Uso do cigarro eletrónico perturba o microbioma nasal
As funções do nariz vão além de permitir cheirar e moldar os nossos perfis faciais. O nariz atua ainda como um guardião do trato respiratório, impedindo que bactérias e outros patógenos saiam da passagem nasal e se instalem nos pulmões.
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Tal como o microbioma no trato intestinal e na pele, o precioso equilíbrio entre colónias bacterianas, fúngicas e virais benéficas no nariz pode ser interrompido. Esse desequilíbrio, denominado disbiose, pode levar ao crescimento excessivo de bactérias nocivas e pode predispor as pessoas para doenças respiratórias, como a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) e a asma.
Uma investigação, onde participou Elise Hickman, da Faculdade de Medicina da UNC, permitiu descobrir que o uso de cigarros eletrónicos e de cigarros comuns pode causar um desequilíbrio no microbioma nasal. O estudo, publicado na revista Nicotine and Tobacco Research, pode ser importante para entender as implicações imunológicas dos vaporizadores e do tabaco.
Descobriu-se que a composição do microbioma nasal varia dependendo do sexo, do uso de cigarro eletrónico versus cigarro comum e da quantidade de biomarcador de nicotina presente no sangue.
As descobertas justificam uma investigação mais aprofundada sobre porquê e como o uso do cigarro eletrónico desregula o sistema imunológico no microbioma nasal e causa o desequilíbrio no microbioma respiratório.
Sabendo que o microbioma respiratório suporta a defesa imunológica respiratória, os investigadores queriam saber se a disbiose no microbioma nasal, que geralmente está relacionada à doença das vias aéreas inferiores, poderia ser causada pelo uso de cigarro eletrónico ou do cigarro comum.
Para o efeito recolheram e analisaram amostras de fluido de revestimento epitelial nasal de 20 não fumadores, de 28 utilizadores de cigarro eletrónico e de 19 fumadores. Utilizaram, então, o sequenciamento genético para identificar o tipo e a quantidade de bactérias no microbioma nasal.
Conseguiram identificar bactérias diferentes, algumas prejudiciais e outras protetoras, dependendo se as pessoas utilizavam cigarros eletrónicos, fumavam cigarros comuns ou nenhum dos dois. A Staphylococcus aureus, uma bactéria que pode causar pneumonia e outras infeções fatais, foi encontrada em maior número em utilizadores de cigarro eletrónico e em fumadores, em comparação com não fumadores. A Lactobacillus iners – uma bactéria benéfica que pode proteger contra doenças respiratórias – foi encontrada com mais frequência em fumadores do que em não fumadores.
Surpreendentemente, constatou-se que havia diferenças nos microbiomas de utilizadores de cigarro eletrónico do sexo masculino e feminino. Verificou-se ainda que existiam diferenças nas bactérias nasais entre pessoas que tinham níveis altos e baixos de cotinina, um metabólito e indicador de exposição à nicotina.
Segundo os especialistas, os resultados identificaram uma disfunção imunológica única e dependente do sexo associada ao uso de cigarro eletrónico na mucosa nasal.
Sabendo que existem cada vez mais estudos a provar que as mudanças no microbioma nasal podem estar relacionadas a doenças pulmonares e influenciam a saúde, a disbiose no equilíbrio de bactérias nocivas e protetoras no nariz dos utilizadores de cigarro eletrónico deve ser motivo de preocupação.