação em Portugal: Vulnerável
Identificação: O macho adulto caracteriza-se pelos tons alaranjados, contrastando com a máscara e as asas pretas. A cauda tem as penas centrais pretas, sendo as restantes penas predominantemente brancas. Os machos de chasco-ruivo ocorrem em duas formas – a forma clara, na qual a máscara apenas abrange a zona ocular; e a forma escura, em que a máscara também abrange o queixo e a garganta. Em Portugal predominam as aves da forma escura. A fêmea é mais acastanhada.
Abundância e calendário: Apesar de não ser muito numeroso, o chasco-ruivo pode ser localmente comum, sobretudo nas zonas áridas do interior. Frequenta terrenos incultos com algumas pedras e também eucaliptais jovens. É um migrador estival, que pode ser observado em Portugal de março a setembro.
Abelharuco (Merops apiaster) Estatuto de conservação em Portugal: Pouco preocupante
Identificação: A sua profusão de cores, bastante invulgar entre as aves portuguesas, dá um toque de exotismo à avifauna.
É uma ave terrestre de tamanho médio cujos aspetos mais característicos são a garganta amarela, o peito e o ventre azulados, o dorso vermelho e a máscara preta. A cauda é comprida, com as duas penas centrais a destacarem-se das restantes.
Abundância e calendário: O abelharuco é estival e chega ao país no início de abril (por vezes em finais de março), estando presente até ao mês de setembro. É comum em quase toda a região a sul do Tejo, e menos comum a norte do rio distribuindo-se sobretudo pela metade interior do território, nas zonas de influência mediterrânica (Beira Baixa, Beira Alta e Trás-os-Montes).
Rouxinol-do-mato (Cercotrichas galactotes) Estatuto de conservação em Portugal: Quase ameaçado
Identificação: A característica mais marcante deste insetívoro é a cauda ruiva com pontas pretas e brancas, que ostenta frequentemente levantada. A tonalidade geral do corpo é pálida, sendo mais escuro no dorso que no peito. Possui um padrão facial bem marcante, com uma lista ocular e um bigode escuros.
Abundância e calendário: Esta ave é uma migradora estival tardia, podendo ser observada entre o princípio de maio e o mês de agosto. É pouco comum e de distribuição restrita ao quadrante sueste do território, ocorrendo sobretudo em vales de zonas secas, junto a rios ou a ribeiras temporárias, com algum mato, e em vinhas de zonas quentes.
Rouxinol-comum (Luscinia megarhynchos)
Estatuto de conservação em Portugal: Pouco preocupante
Identificação: Castanho e algo incaracterístico, o rouxinol-comum não é uma ave muito fácil de identificar visualmente. A longa cauda arruivada, visível principalmente em voo, contrasta com os tons acastanhados do dorso. É sobretudo pelo seu canto interminável, muito variado e com várias sequências de notas, que a ave se faz notar e pode ser identificada.
Abundância e calendário: É uma ave estival que faz ouvir o seu canto a partir de finais de março ou princípios de abril. Em junho já se ouve pouco e em agosto viaja para África. Bastante frequente em Portugal, a espécie esconde-se geralmente no meio de vegetação densa e raramente pousa à vista.
A sua abundância apresenta importantes variações a nível regional – no litoral norte e centro é escasso, mas no interior norte e centro é muito abundante, tal como no litoral sul e em certas zonas do Algarve.
Estes são apenas alguns exemplos de aves migradoras que nos visitam todos os anos por esta altura do ano, mas também há algumas que aparecem no outono.
A península de Sagres, no extremo sudoeste de Portugal, é uma das zonas mais interessantes no país para a observação de aves.
Com mais de 250 espécies registadas ao longo dos anos, é o local mais emblemático a nível nacional para ver a migração outonal de aves planadoras, passeriformes, aves marinhas, entre outras.
As migrações de outono
O fenómeno ornitológico mais relevante da península de Sagres é a migração pós-nupcial. Devido à sua localização geográfica, a área regista uma elevada abundância e diversidade de aves migradoras, de agosto a novembro.
Estas aves são principalmente planadoras e passeriformes, mas também de outros grupos, como rapinas noturnas. A maioria delas está em viagem entre os seus territórios de nidificação europeus, a caminho de áreas de invernada na África subsariana.
As linhas de costa e vales adjacentes encaminham-nas para a península de Sagres, onde se congregam, podendo utilizá-la como ponto de paragem. Daqui podem seguir para Este ao longo da costa sul, presumivelmente até Gibraltar, ou tentar a travessia de cerca de 400 km de mar, até ao continente africano.
Muitas das aves que chegam a Sagres são juvenis ou imaturas. Para alguns Sagres é a “planície das aves perdidas” pois as aves mais jovens, durante a migração, são empurradas pelos ventos do quadrante Leste indo ali parar, meio perdidas, desviadas da sua rota principal.
Seja como for, vários milhares de aves passam pela região e muitas aproveitam para descansar e recarregar energias para o resto da viagem.
Durante a migração de outono há algumas aves que vale a pena ver. As grandes estrelas são as rapinas como por exemplo a águia-cobreira, que até se deixa ver com alguma facilidade, o abutre-do-Egipto, o falcão-abelheiro (muito difícil de ver no país mas que migra a baixa velocidade) e o abutre-preto.
O destaque vai também para as cegonhas-pretas, o chasco-cinzento e as várias espécies de petinhas e toutinegras.
Todos os anos há a possibilidade de se avistarem algumas raridades, havendo registos de observações de aves como o ganso-de-faces-pretas, grifo-pedrês, águia-da-Pomerânia, tartaranhão-pálido, alfaneque ou falcão-lanário, gaivota-de-Sabine, Alcatraz-pardo, felosa-listada, e papa-moscas-real.
Para aumentar o grau de consciencialização da população acerca da importância das aves migradoras celebra-se no segundo fim de semana de maio o Dia Mundial das Aves Migratórias – um marco simbólico que coincide com a parte final da migração de primavera, numa altura em que a maioria das aves está em plena época de nidificação.
Lançado em 2006, o dia é celebrado anualmente em 65 países com o objetivo de sensibilizar as populações para a conservação das aves e seus habitats, cada vez mais ameaçados, e realça a importância e necessidade de cooperação entre organizações, decisores, e cidadãos para alcançar o objetivo.
Nesse dia, por todo o mundo, são organizados eventos, festivais, programas educativos e visitas para observação de aves, para celebrar a efeméride. Se tiver oportunidade vá também celebrar a grande maravilha natural da migração de aves. Não se vai arrepender!
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