Perder um ente querido pode acelerar o envelhecimento
Perder alguém próximo, como um membro da família, pode acelerar o envelhecimento biológico, sugere um novo estudo conduzido pela Escola de Saúde Pública Mailman e pelo Centro de Envelhecimento Butler, ambos pertencentes à Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
MATURIDADE E REFORMA
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A investigação, publicada na revista científica JAMA Network Open, permitiu descobrir que pessoas que perderam um dos pais, o parceiro, um irmão ou filho apresentavam sinais de idade biológica mais avançada em comparação com pessoas que não haviam passado por essas perdas.
Para o estudo foram utilizados dados do Estudo Longitudinal Nacional da Saúde do Adolescente e do Adulto, iniciado em 1994. Para medir a perda familiar durante a infância ou adolescência, Allison Aiello e os colegas de investigação acompanharam os participantes por várias ondas e períodos de envelhecimento.
A primeira onda entrevistou 20.745 adolescentes do 7º ao 12º ano, a maioria dos quais tinha entre 12 e 19 anos. Os participantes foram acompanhados desde essa altura. Na última recolha de dados, 24 anos depois, 3.963 participantes realizaram exames de ADN que permitiram determinar as suas idades biológicas. Esta análise foi então relacionada aos relatos de perdas significativas de pessoas próximas.
O estudo analisou as perdas sofridas durante a infância ou adolescência (até aos 18 anos) e a idade adulta (19 a 43 anos). Foi examinado ainda o número de perdas sofridas durante esse período. Dados do envelhecimento biológico foram avaliados a partir da metilação do ADN do sangue.
O envelhecimento biológico diz respeito ao declínio funcional gradual das células, tecidos e órgãos, aumentando os riscos para a saúde. Os especialistas utilizaram marcadores de ADN conhecidos como relógios epigenéticos para medir esse tipo de envelhecimento.
Os resultados sugerem que o impacto da perda no envelhecimento pode ser visto muito antes da meia-idade e pode contribuir para diferenças de saúde entre grupos raciais e étnicos.
Verificou-se que quase 40% dos participantes sofreram pelo menos uma perda na idade adulta entre os 33 e 43 anos. A perda parental foi mais comum na idade adulta do que na infância e adolescência (27% versus 6%). Uma proporção maior de participantes negros (57%) e hispânicos (41%) sofreu pelo menos uma perda em comparação com os participantes brancos (34%).
Chegou-se à conclusão que as pessoas que sofreram duas ou mais perdas tinham idades biológicas mais velhas de acordo com vários relógios epigenéticos. Sofrer duas ou mais perdas na vida adulta estava mais fortemente ligado ao envelhecimento biológico do que uma perda e significativamente mais do que nenhuma perda.
Segundo a autora principal do estudo, a conexão entre perder entes queridos e problemas de saúde ao longo da vida está bem estabelecida. Mas alguns estágios da vida podem ser mais vulneráveis aos riscos de saúde associados à perda, e o acúmulo de perdas parece ser um fator significativo.
Por exemplo, perder um dos pais ou um irmão no início da vida pode ser muito traumático, muitas vezes levando a problemas de saúde mental, problemas cognitivos, maiores riscos de doenças cardíacas e a uma maior probabilidade de morrer mais cedo. Perder um membro próximo da família em qualquer idade representa riscos à saúde, e perdas repetidas podem aumentar os riscos de doenças cardíacas, mortalidade e demência; e os impactos podem persistir ou tornar-se aparentes muito depois do evento.
Os especialistas enfatizam que, embora a perda em qualquer idade possa ter impactos duradouros na saúde, os efeitos podem ser mais graves durante períodos-chave do desenvolvimento, como a infância ou o início da idade adulta.
Ainda não se entende completamente como a perda leva à saúde precária e à mortalidade mais alta, mas o envelhecimento biológico pode ser um mecanismo. Os novos estudos devem concentrar-se em descobrir maneiras de reduzir perdas desproporcionais entre grupos vulneráveis.
Para os especialistas o luto em qualquer fase da vida traz riscos consideráveis à saúde, o que realça a importância de um suporte adequado para indivíduos que enfrentam a perda de entes queridos.